Dan Brown e seu código caça-níquel

Foto: Divulgação













O CÓDIGO DA VINCI

Manoel Augusto Santos
Doutor emTeologia e Professor da PUC/RS

Ninguém nega a enorme repercussão do livro “O Código da Vinci”, de Dan Brown. E agora, o filme. O que dizer? Em primeiro lugar, é uma ficção. Quem o diz é o próprio Brown, no seu site: “O Código da Vinci é uma novela e, conseqüentemente, um trabalho de ficção. Portanto, os personagens do livro e suas ações são obviamente não-reais”. Em segundo lugar, Brown apresenta uma borrifada de fatos, nomes e lugares, que podem desconcertar o menos informado. O livro se apresenta com pretensões de seriedade e de erudição. O autor enumera uma respeitável série de instituições, onde teria efetuado pesquisas, para depois afirmar erros históricos que fariam qualquer membro daquelas corar de vergonha ou de raiva. Quem buscar informações a respeito daquilo que Brown afirma, encontrará uma vasta coleção de erros crassos cometidos por ele. Vê-se que é uma obra muito malfeita, sem nenhuma pesquisa séria e sem nenhum dado consistente.
Seria impossível, neste espaço, enumerar os erros. Por isso, detenho-me num só, a primeira afirmação de Brown: “O Priorado de Sião – sociedade secreta européia fundada em 1099 – existe de fato. Em 1975, a Biblioteca Nacional de Paris descobriu pergaminhos conhecidos como os dossiês secretos...”. O Priorado de Sião realmente existiu? Sim, mas não é nada do que Brown diz ser. Foi criado somente em 1953, em pleno século XX. O pedido de oficialização do Priorado foi efetuado em 1956, na Sub-Prefeitura de Saint Julien-en-Genevois, mediante uma carta assinada pelos quatro fundadores. Um dos fundadores, Pierre Plantard (1920-2000), foi um escritor que buscou a fama através da falsificação de documentos, introduzidos em diversas bibliotecas, especialmente na Nacional de Paris, para apoiar suas fantasias. Inventou que o Priorado existia desde o século XI e que guardava a dinastia merovíngia, da qual ele fazia parte. Teria o direito de restaurar a monarquia na França, da qual ele seria representante. A imprensa francesa desmascarou as imposturas: Plantard criou os falsos “Dossiês Secretos”. Isso tudo foi mostrado também pela BBC, em 1996. O próprio Plantard confessou tudo à justiça francesa. Portanto, uma fraude já desmascarada.
Não pode ser surpresa que a crítica tenha sido implacável: “Este livro é, sem dúvida, o mais tolo, inexato, mal-informado, estereotipado, desarrumado e popularesco exemplar de pulp-fiction” (The Times); “Um insulto à inteligência” (The NY Times); “Os seus erros crassos só podem deixar de indignar um leitor que conheça pouco o assunto” (NY Daily News).
Numa passagem adverte: “Você é historiador de Harvard, e não um autor de literatura de consumo procurando um tema polêmico para faturar uma grana”. Invertida, se aplica exatamente ao livro e a seu autor: “Você é um autor de literatura de consumo procurando um tema polêmico para faturar uma grana, e não um historiador de Harvard”.
O fato é que Jesus Cristo torna a ser vendido, já não por trinta moedas, mas por centenas de milhões de dólares. “O Código da Vinci” merece protestos, não só da fé, mas da razão e do bom senso. É inegavelmente uma história oportunista, anticristã, anticatólica e antiverdade. Aos cristãos algo entusiasmados com o livro ou o filme, vale o aviso de Dante: “Cristãos, movei-vos com mais severidade: não sejais como penas ao vento, e não penseis que todas as águas vos lavem. (...) Sede homens, e não ovelhas enlouquecidas”. Ou seja, caro leitor, se você quer enriquecer um pouco mais uns inescrupulosos, ver calúnias grosseiras e gratuitas, a fé cristã ofendida e a verdade histórica vilipendiada, vá ver o filme.

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