A espera pela Justiça que ninguém agüenta mais

Até quando esperar?

Reprodução: Advogado Gabriel Pimenta, assassinado aos 27 anos em Marabá (PA)















Publicado no
Jornal Opinião de Marabá
Tribunal de Justiça do Pará liberta Nelito Cardoso
Por: Edinaldo Sousa
O acusado de ter sido o principal mandante da execução do advogado Gabriel Sales Pimenta, em 18 de julho de 1982, Manoel Cardoso Neto, o Nelito, ganhou a liberdade ontem, segunda-feira (8), favorecido por sentença prolatada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE), que considerou o caso prescrito.
Os desembargadores das Câmaras Criminais Reunidas seguiram o voto da relatora do processo, Albanira Lobato Bemerguy, que votou pela extinção da punibilidade do crime, concedeu liberdade ao acusado, classificou o caso prescrito e, conseqüentemente, trancou a ação criminal, extinguindo-a.
Gabriel Pimenta foi assassinado a bala quando chegava em casa, a avenida 5 de Abril, na Marabá Pioneira. À época do crime ele havia conseguido reverter decisão de despejo contra 100 famílias de trabalhadores rurais que ocupavam uma área na região do Pau Seco, a qual estava sendo pleiteada por Nelito, tendo o advogado, inclusive, conseguido com que os mesmos policiais que efetuaram o despejo reconduzissem os trabalhadores rurais à área.
Paradoxalmente, Gabriel Pimenta conseguiu a liminar no TJE, que agora emite sentença pela prescrição do crime e coloca em liberdade o principal acusado de ser o mandante da morte do jovem advogado.
“Acenderam uma vela para Deus e outra para o diabo”, desabafou ontem, na Redação do Opinião, o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de Marabá, José Batista Gonçalves Afonso, referindo-se à atual situação do caso.
A expressão revela uma curiosidade: o próprio presidente do TJE, desembargador Milton Augusto de Brito Nobre, segundo a CPT, se empenhou ao máximo para prender Manoel Cardoso Neto e para que este fosse submetido a júri popular, entretanto a decisão de ontem, tomada pelo próprio TJE, caiu como uma ducha fria nos planos das entidades ligadas aos Direitos Humanos, que cobram punição para Nelito.
Na época do assassinato de Gabriel Pimenta, Nelito chegou a ser preso, mas foi posto em liberdade imediatamente. Após longos anos nas gavetas da Justiça Estadual, o caso voltou a tramitar e o júri foi marcado para o dia 23 de maio de 2002, porém o fazendeiro não compareceu. Nos dias 15 de fevereiro e 27 de março deste ano, novamente o julgamento não aconteceu pelo mesmo motivo.
Nelito foi preso na manhã do dia 2 de abril deste ano em uma das 63 fazendas do irmão dele, o ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. A prisão foi efetuada por uma equipe de policiais chefiados por agentes federais de Marabá.
A expectativa era de que ele fosse julgado ainda neste mês de maio, mas o Ministério Público Estadual, representado pelo promotor Antônio Lopes Maurício, recomendou o arquivamento do processo, ao considerar que o crime, foi cometido 24 anos atrás, e que o acusado já está com 83 anos de idade. O juiz da Comarca local não acatou a recomendação, mas o Tribunal de Justiça concordou com Maurício.

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