A diversidade do pensamento

IMPRENSA EM CHEQUE

Do site Direto da Redação

* Mair Pena Neto

O Observatório Brasileiro de Mídia, que faz um acompanhamento semanal da cobertura da mídia impressa sobre as eleições presidenciais, mostrou que da primeira semana oficial de campanha até o dia 25 de agosto, o noticiário dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense foi preponderantemente negativo em relação à candidatura de Lula e majoritariamente positivo para com o candidato tucano Geraldo Alckmin.

A análise do Observatório leva em conta apenas as notícias, não considerando artigos, colunas e editoriais, o que permite imaginar que o resultado seria ainda mais adverso ao candidato-presidente, caso estas seções fossem incluídas.

Enquanto os jornais repetem com a candidatura de Lula a atitude que mantiveram durante praticamente todo o seu governo, a opinião pública parece ter tomado caminho oposto. Pelas pesquisas eleitorais de todos os institutos, Lula não pára de subir e já atingiu 50% das intenções de voto. O seu governo, que já chegou a ser considerado ótimo e bom por 52% dos eleitores, agora tem a aprovação de 48%, um índice considerado elevado pelos analistas.

Quem estaria cego, o povo ou a mídia? Esta questão e a dicotomia entre noticiário e intenção de voto impõem uma reflexão obrigatória aos jornalistas como formadores de opinião. Se passaram os últimos três anos batendo no governo e o que disseram não foi assimilado e até recusado pela maioria da população, parece haver um distanciamento preocupante entre a imprensa e seu público.

A mídia deveria parar para pensar sobre se o que pensa e transmite é do interesse do seu público leitor e se ele acredita no que lê, vê e ouve. Seria necessário também um pouco de humildade para não se considerar dona da verdade, o que vale para veículos e jornalistas.

Acredito que em primeiro lugar, o jornalismo deva resgatar o seu papel de transmissor das informações e não de dono delas. Ao receptor, interessa a mensagem e não quem a transmite. Quando um jornalista afirma que o presidente ou o ministro lhe disse tal coisa, está se colocando acima da notícia. O presidente ou ministro lhe disse determinada coisa porque ele representa um veículo que atinge um grande número de pessoas. Não lhe confidenciaria nada para ficar em segredo.

Outra questão relevante é a pluralidade de pontos de vista. Os grandes jornais brasileiros tornaram-se monolíticos em termos de opinião. Todos fizeram exatamente a mesma oposição ao governo Lula e não levaram em conta o que a população estava achando. Pior, endossaram e foram partícipes da expansão da idéia de que este foi a o governo mais corrupto da história, como se ignorassem a prática comum do caixa dois e a pregressa história política brasileira.

Não se trata de aliviar deslizes éticos ou corrupção deslavada, mas de contextualizá-las devidamente. No processo de linchamento do atual governo, a imprensa quase transformou em heróis personagens do caráter e da trajetória política de Roberto Jefferson.

A imprensa tradicional precisa refletir também sobre novos meios de informação à sociedade. Sites e blogs proliferam diariamente na web, com opiniões que contrariam o pensamento único que parece vir movendo a grande mídia nos últimos tempos.

Não acredito que a mídia tenha perdido sua influência e relevância, mas das duas uma: ou deslocou-se inteiramente da opinião pública ou agiu de forma deliberada, defendendo determinados interesses. Qualquer das duas opções é preocupante para o futuro e mesmo o presente do jornalismo brasileiro.

* Jornalista - Coordenador de Empresa e Negócios da Agência Reuters

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