Debate no SBT: Sonífero para a audiência! - Parte II

O novo debate foi bom, mas não deverá mudar situação

Política para Políticos - Resenha Empresarial

Alckmin menos agressivo e Lula mais solto mantêm o equilíbrio do confronto
Geraldo Alckmin não foi tão agressivo como no debate anterior e Lula mais à vontade, recorreu até a ironias contra seu adversário, chegando a definir a campanha da oposição como de "uma nota só" por fixar-se muito em corrupção. Se não foi marcado pela agressividade, o segundo debate entre os dois candidatos, ao menos mostrou a preocupação de ambos em revelar diferenças. Lula recorreu várias vezes a dados que levou numa folha de papel, enquanto Alckmin usou basicamente os elementos numéricos ou não que tem utilizado nas suas intervenções.

A tensão foi menor, mas da avaliação que seus staffs fizerem vai depender o tom do próximo, último e decisivo debate na TV Globo, a dois dias da eleição.

Corrupção - O debate começou praticamente com as denúncias de corrupção no governo apresentadas por Alckmin. Lula justificou-se: "Se as coisas acontecem (ou aparecem) é porque se pune mais nesse governo, enquanto o governo anterior costumava "empurrar CPI e denúncias para baixo do tapete. No meu governo, fazemos investigações doa a quem doer".
Na tréplica, Alckmin negou que sua campanha seja de uma nota só, a corrupção no caso. "É um samba de 125 milhões", fazendo uma referência ao eleitorado e não desistiu de abordar as denúncias. Foi quando protestou contra a demora no resultado das investigações do dossiê contra tucanos. "São 43 dias desde o começo da crise. A sociedade tem o direito de saber". Para Alckmin, a corrupção no governo não teve um caso isolado, mas foi endêmica desde o começo, citando vários casos.

Mudou o estilo - Apesar das provocações, ironias e farpas, o debate continuou diferente do realizado na TV Bandeirantes. Lula, mesmo recorrendo às anotações em vários momentos, procurou mostrar tranqüilidade e algum humor, enquanto Alckmin sem abandonar a postura crítica continuava menos enfático do que na vez anterior, mas mantendo firmeza.

O debate começou em torno da agricultura, segundo o sorteio de temas, permitindo ao candidato oposicionista criticar o governo por não ter entendido sua importância econômica e social, pois o setor atravessa uma crise. Lula viu na crítica uma injustiça, oferecendo alguns dados. Alckmin, porém, não abandonou o tema corrupção e logo voltou a ele insistindo sobre a origem do dinheiro para pagar um falso dossiê que visava o PSDB, dizendo que a sociedade brasileira merece explicações sobre os R$ 1,7 milhão (cerca de US$ 800 mil) encontrados em poder dos envolvidos.

Saindo da posição defensiva, Lula aproveitou o tema de segurança para lamentar que São Paulo tivesse sido atingida pela ineficácia do governo na repressão à violência. E voltou a lançar outra farpa: "Se em doze anos de gestão em São Paulo não conseguiu resolver o problema, como vai conseguir no Brasil".

Outros temas - A estratégia de Lula no debate, independente do tema, era a de mostrar segurança e ironizar, sempre que possível o adversário numa postura inteiramente diferente do debate anterior. Assim, quando se discutiu saúde pública e, diante da argumentação do candidato tucano que é médico, ele saiu-se com essa: "O Alckmin não usa saúde pública. Eu sei o que é saúde pública e sei o que desejamos para nós e para nossos filhos."

Segurança esquenta - Num tema delicado e atual como o da segurança, o candidato tucano falou sobre suas realizações como governador nessa área. "Tiramos 90 mil bandidos da cadeia. Investimos em 130 mil policiais. Fiz minha parte. O problema é que o governo (federal) só prende o quinto escalão da droga. Tem de combater o tráfico e não faz. Da mesmo forma o contrabando de armas. A omissão é total. O governo (federal) cortou toda verba, reduziu metade fundo de segurança. Se eleito eu não vou me omitir. Vou descontigenciar recursos, combater lavagem, de dinheiro."

Aí, Lula voltou ao estilo que adotou como estratégia, rebatendo novamente com ironia: "Pelo amor de deus, povo de São Paulo, não ouça porque vão pensar que vai ter um PCC no Brasil inteiro. Depois de 12 anos, não conseguiu fazer em São Paulo, como vai conseguir fazer no Brasil?"

Lula voltou a falar , mais tarde, sobre saúde e a dizer que a "elite" não conhece o problema da saúde pública, sendo contestado por Alckmin. Lula retrucou: "Sei como é saúde e estou cuidando dela como não foi cuidada no Estado de São Paulo e quando vocês governaram o país por oito anos. Dobramos praticamente tudo. Estamos fazendo aquilo que vocês não fizeram." Alckmin não silenciou, voltando a destacar o que fez em São Paulo e o trabalho do ministro José Serra.

De volta - Foi quando Geraldo Alckmin retomou a ofensiva voltando a debater corrupção para enumerar os vários escândalos que atingiram o governo Lula. "O governo precisa dar exemplo para a sociedade. Precisa dar exemplo para a criança e para jovem. O que vimos não foram fatos isolados. Vimos uma questão endêmica. Desde o Waldomiro Diniz até a CPI dos Correios, mensalão, GDK, o escândalo da Gtech, da Visanet maculando a imagem do Banco do Brasil, da Secom, onde milhões e milhões de reais desapareceram culminando com a questão do dossiê. Foram presos dirigentes do PT. Agora mesmo o presidente da CPI diz que é dinheiro da corrupção, do crime (usado no caso dossiê). A sociedade merece explicações."

Privatizações - Explorado nos últimos dias, o tema privatizações foi usado por Lula, que chamou Alckmin ao debate em torno do assunto. O candidato tucano defendeu algumas políticas de privatização, especialmente na telefonia: "A privatização teve avanços. Quem tinha telefone antes da privatização? Hoje, 90 milhões de brasileiros têm telefone celular. Se estivesse errado, ele (Lula) devia ter estatizado. Não tem nenhum problema. Privatizar, se for correto, deve ser feito."

Mas a ênfase maior envolveu o crescimento econômico. Alckmin tomou a iniciativa de colocar o tema em discussão e citou reportagem da revista "The Economist" que media o crescimento de 27 países emergentes e que colocava o Brasil à frente apenas do Haiti.

Lula discordou e atacou primeiro Alckmin para depois entrar no assunto. Disse que o candidato tucano era dotado de inteligência colonizada e que fazia parte de uma categoria de brasileiros que só valoriza informação que sai no "The New York Times" e garantiu que o Brasil se preparou para crescer, sem mágica, sem pirotecnia, inclusive com muita credibilidade externa. E insistiu em que o país não deve ser comparado nem ao Haiti nem à China, mas a si mesmo.

Economia - Um dos pontos mais questionados, além da corrupção, foi o do gasto público. Alckmin pregando sua redução para baixar os juros e estimular o crescimento da economia e Lula atacando a política econômica do governo passado. Alckmin questionou Lula sobre o pagamento dos juros da dívida, que teria aumentando na gestão petista em relação a FHC e foi adiante dizendo que "não é mais possível ter o Bolsa Banqueiro". Lula logo respondeu afirmando que prefere ter os bancos fortalecidos e emprestando dinheiro para população de baixa renda a ter instituições quebradas.

O presidente-candidato aproveitou ainda para questionar a proposta apresentada pelo economista Yoshiaki Nakano que colabora com o plano econômico de Alckmin. "Estou vendo o Nakano dizer que vai cortar R$ 60 bilhões. Quero saber como, num orçamento que o governo tem R$ 450 bilhões, como vai fazer todo esse gasto para agradar pequena parcela da elite?"
Alckmin rebateu dizendo que Lula reduziu investimentos na área da social, mas gasta de forma ineficiente. "Eu vou cortar gasto. Porque se não cortar gasto, não dá para cortar juro. Você está vendo a diferença: ele não vai cortar gasto, vai manter 30 ministérios. O Aerolula custou R$ 150 milhões, mais que o orçamento de quatro ministérios. Tem que dar exemplo. Com menos gasto, com gasto de qualidade é possível ter imposto mais baixo, câmbio mais competitivo."

Encerramento - O espaço reservado para as considerações finais ensejou mais oportunidade para cada um dos candidatos reafirmar posições. Geraldo Alckmin dizendo que o PT teve sua oportunidade "e que nós vimos, sob o ponto de vista ético, um descalabro. Sob o ponto de vista de crescimento, o Brasil deixou passar oportunidades ficando parado com crescimento de 2%."
Lula pediu que o povo refletisse sobre os dois projetos em discussão no país. Segundo ele, de um lado, há um candidato que depois de governar o país oito anos e São Paulo 12 anos não fez o mesmo que o seu governo em quatro. E citou muitos números positivos de sua administração especialmente no campo social.

A nove dias da eleição o debate serviu mais para Lula do que para Alckmin por uma razão: não houve impacto capaz de influir nas pesquisas de opinião e de alterar a posição do eleitor. Ainda que o candidato da oposição mostrasse firmeza e domínio de muitos dados, nenhuma revelação será capaz de repercutir e gerar mudanças. De qualquer maneira foi um bom debate, com uma guerra de números, ritmo, bem conduzido, mas sem surpresas. E estas são sempre importantes às vésperas da decisão.

Fique atento / Bastidores
Aécio alerta sobre riscos do caso dossiê não ser esclarecido antes da eleição
Para o governador reeleito, Aécio Neves, o presidente Lula poderá se "fragilizar" e "ter problemas" caso as denúncias em curso ( o caso dossiê) não sejam esclarecidas antes da eleição no dia 29. "Eu tenho uma grande preocupação: a de que, ao empurrar os esclarecimentos desses fatos, impedindo que as pessoas votem sabendo de onde vieram esses recursos, quais os responsáveis por eles, o governo pode vir a ter problemas lá adiante."

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