Falsas entidades

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, visita o Brasil oficialmente na próxima semana. Será uma visita que pode resultar em bons acordos comerciais entre os dois países, sobretudo no setor de energia alternativa no qual o Brasil tem uma excelente tecnologia no desenvolvimento de motores movidos a etanol, extraído da cana-de-açúcar.

Entretanto, UNE e CUT, duas entidades que pouco têm contribuído para a defesa dos direitos dos estudantes e dos trabalhadores ultimamente, anunciaram que farão protestos contra a visita do principal mandatário americano, “por causa de sua política mundial”.

Embora o governo de Bush e de seus neocons não seja mesmo merecedor de elogios e aplausos - sobretudo em função desta insensata Guerra do Iraque, da qual nem ele mesmo sabe como sair -, é inegável que ele está à frente da nação mais poderosa do planeta e do principal parceiro comercial do Brasil, tanto como mercado importante para exportação dos produtos brasileiros, como para importação de tecnologia americana e também com a presença de várias companhias americanas que atuam no Brasil e geram empregos para milhares de brasileiros.

Até daria para aceitar manifestações orquestradas por UNE e CUT, se elas fossem coerentes. Senão vejamos: no primeiro mandato do governo Lula, elas se calaram convenientemente quando do escândalo do mensalão. Algo que, como toda a imprensa divulgou, foi um dos piores esquemas de corrupção já vistos no país.

O certo seria que entidades que se dizem representantes de segmentos importantes da sociedade brasileira saíssem às ruas para exigir explicações e, se fosse o caso, até mesmo o impeachment do atual ocupante do Palácio do Planalto. Mas, por se tratar de um governo de “esquerda” - alcunha que o próprio Lula faz questão de rejeitar -, elas preferiram ignorar o óbvio e enfiaram as cabeças no buraco tal qual avestruzes para não serem cobradas.

Aliás, é de se estranhar não haver greves no setor público e em setores essenciais, como, se num passe de mágica, a situação dos trabalhadores brasileiros tenha ficado um mar de rosas. E Lula aproveita o momento para sapatear, ao dizer que o governo de ex-sindicalista tem moral para proibir greves em setores essenciais do setor público, antecipando-se ao envio para o Congresso do projeto de lei do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, proibindo paralisações no serviço público. Quem te viu e quem te vê...

A CUT e a UNE também não souberam mobilizar-se quando da visita oficial do presidente Evo Morales, da Bolívia, a Brasília, no mês passado. O visitante foi o mesmo que enviou tropas do exército boliviano para ocupar as refinarias da Petrobras em seu país, por discordar dos contratos assinados pela multinacional brasileira e pelos antigos dirigentes da Bolívia. E, depois de muito bater o pé, ainda foi contemplado com um reajuste portentoso no preço do gás boliviano enviado ao Brasil. Com um detalhe: toda a tecnologia de refino e envio foi desenvolvida pela Petrobras.

Agora, quando da visita de Bush, voltam os velhos chavões anti-imperialistas. Algo que recende a anos 60, discurso velho e embolorado. E este anitamericanismo infantilóide vem sendo denunciado, com ênfase, pelo ex-embaixador do Brasil nos EUA, Roberto Abdenur. O diplomata, que se aposentou após 44 anos de carreira, confirmou as críticas ao Ministério das Relações Exteriores durante audiência pública no Senado, a quem acusa de estar contaminado por posições ideológicas.

Conforme notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo, no dia 27 de fevereiro passado, Abdenur disse que a política externa brasileira vem agindo de forma equivocada ao impor uma postura de "aversão" aos Estados Unidos. "Não há lugar para posturas ideológicas de aversão ou distanciamento em relação aos EUA. A minha crítica maior é que há visão muito empobrecida do Brasil, de um país frágil e indefeso, ameaçado de ser engolido pela Alca [(Área de Livre Comércio das Américas) ou outras iniciativas que partam de Washington", afirmou.

Segundo o diplomata, o Itamaraty vem doutrinando os jovens aspirantes a embaixadores com leituras direcionadas que prejudicam as relações exteriores brasileiras. "Creio que as chefias do Itamaraty não têm o direito de impor suas preferências aos seus subordinados", criticou.

As conseqüências dessas atitudes serão sentidas no futuro, infelizmente...

Comentários

Ricardo Rayol disse…
Coerente e vai direto no ponto.

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