Após quase um século, Esso dá adeus ao Brasil




Com uma agressiva estratégia de marketing no inesquecível Repórter Esso nos anos 50 e 60, a empresa americana se despede do varejo colocando à venda sua rede de postos de gasolina no Brasil num negócio bilionário. Fica apenas com as operações com os ativos de exploração de petróleo e gás.

Petrobras, Ultra, Shell, AleSat, GP e Ashmore disputam postos da Esso

Cláudia Schüffner e Janes Rocha

Antes do primeiro aniversário da aquisição da Ipiranga em parceria com o Ultra, a Petrobras já estuda nova compra. A estatal é uma das seis empresas que apresentaram, na sexta-feira, proposta pela rede de postos da Esso no Brasil ao JP Morgan, banco contratado para a operação. Apesar de nenhuma das interessadas admitir publicamente - a Shell, por exemplo, diz apenas que não comenta "boatos" - também estão no páreo o grupo Ultra/Ipiranga, a Shell, a distribuidora mineira AleSat e os fundos GP Investimentos e Ashmore.

Subsidiária da gigantesca ExxonMobil, a Esso opera no país há 96 anos. Foi autorizada a se instalar dia 17 de janeiro de 1912 por um decreto do presidente Hermes da Fonseca. Já foi a maior do país mas hoje tem 7,2% do mercado brasileiro de combustíveis, segundo dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom). Até agora não são conhecidas as propostas de preço, mas o mercado trabalha com um número básico de US$ 100 milhões por cada ponto percentual de participação no mercado, o que significaria um valor "base" de aproximadamente US$ 700 milhões pela empresa no Brasil, descontadas dívidas e outros passivos.

Fontes do mercado sugerem que entre os interessados, apenas o Ashmore e o GP fizeram proposta pelo pacote completo, que inclui a rede de distribuição (downstream) da Esso no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Os demais querem apenas a rede brasileira

Mas não está claro para observadores externos se a Esso vai aceitar vender sua rede isoladamente em cada um desses países, já que a intenção da americana é se desfazer de toda a sua estrutura na América do Sul, mantendo aqui apenas os ativos de exploração de petróleo e gás. A entrega das propostas na sexta-feira foi a segunda etapa do processo de alienação dos ativos.

Se as propostas forem consideradas válidas, o nome do comprador pode ser divulgado ainda em fevereiro. Mas segundo uma fonte, pode haver um "final run" entre dois ou três competidores, o que estenderia o fechamento para abril ou maio.

Segundo apurou o Valor, o grupo Ultra, que comprou os ativos de distribuição do grupo Ipiranga na região Sul e Sudeste, possui interesse apenas nos ativos da Esso no Brasil e não acredita que haja problemas por causa da concentração de mercado. A empresa passou a deter cerca de 15,6% do mercado nestas duas regiões e, mesmo comprando os ativos da Esso, ainda assim ficaria longe da Petrobras, que tem 46,7% quando somada a rede de postos no Centro-Oeste, Norte e Nordeste comprada da Ipiranga, cuja incorporação ainda depende da aprovação do Cade.

Existe a avaliação de que Ultra teria mais chances na disputa do que, por exemplo, o GP. Isso porque o Ultra teria mais sinergias a serem capturadas por já atuar na área de distribuição. Contudo, o GP tem a seu favor a intenção de comprar os ativos nos cinco países. Procurado, o Ultra apenas reafirmou seu interesse em crescer neste setor no Brasil, analisando todos os ativos. O GP não comenta suas iniciativas de aquisições.

Na Argentina, comenta-se que estariam no páreo para aquisição dos ativos da Esso no país os empresários Marcos Marcelo Mindlin, Eduardo Eurnekian, Enrique Esquenazi e Carlos Miguens Bemberg. Eles pertencem a um seleto grupo de empresários muito próximos aos Kirchners e vêm sendo estimulados pelo governo a investir cada vez mais no setor em uma tentativa de nacionalização dos estratégicos recursos energéticos do país que em sua maioria foram privatizados no governo Carlos Menen (1989-1999). O governo não tem dinheiro para a estatização. Mas eles terão que concorrer pelo menos com Ashmore, sócio da Petrobras Energía na empresa TGS que opera gasodutos, e o GP.

Marcos Marcelo Mindlin é presidente da Pampa Holding, grupo de 23 empresas que atuam em toda a cadeia (geração, transmissão e distribuição de energia elétrica), o maior do país. Ele e outros investidores detém pouco mais de 20% do capital da Holding, cuja maioria das ações está pulverizada nas bolsas de Buenos Aires, Nova York e Luxemburgo. Eduardo Eurnekian é o dono da Aeropuertos 2000, a empresa que detém as concessões dos maiores aeroportos da Argentina.

Bemberg é o ex-proprietário da Quilmes, a principal cervejaria argentina comprada pela AmBev. Após a venda, Bemberg passou a investir em mineração e agronegócios. Enrique Eskenazi, dono do grupo Petersen, acaba de assumir o controle acionário da Repsol YPF, operação em que ele estará investindo quase 80% de todos os seus ativos e que sequer está concluída. Por isso é pouco provável que leve também a Esso.

A estratégia de incentivar empresários locais no setor de energia - uma política não declarada de governo - foi implementada pelo ex-presidente Nestor Kirchner e deve continuar no atual, de sua esposa Cristina Fernández de Kirchner. (Colaborou André Vieira, de São Paulo)

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