Segurança divina

José Rui Teixeira é titular do blog Equinócio de Outono. É um jovem intelectual português de rara sensibilidade.

Vejam que maravilha!

O poeta Guilherme de Faria suicidou-se há 79 anos, no dia 4 de Janeiro de 1929, na Boca do Inferno [em Cascais]. Descalço e com um terço de rezar ao pescoço, com apenas 21 anos, pôs termo à sua vida. Encontrou-o o irmão José, dois dias depois, na Praia do Peixe. Que triste o inverno de 29, em que perdi um amigo… Num dia cinzento como este, sinto saudades do Guilherme, que foi um trovador antigo, um poeta-peregrino que nasceu enfermo de saudade, que viveu enfermo de saudade e que morreu de amor; embalou-o o imenso mar português num dia triste em que o céu desceu ao mar. As palavras são do poeta [Manhã de Nevoeiro, 1927] e servem de epitáfio:

Alma, enfim descansa
Na desesperança.

Alma, esquece e passa:
Dorme, enfim segura
Dessa última graça
Que é toda a ventura.

E à Saudade em flor
Que o teu sonho lindo
Perfumou de amor,
Diz-lhe adeus, sorrindo…

Que Ela há-de escutar-te,
Pálida, a entender-te!
E, no espanto enorme,
Sonhando envolver-te,
Triste, há-de embalar-te
– «Dorme… dorme… dorme…» –
Como a adormecer-te.

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