Peculiaridade na maneira de transitar em praias além oceânicas



















Mesclando rap, slam e jazz, com referência à canção francesa, Ab Al Malik é umas das revelações de 2006.


Desde o fim da Segunda Guerra Mundial a França, definitivamente linkou-se com os Estados Unidos da América. Os músicos de Jazz e Big Bandas americanas eram idolatrados pelos franceses.

Apesar do distanciamento francês como aliado da hora dos americanos determinado pela política externa contra a hegemonia ianque desde o governo do socialista François Mitterrand, e seus sucessores, marcou um certo afastamento dessa realação. Basta reler a postura dos dirigentes franceses contra o envio de tropas ao Iraque. E a França nunca foi vítima de uma tentado como o sofrido pelos espanhóis e ingleses nessa guerra contra o terrorismo.

Passando ao largo desse Epopéia, um segmento interessantíssimo de músicos franceses adoram o Hip-Hop e o Rap -- estilos -- nascidos nos guêtos das maiores cidades americanas em meio à miséria e violência de países do Terceiro Mundo, ou, no neologismo: Emergentes.

Nascido nos guetos negros americanos nos anos 70, o rap desembarcou nas ondas francesas em 1984. Mas foi só no final da década que um rap especificamente francês surgiu com as primeiras improvisações no rádio dos grupos NTM, Assassin e do cantor MC Solaar, cujas letras engajadas decodificavam os males da sociedade: racismo, precariedade e violência. Nos anos 90, o gênero cindiu-se em várias vertentes: o rap contrário ao sistema, com reivindicações por vezes violentas (NTM, Ministère Amer, etc.); um rap comercial e dançante (Alliance Ethnic, Ménélik, etc.), desprezado pelos puristas; enquanto um rap responsável e poético (MC Solaar, Iam, etc.) abria uma terceira via. A partir de 2000, o rap enriqueceu-se ainda mais com o surgimento de novos artistas e a democratização de estilos como o slam, poesia contemporânea declamada em cena.

Os bem-comportados
Graças a seu primeiro CD, que vendeu 400.000 exemplares, Grand Corps Malade transformou um gênero confidencial – o slam – em um fenômeno de grande público. No disco Midi 20 (2006), esse jovem de vinte e nove anos escande seus poemas urbanos à capella*, abordando os mais diversos temas, como a exclusão social, o amor e os testes a que a vida nos confronta. As palavras são contundentes, mas o humor não perde o otimismo. Uma sede de viver que Grand Corps Malade tira de sua história pessoal: paralisado durante dois anos em conseqüência de um acidente esportivo, ele conseguiu voltar a andar. Completamente conquistado por sua singularidade, o meio profissional deu a ele dois prêmios Victoires de la Musique: melhor artista e melhor álbum do ano de 2006 na categoria revelação.

Na mesma linha, Abd Al Malik faz papel de filósofo dos tempos modernos. Esse artista de origem congolesa, que pôs um ponto final em seu passado tumultuoso (na juventude, oscilou entre a delinqüência e o extremismo religioso) defende hoje um rap pacifista, que prega a tolerância e incita ao diálogo entre os homens. Seu estilo musical mescla rap, slam e jazz, com referências às figuras lendárias da canção francesa, como Jacques Brel. Seu segundo disco, Gibraltar, foi consagrado como “o melhor álbum de música urbana” de 2006, durante o último Victoires de la Musique.”

Menos presente na mídia, Rocé também defende um rap dito “consciente”. Símbolo vivo da mestiçagem cultural (tendo, ao mesmo tempo, origens argelina, russa, argentina, judaica e muçulmana), ele aborda com força, mas cuidadosamente, seus temas prediletos: passado colonial, imigração e identidade. No cruzamento entre hip-hop e jazz, seu último disco, Identité en Crescendo (2006), inova musicalmente.










Keny Arkana, Oxmo Puccino e a compilação Planète Rap


Os provocadores
Encabeçando a lista dos rappers franceses mais controversos, está Joey Starr. O grupo NTM, que formou com Kool Shen em 1989, é emblemático desse rap contrário ao sistema dos anos 90. Oito anos depois do fim do grupo, Joey lançou seu primeiro disco solo, Gare au Jaguar, em outubro de 2006. Apesar de seu discurso ser bastante virulento, ele desenvolveu uma consciência cidadã, convidando os jovens a votar.

Visto como “menino mau” na meio do rap francês, Booba é um dos maiores vendedores de discos da França. Seu terceiro álbum, Ouest Side (2006), vendeu mais de 200.000 cópias. Booba é freqüentemente associado ao estereótipo do “rapper bandido” à americana, fazendo apologia à violência e ao tráfico. Um discurso voluntariamente cínico, que acusa a sociedade de não oferecer, segundo ele, outra escolha aos excluídos do sistema.

O rap no feminino
Famosa desde o final dos anos 90, Diam’s contribui para a feminização dos temas do rap francês. Esta jovem de vinte e seis anos de origem cipriota conseguiu impor sua energia e sua escrita incisiva em um meio dominado por homens. Em Brut de Femmes (sucesso do ano de 2003), não temeu romper o tabu da violência conjugal e do sexismo da periferia. Em 2006, Diam’s engaja-se de novo, atacando o mal-estar social e acusando a extrema direita (Dans ma Bulle, melhor venda de álbuns de 2006, com 600.000 exemplares vendidos). Personalidade íntegra e generosa, Diam’s transcendeu as fronteiras do rap transformando-se em porta-voz de toda uma geração. Muitas vezes comparada a Diam’s por seu temperamento combativo, Keny Arkana, marselhesa de vinte e quatro anos, revelada em 2006, define-se como “uma contestatória que faz rap”. Em seu primeiro disco oficial, Entre Ciment et Belle Étoile, esta militante anti-globalização, “marcada a ferro quente” por uma infância difícil, expressa sua raiva. Ela denuncia as desigualdades em escala planetária, mas também volta seu olhar para a juventude dos bairros abandonados. Uma artista em carne viva, cujo talento promete.

O rap tem…
Versão jazz: Oxmo Puccino Figura de destaque do rap parisiense nos anos 90, conhecido por seus “freestyles” (ou improvisações) no rádio, Oxmo Puccino fez sua grande volta ao cenário musical em 2006, com o lançamento de Lipopette Bar. Esse disco jazzístico foi composto com a colaboração dos quatro músicos do grupo francês Jazzbastards. Desenhando um universo metafórico, Oxmo Puccino mergulha o ouvinte num ambiente noturno de cabaré. Cada título conta uma histórica que põe em cena personagens diretamente saídos de um filme policial em preto e branco.

Versão pop: TTC Depois de nove anos de existência, o grupo TTC continua a cultivar um estilo pop de “grande público”, muito distante dos discursos engajados. 3615 TTC, lançado no início de 2007, tem letras leves, impregnadas de um machismo que adere facilmente à pele do rap, acompanhadas por ritmos eletrônicos.

Versão tecno: DJ Mehdi Compositor hip-hop, autor de músicas de grandes nomes do rap, como Akhenaton ou MC Solaar, DJ Mehdi orientou-se para a música eletrônica. Lucky Boy, lançado em 2006, revela uma música na qual confluem funk e tecno.

Na Internet: sites oficiais dos artistas, nos quais há biografias, fotos, trechos de músicas, vídeos, fóruns, etc.

Abd Al Malik: www2.abdalmalik.fr
Grand Corps Malade: www.grandcorpsmalade.com
Keny Arkana: www.keny-arkana.com
Oxmo Puccino: www.oxmo.net
Rocé: www.identiteencrescendo.net
* Sem acompanhamento de instrumentos.

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