Sucessão na Câmara e no Senado

Fortes emoções aguardam o fim das eleições municipais. É que logo após o pleito outra disputa aguerrida tomará de assalto o palco do noticiário nacional com a sucessão para a presidência na Câmara e no Senado. Dois dois cargos mais estratégicos do Brasil e que coincidirá, ao fim da legislatura, com a sucessão do presidente Luis Inácio Lula da Silva.

O blog recomenda a leitura do artigo do editor-chefe do jornal Correio Braziliense, Alon Feuerwerker, que resume o tom da disputa e a chance dos contendores.

Decifra-me ou te devoro

Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo

O senador Tião Viana (PT-AC) é candidato a presidir seus pares no próximo biênio. Se conseguir, vai comandar o Congresso Nacional no período crítico da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Será uma missão e tanto. Será também um privilégio e tanto, para um parlamentar que representa um estado pequeno e nem pertence à maior bancada do Senado, a do PMDB.

Viana tem se movimentado bastante nos últimos tempos. Sua última iniciativa é tentar levar senadores da oposição para bater um papo com Lula no Palácio do Planalto sobre os grampos telefônicos imputados à Agência Brasileira de Inteligência e que capturaram uma conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO).

Se ele conseguir fazer a oposição subir a rampa, terá sido uma grande vitória. É exatamente a oposição no Senado quem coloca os maiores obstáculos à postulação presidencial do senador acreano. Como é que PSDB e DEM vão ter cara para vetar Tião Viana depois de pisarem na sala do poder conduzidos pelas mãos dele? Vai ficar complicado.

A tática de senadores tucanos e democratas é alegar que o PMDB, como maior partido, deve ter garantida a Presidência da Casa. O próprio PMDB, porém, tem dúvidas. Prefere não brincar em serviço e assegurar o comando da Câmara dos Deputados para Michel Temer (SP). Esse é o detalhe que abre uma avenida para Viana. Avenida que ele vem percorrendo com tenacidade e boa dose de naturalidade.

Bem, por enquanto, mantivemo-nos no terreno da grande política, que o grande público, paradoxalmente, costuma entender apenas como politicagem. Os meneios e floreios da sucessão no Senado interessam aos políticos e a nós, jornalistas. Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo.

O Senado Federal vem exibindo nos últimos tempos uma invejável (ainda que só para ele próprio) capacidade de ignorar a opinião pública. Tome-se como exemplo a recente série de reportagens do Correio sobre licitações suspeitas. A Casa tem preferido fingir-se de morta, na esperança de que a investigação perca fôlego e o caso acabe, como outros, arquivado.

Entretanto, o que parece ser apenas esperteza pode se provar, com o tempo, uma bomba de efeito retardado. Especialmente quando, e se, o Ministério Público decidir movimentar-se e dar continuidade ao belo trabalho desenvolvido pela Polícia Federal. Seria mais inteligente se o Senado, mesmo que silenciosamente como é de sua tradição, operasse as mudanças administrativas que gritam por acontecer. Antes que isso tenha que ser feito a quente, com a Casa de costas para a parede.

Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Qual é a relação entre a necessidade de reformas no Senado e a candidatura de Tião Viana à Presidência da Casa? Toda. Há uma forte corrente de bastidor entre os senadores para arrastar o acreano a um acordo. Essa corrente poderia ser resumida mais ou menos como segue. “Nós o elegemos, desde que você deixe tudo como está. Ou, na pior das hipóteses, você inventa aí algumas mudanças cosméticas, desde que o essencial permaneça como está.”

A questão-chave da próxima sucessão no Senado é se Viana vai aceitar ou não essa imposição. Como político ambicioso e pragmático, ele com certeza procurará um caminho intermediário. Fará concessões para obter apoios sem os quais sua candidatura não dará nem para a largada. A dúvida é até que ponto irão essas concessões. No sutil e brutal jogo de poder do carpete azul da Câmara Alta, será curioso observar se Viana decifrará a esfinge ou será por ela devorado. E a esfinge não dorme em serviço, continua agarrada ao poder como a ostra que não desgruda do rochedo de jeito nenhum.

Eis um espetáculo para assistir de camarote. Quando sentou interinamente na cadeira, depois da saída de Renan Calheiros (PMDB-AL), Tião Viana moveu-se rapidamente para demarcar um campo, definir um estilo, buscando para si os louros da renovação e da transparência. Isso lhe conferiu musculatura, mas despertou desconfianças no establishment senatorial. Que naturalmente foge da ruptura assim como o diabo foge da cruz.

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