Viés ideológico de Ana Júlia custa caro ao Pará

Prejuízo à mão armada
Violência e invasão de terras produtivas pelo MST provocam impacto econômico sem precedentes no Pará
Claudio Dantas Sequeira

FAROESTE Militantes do MST bloqueiam estrada perto da Fazenda Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, e depois destroem carro (abaixo): perdas de R$ 12 milhões mensais

O conflito armado entre militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e seguranças da Agropecuária Santa Bárbara em Xinguara, no sábado 18, alarmou os produtores do Pará. O tiroteio na fazenda do banqueiro Daniel Dantas mais pareceu uma cena de filme de faroeste. Sete manifestantes e um vigilante ficaram feridos, um carro foi destruído e jornalistas foram usados como escudos humanos.

Diante da crescente violência na região, a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), apresentou na Procuradoria- Geral da República um pedido de intervenção federal no Estado, pois a governadora petista Ana Júlia Carepa é acusada de não cumprir 111 mandados de reintegração de posse. "Estamos vendo no Pará a era do absolutismo. A governadora pretende ser o Executivo, o Legislativo e o Judiciário", criticou Kátia. "A lei deve ser cumprida, pois o regime democrático exige a manutenção do Estado de Direito e a separação dos poderes."

Ao invadir áreas produtivas, em um Estado onde sobram terras para a reforma agrária, o MST torna-se um problema econômico. Além dos prejuízos produzidos pela própria invasão, a nova postura dos sem-terra irá obrigar os pecuaristas a investir em medidas preventivas, cujos custos certamente serão repassados ao preço de seus produtos.

Antevendo prejuízos insanáveis com as ações do MST - só a Santa Bárbara estima perdas de R$ 12 milhões mensais com as invasões -, os pecuaristas planejam a criação de um fundo destinado à contratação de empresas de vigilância privada para protegerem suas fazendas. A ideia foi apresentada pelo deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) durante reunião da bancada com Ana Júlia na sede do governo. "Os bancos privados, por exemplo, têm sua segurança", argumentou Queiroz. Pe la proposta, o valor da contribuição se rá de R$ 1 por hectare. O proprietário de 10 mil hectares, por exemplo, contribuirá com R$ 10 mil para o fundo.

Esta semana, a reação dos pecuaristas chegará ao Congresso. Na quarta-feira 29, a Subcomissão de Intermediação de Conflitos Agrários da Câmara pretende aprovar a convocação dos ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. Os parlamentares querem saber que tipo de medida já foi ou será tomada pelo governo federal para resolver a crise no Pará. Levantamento feito por ISTOÉ, com base nos dados do Incra, mostra que foram assentadas 187 mil famílias em Belém, Marabá e Santarém. Mas a capacidade de assentamento é de 257 mil famílias.

Os parlamentares também estão preocupados com o fato de o MST estar recorrendo às armas nos conflitos mais recentes. O uso de armas de fogo por sem-terra é uma triste novidade até para o ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, há dez anos na função. "Não faz parte do histórico do MST andar armado", diz. "O fato de o movimento social usar armas é uma preocupação. A probabilidade de assassinatos é maior."

Colaborou Hugo Marques

Como virei escudo humano

"Corri com o microfone levantado para mostrar que era jornalista"

Victor Haôr, repórter da TV Liberal Marabá

"No sábado 18, soubemos que os semterra teriam se apropriado de um caminhão da Agropecuária Santa Bárbara e feito o motorista refém. Teriam tentado invadir a sede da fazenda pela manhã, sem sucesso. Resolvemos ir ao local em voo fretado pela Santa Bárbara. Fomos eu, o Edinaldo Souza, do jornal Opinião; o João Freitas, da TV Livre, e o Felipe Almeida, repórter cinematográfico da TV Liberal Marabá. Chegando lá, falamos com o motorista, que confirmou o sequestro. O caminhão foi abandonado na mata.

Quando retornávamos para a sede da fazenda, vimos os sem-terra na estrada. Estavam bastante exaltados. Gritavam palavras de ordem, soltando rojões. Tentaram tomar o equipamento do Felipe e pegaram a câmera de outro jornalista. Mandaram o Felipe, o Edinaldo e o João seguirem na frente do grupo. Eu fiquei logo atrás com o segundo grupo dos sem-terra. Um deles trazia uma espingarda e eu sabia que os seguranças da fazenda também estavam armados.

Marchavam com determinação e nós lá no meio. Ficamos ali como escudos humanos. Quando chegamos perto da porteira, os sem-terra pularam e avançaram num Fiat Uno dos funcionários. Viraram o carro, quebraram tudo. Outros avançaram contra os seguranças. O Felipe já tinha ultrapassado a cerca e eu estava próximo a um curral quando começou o tiroteio.

Corri para me proteger, com o microfone levantado para mostrar que era jornalista. O tiroteio durou de oito a dez minutos. Temi por minha vida e pela do Felipe, que ficou no centro do confronto. Quando tudo parou, ouvimos gritos dos feridos. Havia corpos no chão. Vi o Índio (o sem-terra Waldecir Nunes), que estava ferido e gritava muito.

Vi também o segurança baleado. Fomos até a pista de pouso. O primeiro avião saiu com o segurança ferido, o Índio, o Felipe e outro segurança. Depois saiu outro avião menor, com dois sem-terra presos pelos seguranças. Eu, o Edinaldo e o João passamos a noite na fazenda. A polícia só chegou de madrugada."

Fonte: Revista Isto É.

Comentários

carlos ars disse…
Gozado... Nenhuma referência à nota do MST sobre o episódio, que aliás pode ser lida aqui:

http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6660

Também nenhuma referência ao ato que um grupo de entidades, incluindo o MST, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a CPT (Comissão Pastoral da Terra) realizará na manhã desta terça-feira (28/4), em Belém (PA), para denunciar a tentativa de execução de trabalhadores rurais no estado, publicada no link abaixo:

http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6705

Sequer o blog procurou saber a versão do jornalista Vitor Haor, repórter da TV Liberal - afiliada da TV Globo -, que depôs ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará e, em seu depoimento, negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como "escudo humano" pelos Sem Terra, bem como desmentiu a versão - propagada pela Liberal, Globo e outras emissoras - de que teriam ficado em cárcere privado, durante conflito na fazenda Santa Bárbara, em Xinguara, que também pode ser lido aqui:

http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6704

Que engraçado, não? O blog pretende comentar um assunto sem abrir todas as luzes sobre o mesmo. Será preguiça? É chato, porque obriga aos leitores -- aos não preguiçosos, é claro! -- a tarefa de buscar o outro lado da história para contrapor à propaganda folhetinesca que nos chega travestida de matéria jornalística!

Se é para isso que tantos lutaram pela liberdade de imprensa, então certamente lutaram em vão! Eis que a liberdade concedida não foi usada: continuam, boa parte dos que pretendem "noticiar fatos" a apresentar somente uma das faces dos acontecimentos.

A face, inclusive, que está ligada diretamente a seus interesses ou aos interesses de quem eles defendem por mero serviçalismo, tal qual o clã Marinho e suas "organizações" defenderam nos anos da Ditadura Militar.

Para toda essa gente, a democracia é apenas um incômodo. Na mente deles -- e de muitos generais e torturadores que hoje estão em casa, de pijamas e com reumatismo! -- as questões sociais se resolvem debaixo do cassetete da polícia e das balas dos jagunços... Por eles, tudo seria como sempre foi. E como, infelizmente, ainda é.

A pergunta que fica é: porque perder tempo escrevendo um blog para repetir a mesma opinião fascista que já predomina nos rádios, tv e mídia impressa em geral? É preguiça? Comodismo? Ou vontade de conseguir (ou manter) um medíocre empreguinho que lhe garanta uma vidinha classe média sendo mais realista que o rei?

Enfim... A resposta a todas estas questões eu não tenho. Tenho apenas a certeza de que o jornalista, uma vez mais, desdenhou da verdade e da inteligência dos leitores travestindo em conteúdo jornalístico um mero panfleto de propaganda fascista.

Reitero: para ser jornalismo, teria de buscar a verdade, que ser democrático, que buscar os dois lados da história.

Saudações de quem acredita que a liberdade se constrói com a busca pela verdade...
Carlos obrigado por mostrar as outras versões do assunto.
O blog tem mais o que fazer do que ficar buscando as versões de um grupo de criminosos.

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