Operação segura-Sarney

Ação deflagrada por Lula ainda na Líbia sustentou o peemedebista no comando do Senado. À noite, já em Brasília, petista comemorou a decisão, que, por ora, mantém o apoio do cacique do PMDB a Dilma

Sarney: tropa escalada por Lula conseguiu preservar, pelo menos por enquanto, a parceria entre PT e PMDB


O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), começou o dia de ontem enfraquecido, disposto a renunciar. Chegou a dizer a aliados que não tinha mais condições políticas de governar a Casa. No início da noite, no entanto, a situação mudou. Senadores petistas foram em bloco conversar com Sarney. A tese do afastamento perdeu força graças a uma operação deflagrada da Líbia pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversa telefônica, Lula pediu ao senador que não tomasse uma decisão antes de conversarem pessoalmente em Brasília. Para garantir a permanência do aliado no cargo, Lula(1) foi além. E escalou um time de peso a fim de impedir que o PT engrossasse o coro pela licença de Sarney.

A mando do presidente, entraram em campo a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Os três dispararam ligações a petistas e peemedebistas nos quais reafirmaram a necessidade de preservar a parceria entre os partidos, considerada estratégica para a disputa em 2010, e de combater a oposição, que estaria agindo de olho na sucessão presidencial. Uma série de fatores levou à contra-ofensiva em defesa de Sarney. Conforme revelou o Correio na semana passada, Lula não quer o aliado magoado com o PT e o governo, o que prejudicaria a candidatura de Dilma.

Além disso, não deseja reviver a disputa renhida entre petistas e peemedebistas pela Presidência do Senado. Hoje, admitem auxiliares do presidente, seriam grandes as chances de um oposicionista ou de um “nome ético” ou dito “independente” vencer o páreo. As consequências disso seriam problemas para o Planalto, como o início dos trabalhos das CPIs da Petrobras e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Interesses particulares de caciques do Congresso também deram fôlego à campanha em favor de Sarney. Presidente da Câmara, o deputado Michel Temer (PMDB), por exemplo, quer ser vice na chapa de Dilma. Ele sabe que, em caso de tensão entre PT e PMDB, será mais difícil conquistar a vaga.

Cartada
Já os líderes do PMDB e do PTB no Senado — respectivamente, Renan Calheiros (AL) e Gim Argello (DF) — jogam uma cartada para se manter no controle da Casa. Os dois têm consciência de que, se Sarney cair, eles voltarão à planície também. E, pior, serão os próximos alvos da avalanche de denúncias que assola o Legislativo (leia mais na página 3). Ontem à noite, ministros e líderes comemoravam o resultado da operação segura-Sarney.

Principalmente, o fato de a bancada petista ter seguido à risca as regras ditadas por Lula. No início do dia, o líder Aloizio Mercadante (PT-SP) chegou a declarar que pediria ao peemedebista que se licenciasse do cargo durante investigações sobre as irregularidades da Casa.

Essa sugestão não foi formalizada graças à atuação do trio formado por Dilma, Dirceu e Carvalho e ao fato de Sarney ter negado tal possibilidade. Em conversa com petistas, ele foi claro: tudo ou nada. “Estou nas mãos de vocês. Vocês decidirão o meu futuro.” Futuro que, a depender de Lula, dos ministros, e do PT já está selado. “O governo é PMDB, é Sarney, temos que segurar o cara. Vamos jogar com o recesso”, orientou Dilma, segundo relato de um parlamentar.

1- “TAPETÃO” OPOSICIONISTA
Antes de embarcar de volta para o Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, na Líbia, que a oposição pede o afastamento de José Sarney (PMDB-AP) porque quer ganhar a Presidência do Senado no “tapetão”. “É importante para DEM e PSDB, que querem que ele se afaste para o Marconi Perillo (PSDB-GO e primeiro-vice-presidente do Senado) assumir, o que não é nenhuma vantagem para ninguém. A única vantagem é para o Perillo e para o PSDB, que quer ganhar o Senado no tapetão. Assim não é possível. Isso não faz parte do jogo democrático.”

Fonte: Correio Braziliense.

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