Disseminação da corrupção e impunidade, ainda é a regra na América Latina, diz Ipys

“Quanto mais se investiga, mais aparece”

Trabalhos jornalísticos mostram a diversificação e disseminação da corrupção, mas a impunidade ainda é a regra na América Latina

Sylvio Costa, Congresso em Foco

Principal tema dos trabalhos selecionados pelo Ipys, seja para o prêmio, seja para a conferência, a corrupção provou mais uma vez ser um fenômeno amplamente disseminado na América Latina. Impossível citar todas as belas reportagens apresentadas no encontro. Mas que se registre que operações irregulares ou o descaminho de recursos públicos grassam à esquerda e à direita.

Na polícia do Rio ou em programas sociais, em círculos próximos a presidentes ou na zona de fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina (a famosa tríplice fronteira). Na Colômbia de Álvaro Uribe, no Peru de Alan García, no Equador de Rafael Correa, na Venezuela de Chávez, no Brasil de Lula, na Argentina dos Kirchner, no México de Felipe Calderón etc.

“Surpreende a diversificação da corrupção”, observou logo após o término da conferência o jornalista Ricardo Uceda, diretor do Ipys e um dos mais renomados jornalistas peruanos. “Em vários países, há roubo em programas sociais de governos populistas. Vimos aqui como o jornalismo investigativo mostrou a Igreja Católica envolvida em operações ilícitas, trabalhos sobre ONGs corruptas, países em que o próprio presidente foi pego com a mão na massa...”

Para Uceda, os jornalistas estão fazendo a sua parte, “em muitos casos trabalhando à frente do Estado”. O problema, no seu entender, é a impunidade: “Muitas vezes, depois de publicado o fato, o Estado não faz nada”.

Dos casos jornalísticos relatados na conferência, somente um terminou com a punição completa dos envolvidos. Os acusados foram afastados dos seus cargos, condenados pela Justiça (a até 31 anos de prisão), e os fatos divulgados contribuíram para a queda do governo (do socialista Felipe González). O único porém é que isso não aconteceu na América Latina, mas na Espanha (saiba mais sobre o caso Roldán).

Apesar disso, o presidente do Ipys, o escritor e colunista político Mirko Lauer, vê razões para otimismo. Na opinião dele, a avalanche de denúncias sobre mau uso de dinheiro público na América Latina e no Caribe pode ser um sinal de progresso. Um sinal de que a imprensa pode estar trabalhando melhor. “Quanto mais se investiga, mais aparece. Se não aparecia antes, é porque não se investigava”, disse ele durante a conferência.

Mike Reid, da revista The Economist e jurado do prêmio Ipys, deu a impressão de ser menos otimista. “O que está acontecendo em alguns países da América Latina é um retorno da propaganda. Alguns governos na região cinicamente desqualificam qualquer investigação e não estão interessados nos fatos, por isso o jornalismo é mais difícil do que nunca”, analisou.

Ele e outro jurado do prêmio, Geraldo Reyes, defenderam ainda mais investigação jornalística de empresas privadas envolvidas em casos de corrupção.

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