A Amazônia sem mata: novo modelo econômico

Val-André Mutran (Brasília) – Dentre as diretrizes traçadas pelo Ministério Extraordinário de Assuntos Estratégicos na elaboração do Plano Amazônia Sustentável (PAS) com data prevista de lançamento para o próximo dia 29 de abril, em Brasília, na presença dos nove governadores da Amazônia Legal. Estão previstos ações a serem desenvolvidas no que o ministro Roberto Mangabeira Unger definiu como: Amazônia já desmatada.

Delimitada em grande parte na fronteira oriental e meridional da selva, na avaliação do ministro, "a melhor solução não é tentar reverter o desmatamento e restringir às cidades toda a atividade não florestal. Mas também não é coonestar a entrega dessas áreas a atividades econômicas ao mesmo tempo depredadoras e ineficientes, como a pecuária extensiva – a maior inimiga da mata na Amazônia", acredita.

Agricultura Familiar e Cooperativismo
A solução é aproveitar esse espaço para inovar, construindo na agricultura, na pequena indústria e nos serviços um modelo econômico que não repita os erros do passado brasileiro. Três características devem pautar tal modelo.

Segundo a proposta do ministério o primeiro traço é a coordenação estratégica entre os governos e a iniciativa privada, sobretudo a iniciativa dos pequenos produtores, livre de qualquer constrangimento de preconceito ideológico. Uma das áreas mais importantes para efetivar essa orientação é a agricultura familiar, destacou Mangabeira Unger.

Ainda de acordo com o ministro, a agricultura familiar de integrar-se, quando conveniente, com a pecuária intensiva, e apoiar-se num sistema de seguro de renda e de garantia de preço – indispensável à estabilidade da agricultura familiar. "É sistema que ainda não conseguimos generalizar no país", reconheu o ministro.

O segundo atributo é o estímulo pelo governo às práticas de "concorrência cooperativa" entre os pequenos produtores: práticas por meio das quais possam esses produtores competir e cooperar ao mesmo tempo e ganhar, por meio da cooperãção, acesso a economias de escala. É princípio que se pode aplicar em todos os setores da economia, inclusive a empreendimentos tecnologicamente avançados, como demonstra a experiência de algumas economias regionais mais vanguardistas da Europa, afirma Mangabeira Unger.

O terceiro distintivo é o esforço para estabelecer vínculos diretos entre as vanguardas e as retaguardas da produção. Indústria de ponta, " pós-Fordistas", podem produzir, de maneira não padronizada, máquinas e insumos que a retaguarda de empreendimentos menores e mais atrasados consigam usar. O objetivo, de acordo com a percepção do ministro, é pular a etapa do modelo industrial paulista, organizado em meados do século 20 em torno de um " Fordismo" já tardio: a produção em grande escala de hierarquias e especializações definidas e mão de obra semiqualificada.

De acordo com o ministro, a idéia é simples e fundamental: aproveitar o espaço da Amazônia já desmatada para fazer diferente do que se fez até agora na organização da economia brasileira.

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