Foto: Arquivo Val-André"A foto registra o que restou da cava onde era retirado o ouro de Serra Pelada. Um imenso lago contaminado por mercúrio e no fundo, toneladas de lama"A ingnorância aliada estratégia de contra-informação dos grupos que se matam há décadas na disputa do comando do que sobrou de Serra Pelada é uma história sem final feliz.
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Ex-garimpeiros vivem entre o sonho e a realidadePor: Antônio BarrosoEm Jacundá estima-se entre 500 a 600 homens passaram pelo maior garimpo a céu aberto do mundo – Serra Pelada – e que têm a praça municipal “Inácio Pinto” como ponto de encontro para relembrar momentos áureos do garimpo. E as vésperas da reabertura da jazida os sonhos são muitos e conflitantes com a realidade da maioria dos garimpeiros que mantém intacta a esperança de riqueza.Na praça, a reportagem do Opinião ouviu o ex-garimpeiro Valdício Francisco de Souza, 66 anos de idade, representante local dos ex-garimpeiros de Jacundá. “Temos a maior esperança depositada no presidente (Lula) que prometeu reabrir o garimpo”, diz ele sobre a possibilidade de reabertura dos trabalhos de garimpagem.Valdício acredita que a Serra Pelada tem capacidade para melhorar a vida dos mais de 40 mil homens que passaram pelo local na década de 80. Ele, que chegou ao garimpo em 1980, lamenta a proibição dos trabalhos. “Quando começamos a pegar o ouro o garimpo foi fechado”.Outro ex-garimpeiro que bate ponto diariamente na praça “Inácio Pinto” é o aposentado Aristides Fernandes de Souza. Aos 73 anos de idade, dos quais nove foram dedicados a Serra Pelada, o ex-garimpeiro afirma que nunca teve a sorte de encontrar as pepitas amarelas.Dono de um barranco – espaço de chão de direito dos garimpeiros – e mais 130 porcentagens em outros terrenos dentro do garimpo, Aristides diz que está na luta desde quando o garimpo foi fechado. Perguntado sobre o quanto poderá receber em dinheiro caso as atividades reiniciem no garimpo, ele deduz que “será suficiente para melhorar de vida”.Após encontrar três quilos de ouro, o também ex-garimpeiro José Renardes, mais conhecido na roda de amigos por Célio, é outro que alimenta o sonho de dias melhores com o dinheiro que poderá receber de quem voltar a extrair ouro de Serra Pelada. Ao lembrar momentos da “febre do ouro” o aposentado Célio conta que chegou ao garimpo em 1980. “Com muito trabalho consegui direito de possuir três barrancos, o que me rendeu três quilos de ouro”.Mas, os três mil gramas de ouro não foram suficientes para repor o capital aplicado dentro do garimpo. “Perdi uma serraria aqui em Jacundá e outros patrimônios”, frisa Célio, que hoje vive com auxílio equivalente a um salário mínimo do INSS e para completar esta renda ele trabalha com venda de doces caseiros. “Tenho a expectativa de ficar rico”, é o que ele deseja aos 72 anos de idade.Casado e doente do coração, o também aposentado Manoel Messias Cardoso, de 69 anos, diz que o sonho só acaba quando ele morrer. Esse sonho é uma referência à riqueza que poderá chegar após a reabertura do garimpo de Serra Pelada, que fez muita gente boa ficar rico da noite para o dia, transformou muitas vidas, e que alimenta muitos sonhos até hoje. É o sonho dourado mais presente do que nunca e que pode mudar a história de muitas vidas.As simples histórias contadas pelos ex-garimpeiros todos os dias na praça pública demonstram a importância que mantém o garimpo fechado de Serra Pelada na vida dos milhares de homens que passaram pelo local a procura de riqueza. A promessa de reabertura da jazida é uma esperança para todos eles. “Um dia aquele garimpo voltará às nossas mãos”, finaliza o ex-garimpeiro Valdício Francisco de Souza.
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