O bumerangue da Minoria

Disputa por liderança racha oposição

Congresso em Foco

Enfraquecida depois do resultado eleitoral de 2006, a oposição está cada vez mais perdida. Como se não bastasse o fortalecimento da coalizão governista, agora o DEM e o PSDB brigam entre si. A disputa tem como foco a escolha do líder da minoria na Câmara, que é uma espécie de porta-voz da oposição.

Depois da morte de Júlio Redecker (PSDB-RS) na tragédia com o Airbus da TAM em julho, o PSDB indicou Leonardo Vilela (GO), que foi logo vetado por ter tido o nome citado na Operação Aquarela, realizada pela Polícia Civil do Distrito Federal. No dia 8 de agosto, os tucanos acertaram o nome de Zenaldo Coutinho (PA), que permaneceu como líder por apenas 12 dias.

Isso porque na última segunda-feira (20), o Democratas protocolou requerimento na Mesa Diretora da Câmara com o nome do novo líder da oposição, André de Paula (DEM-PE). A justificativa: agora o DEM tem a maior bancada da oposição, 59 ante 58, contando com a ida do antes democrata Gervásio Silva para o PSDB.

O clima piorou de vez e levou as duas bancadas a trocarem hostilidades: “Fiquei abismado. É deplorável que isso esteja acontecendo dessa maneira”, disse o líder do PSDB na Câmara, Antônio Carlos Pannunzio (SP). Segundo ele, não é por aritmética que vai se definir o líder da oposição, mas sim por questões políticas. “O resultado das urnas foi melhor para o PSDB do que para o DEM. Em uma ligação para um prefeito ou governador teríamos os deputados de volta, mas estamos querendo resolver tudo na conversa”, declarou, referindo-se a dois deputados que deixaram a Câmara para se tornar secretários nos estados.

São eles Walter Feldman em São Paulo e Custódio Mattos em Minas Gerais. Os suplentes destes deputados são do DEM. Pannunzio também criticou a postura do líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS), classificando-a como “birra de menino”.

Onyx rebateu. Disse que o regimento interno da Câmara estabelece que o partido que tiver a maior bancada da oposição terá a liderança da minoria, e esse conta será feita pelo número atual, e não pelo definido nas urnas. “Se ele [o PSDB] quiser ter a maior bancada, que chame os deputados que deixaram a Câmara. Não tem problema nenhum, devolveremos a liderança para eles”, afirmou. O deputado gaúcho, contudo, reclamou do fato de um parlamentar de seu partido ter ido para o PSDB. “É estranho, pois eles defendem tanto a fidelidade partidária e agora fazem isso”.

O Congresso em Foco consultou a secretaria-geral da Câmara e confirmou que o fato determinante para a decisão do líder é o número atual da bancada, diferentemente da composição das comissões, que é determinada pela bancada eleita nas urnas. O novo líder da minoria será apresentado ontem (22) pela manhã, em um café na liderança do Democratas. Mas a novela deve ter novos capítulos.

CPMF
A escolha do líder da minoria não é o único fato que afasta democratas e tucanos. A prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) também causa rusgas entre as duas legendas. Enquanto o DEM prega o fim da contribuição, inclusive com uma campanha intitulada “Xô CPMF”, o PSDB é favorável, tendo apoiado, inclusive, a sua aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Os tucanos, contudo, defendem a redução da alíquota (de 0,37% para 0,20%) e sua divisão com estados e municípios. (Lucas Ferraz)

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