O que um professor de Harvard que mal fala o português conhece sobre a Amazônia e suas complexidades?
Fácil. Exatamente o que os americanos pensam sobre ela, ora, ora.
A viagem de Mangabeira
Alan Gripp
Ministro leva comitiva à Amazônia para apresentar suas propostas de longo prazo
No comando de uma comitiva formada por 38 pessoas, o ministro das Ações de Longo Prazo, Roberto Mangabeira Unger, iniciou ontem uma viagem de quatro dias pela Amazônia apresentando um punhado de novas - e polêmicas - idéias para que o país ponha em prática o tão falado plano de desenvolvimento sustentável da floresta. Batizado por ele de "Projeto Amazônia", o conjunto de propostas tem como eixo principal um modelo econômico com espaço para atividades como a mineração e a produção industrial e, ao mesmo tempo, a preservação da mata nativa. Propôs também aquedutos para levar água da Amazônia para a Região Nordeste.
- Há duas idéias erradas para a Amazônia: a primeira é mantê-la como um parque para deleite da humanidade; a segunda, permitir sua exploração indiscriminada. Nem uma coisa nem outra - disse Mangabeira, que apresentou suas idéias de longo prazo para as autoridades do Pará, empresários e sociedade civil.
Num documento com dez páginas que distribuiu no primeiro dia da viagem, Mangabeira diz que sua proposta é fazer do desenvolvimento da Amazônia uma "prioridade brasileira na primeira metade do século 21". "Transformando a Amazônia, o Brasil se transformará", diz. Mas ele reconhece que terá dificuldades em convencer a população de suas idéias. O projeto, como admite, ainda não é uma proposta de governo nem sequer foi apresentado ao presidente Lula.
O "Projeto Amazônia" tem como eixo principal um modelo econômico com espaço para atividades como a mineração e a produção industrial e, ao mesmo tempo, a preservação da mata nativa. Para o ministro, a juventude do Sudeste, "a classe média ilustrada" e a "grande mídia" querem uma versão mais light de projeto para a Amazônia. E certamente vai considerar sua proposta para a floresta "heavy" (pesada).
Projeto com várias idéias polêmicas
Mangabeira explica assim sua proposta de construção de aquedutos: "Numa região, sobra água, inutilmente. Na outra região, falta água, calamitosamente". Perguntado após a primeira de uma série de reuniões sobre seus grandes projetos, comentou:
- O Brasil precisa deixar de ter medo de idéias.
O Projeto Amazônia tem outras idéias polêmicas. Defende a exploração controlada da floresta, com a "utilização rotativa das árvores, compensada por replantio equivalente". Para as áreas já desmatadas, nada de replantio, e sim o desenvolvimento de projetos de agricultura familiar e até de pecuária em pequena escala. A pecuária em grande escala é apontada por Mangabeira como um dos maiores vilões da floresta.
O ministro também prega "a libertação dos indígenas". "Libertá-los não é apenas dar-lhes terras e proibi-los de usá-las". Mangabeira defende parcerias com empresas e governos para "assegurar-lhes os meios para educar-se (em mais de uma língua e mais de uma cultura)". Ele também sugere a formação de profissionais especializados nas questões da Amazônia, com incentivo para que morem na região.
Mangabeira também defende a mineração, desde que traga benefícios ao desenvolvimento econômico, e não represente apenas a extração predatória. Uma proposta é aumentar impostos ou criar novo tributo para as empresas de mineração quando "os metais lavrados não sejam transformados dentro da Amazônia". Ele definiu a situação atual no sul do Pará assim: "Leva-se o metal para fora e deixa-se o buraco da terra. Empregos, poucos. Dinheiro, longe".
Perguntado sobre possíveis pressões internacionais, afirmou que é hora de o Brasil afirmar sua soberania.
- No exterior, fala-se muito de desenvolvimento sustentável, mas não se pratica - disse ele, que viveu muitos anos nos Estados Unidos, onde lecionava em Harvard.
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