Sealoprando





EDITORIAL

Baboseiras amazônicas

Depois do longo período de silêncio que se seguira à sua posse na Sealopra (sigla que consagrou o nome da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo) que selou sua reconciliação com o governo que classificara como “o mais corrupto da história da República”, o ministro Roberto Mangabeira Unger mostrou, finalmente, em que se concentravam seus profundos estudos, pesquisas e reflexões sobre o futuro do País. Convencido de que “transformando a Amazônia, o Brasil se transformará”, sem explicar no que deseja que o Brasil “se transforme”, o ministro do futuro organizou uma expedição à região, de 35 pessoas, entre assessores, parlamentares e empresários com a missão de, em quatro dias, convencer os governos locais da importância e da viabilidade do seu criativíssimo projeto de transposição de água da Amazônia para o Nordeste. É que os estudos e pesquisas do ministro levaram-no à surpreendente e inovadora conclusão de que “numa região sobra água inutilmente e na outra falta água calamitosamente”. Parece inacreditável que ninguém antes tenha feito tal raciocínio lapidar!

É verdade que na década de 1970 o futurólogo norte-americano Herman Khan, famoso por suas previsões e propostas, mais ambicioso do que Unger, já tinha sugerido a interligação das bacias hidrográficas da Amazônia e do Prata, por meio da criação de lagos na região do Xingu, que seriam abertos pela explosão de duas ou três bombas atômicas. Afinal de contas, o berço esplêndido brasileiro tem certos defeitos congênitos de distribuição da água dos rios – mas nada que a hodierna tecnologia não possa resolver... Mas o professor Unger é mais conservador. Vai buscar, para compatibilizar a abundância amazônica com a carência nordestina, o sistema preferencial de manipulação hídrica dos antigos romanos, ou seja, o velho aqueduto. Assim, propõe ele que seja construído um grande aqueduto entre a Amazônia e o Nordeste, para que se resolva, ad perpetuum, o problema da seca nordestina.

Talvez a “água que sobra inutilmente” na Amazônia, pelo seu excesso de volume, fosse melhor aproveitada, sem risco de drenagem daquela área, se o ministro Mangabeira Unger aceitasse o conselho da prefeita de Santarém, a quem expôs o seu plano. Para dona Maria do Carmo Lima, eleita pelo PT, “antes é necessário que se cuide bem da água da Amazônia para o povo amazônico. Vivemos às margens dos maiores rios e não temos água dentro de casa”. Em outras palavras, para quem conhece a Amazônia, lá o problema da inutilidade das águas abundantes se resolve com encanamentos e não com aquedutos.

Mas em sua expedição, acompanhado de comitiva de 35 pessoas – com a notória ausência da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que alegou razões de ordem pessoal para não ter de ouvir explanações tão relevantes sobre o “desenvolvimento sustentável” da região amazônica –, o ministro Unger também navegou por outras águas, anunciando outras idéias brotadas de sua Secretaria, tais como a tributação especial da mineração (no que se harmoniza com a diretriz governamental de aumentar impostos ) e a adoção do ensino de uma segunda língua para todos os índios (talvez por ter chegado à conclusão de que é a condição de monoglotas que tem dificultado sua sobrevivência).

Com essa expedição, o ministro confirmou que a Sealopra é um órgão do governo, custeado, é claro, com dinheiro dos contribuintes, em que se produzem idéias mirabolantes sem qualquer preocupação com sua utilidade, viabilidade e custo. Não foi sem razão que, comentando o Aqueduto Unger, o diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, lembrou que falta água no deserto do Saara e sobra no Canadá – e indaga por que, em vez de levar água da Amazônia para o Nordeste, não se a capta direto da Antártida.

O problema é que inventar enormidades não custa nada a quem as inventa, mas custa ao contribuinte, que é quem paga as equipes alocadas para o estudo e a discussão de idéias ridículas (para dizer o mínimo), transformando-se em financiador de baboseiras. Baboseiras como essa e como as do subordinado de Unger, Marcio Pochmann, presidente do Ipea, que quer resolver o problema do desemprego propondo 3 horas por dia de trabalho.

Seria gozação, se não fosse desaforo.

Um comentário:

Roberto C. Limeira de Castro disse...

Para esse jornalão, o mundo se resume a São Paulo. Se o notável escriba conhecesse, pelo menos, um pouco da Amazônia, tomaria conhecimento que já existem investidores estrangeiros com planos claros de exportação da água Amazônia para o EUA, a Europa e o Oriente Médio.

Claro, que haveria um editorial apenas para elogiar a iniciativa do investidor.

Agora, beneficiar os nordestinos, nortistas e centro-oestinos não passa de baboseiras.

Falou em explorar as riquezas amazônicas para os brasileiros, aí o mundo vai esquentar, os pólos vão derreter, e outras baboseiras para manter o colonialismo interno.

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