Crise no Senado: Aí, assim não dá, aí

Amigo de Renan à frente da apuração

Denise Rothenburg (CB)

Congresso

Senador carioca, conhecido por atuar em temas regionais, Paulo Duque presidirá Conselho de Ética do Senado

Duque: “Às vezes boto banca, mas tenho respeito pelos senadores”


O PMDB se prepara para exigir do novo presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), 81 anos, uma postura política dura, muito diferente daquilo que caracterizou a vida pública de quem se notabilizou pela defesa dos temas do Rio de Janeiro. Ao longo de oito mandatos como deputado estadual, o primeiro em 1962, Duque não ganhou notoriedade por ser de tropas de choque, como agora deseja o líder do PMDB Renan Calheiros (AL), na hora de julgar as representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Não existe independência total na política, a começar porque as votações aqui são secretas. Estou aqui para cumprir as ordens da minha consciência. Esperem para me julgar”, pediu, diante de um batalhão de jornalistas que insistia em perguntar como ele agirá no comando do colegiado, cargo que conquistou com o apoio de 10 dos 15 senadores que compõem o conselho. Foram quatro votos em branco e uma abstenção.

Em sua carreira política, o destaque foi a CPI da Assembleia Legislativa que investigou o assassinato de mendigos no antigo estado da Guanabara. Conheceu José Sarney meio a distância, nos anos 1950: “Eu frequentava o Palácio Tiradentes como credenciado do Partido Republicano e Sarney era deputado federal, mas nunca tive intimidade com ele. Vim conhecê-lo aqui”, contou Duque, que se lembra da história, mas tem dificuldades em memorizar senhas de computador e sempre conta com a ajuda de um assessor.

Desde que chegou ao Senado, no início de 2007, depois que Sérgio Cabral assumiu o governo do Rio de Janeiro, Duque teve atuação discreta. A primeira vez em que exercitou o papel de tropa de choque foi na absolvição do senador Renan. Ali, não só discursou em defesa do alagoano como ajudou a cabalar votos. Há dois dias, a situação se inverteu. Foi Renan o principal cabo eleitoral de Duque para a Presidência do Conselho, ao ponto de coordenar pessoalmente a operação que resultou na saída de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) do colegiado.

Operação
Na noite de terça-feira, Renan jantou com os líderes dos partidos de oposição, os senadores José Agripino (DEM-RN) e Arthur Virgílio (PSDB-AL). Queria combinar o armistício durante o recesso e sentir o clima para a eleição de Duque. Com a recusa da oposição em eleger um peemedebista para o Conselho de Ética, mas diante da concordância na trégua para que tudo seja decidido em agosto, Renan partiu então para a operação dentro da base governista, onde exigiu o cargo para o maior partido, no caso o PMDB. A Valadares, que vem de uma legenda com dois senadores e integra a base de Lula, não tinha outra opção, senão se render ao gigante PMDB. E à oposição, pregar o voto em branco.

Uma das resistências de tucanos e democratas a Duque é o jeitão carioca, de linguajar despojado. “Não dá para ficar com alguém que diz: ‘Aí, aqui não tem artigo 14, aí’”, reclamou um senador da oposição. Ontem mesmo, ao assumir a Presidência do Conselho depois que sua eleição foi proclamada sem nenhum aplauso, ele fez uma referência indireta a esse senão: “Às vezes, boto uma banca e coisa e tal, mas tenho um imenso respeito por todos os senadores. Nunca imaginei eu, um modesto deputado estadual, segundo suplente, presidir senadores tão ilustres. Acho que gastei meia dúzia de reais para chegar aqui (no Senado)”, falou, sem cerimônia, terminando com a voz embargada. “Há muito tempo não me emocionava”, contou, depois.

Duque saiu da sala do Conselho direto para uma reunião com o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, uma audiência marcada há dias.
Na conversa, o Conselho de Ética ficou em segundo plano. Ele foi tratar da transferência de um prédio da União para o governo do estado do Rio, sinal de que não deixou de lado a sua marca: os problemas estaduais.

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