Palanalto articula contra Renan
Jornal do Brasil
O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), chega à reta final da campanha eleitoral de 2006 carregando no semblante uma visível angústia. A angústia é decorrente da sensação que Renan tem de estar sendo frito em fogo brando pelo presidente Lula e pelo Palácio do Planalto. Ele sempre recebeu dividendos políticos da reputação que construiu para si: a de ser uma espécie de domador da maioria de seu partido, o PMDB, cujo apetite leonino para abocanhar cargos públicos e gerir gordas verbas orçamentárias já é proverbial em Brasília. Essa foi sua maior credencial na dura batalha empreendida em 2004 para derrotar a emenda constitucional que propunha a reeleição para os presidentes das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, patrocinada pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e pelo senador José Sarney (PMDB-AP), à época presidentes das duas Casas do Congresso. Em 2005 Renan virou o presidente do Senado, recebeu com alívio um armistício proposto por Sarney, com quem se compôs, e pôde se vangloriar de ter sido o artífice da decisão da Executiva Nacional do PMDB que terminou por enterrar a candidatura presidencial de Anthony Garotinho pela legenda na disputa presidencial desse ano.
Se Garotinho estivesse no jogo, pelo PMDB, provavelmente o pleito presidencial estaria sendo direcionado para o segundo turno. E, em eventual segundo turno, o presidente Lula jamais poderia se manter olimpicamente ignorante às bordoadas que recebe de quem acusa a ele e a seu governo de terem sido lenientes com a corrupção. Certo de que esse mérito não lhe pode ser cassado, Calheiros se mantém fechado e incrédulo ante os ataques do fogo amigo.
Mas Renan sabe, agora, que a fase de glórias e de lua-de-mel com o governo federal e com o presidente Lula está inscrita no passado. Nesta semana que passou, o presidente do Congresso foi atingido por um sorrateiro fogo amigo em sua própria base eleitoral. Ele foi alertado por um amigo da presença, em Maceió, de um emissário do Palácio do Planalto que havia sido enviado com a missão de reunir prefeitos do interior do Estado e assegurar-lhes que Renan não é o único caminho que leva os alcaides de Alagoas ao fabuloso mundo das verbas orçamentárias de Brasília. O emissário palaciano garantiu aos prefeitos alagoanos que o governo federal manterá uma boa relação com João Lyra Filho, o deputado do PTB e grande usineiro de Alagoas, caso ele vença a eleição para o governo no quintal de Renan. Lyra e o presidente do Senado são inimigos figadais. O recado do Palácio do Planalto, ao enviar o preposto a Maceió, foi estancar a sangria de apoio político a Lyra no interior, o que pode ser capaz de confirmar a vitória de João Lyra ainda no primeiro turno. É claro que os sábios políticos do Planalto preferem ter por interlocutor político um Renan Calheiros fragilizado pela derrota em sua base do que um Renan Calheiros altivo com o sucesso eleitoral em Alagoas.
Além da intromissão palaciana no quadro político regional, Calheiros disse a um interlocutor que tem certeza da existência de digitais do governo federal na ação do Ministério Público contra o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, e contra o diretor-regional da Polícia Federal Bérgson Toledo, delegado que é seu amigo e que foi responsável pela Operação Mão de Obra. Nessa operação, a PF executou mandados de busca e apreensão em gabinetes e sala do Senado, sob a supervisão de Maia. Ao longo da semana que passou, procuradores de República acusaram Toledo de ter avisado Renan e Maia da operação e levantaram suspeição sobre o comportamento de ambos: crêem os procuradores que o senador e o diretor-geral do Senado podem ter "limpado provas" que seriam recolhidas pela Polícia Federal.
Certo de que seu filme está queimado no Planalto, e que o governo não só prepara uma operação para abandoná-lo à própria sorte na campanha de reeleição para a Presidência do Senado, em fevereiro de 2007, como já tece uma teia de apoio capaz de fazer de José Sarney (PMDB-AP) mais uma vez presidente da Casa, Renan prepara o troco. Quando a campanha eleitoral terminar, vai reconectar seus elos com a oposição no Senado e dará respostas às demandas oposicionistas contra o governo. "Não posso fazer nada agora. Tenho de esperar. Aprendi a ser paciente. Depois da eleição vou agir", confidenciou Calheiros, na última quinta-feira à noite, a um aliado para quem expôs todas as angústias que embalam suas mais recentes noites de insônia.
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