Amazônia: Esta ilustre desconhecida





Ray Nonato
Praia do Pesqueiro, Soure, Marajó
Brasília – O governo federal, o Congresso Nacional e os governos e parlamentos da Região Norte estão gastando rios de dinheiro com a desculpa de saber o que fazer para salvar a Amazônia do aquecimento global. “Besteira!” – como disse o respeitado geógrafo Aziz Ab’Sáber, 83 anos, à Agência Estado. O relatório das Nações Unidas sobre o aumento da temperatura mundial, divulgado em fevereiro, afirma que a Amazônia se transformará em cerrado. Ab’Sáber lembra que entre 22 mil e 11 mil anos atrás, última era glacial, o mar desceu dezenas de metros devido ao congelamento nos pólos norte e sul. Há cerca de 12 mil anos, a temperatura subiu, o gelo polar derreteu parcialmente e o mar subiu de novo. “Entre 6 mil e 5 mil anos atrás, o calor ficou tal que o nível do mar esteve a 2,80, 3 metros mais alto” – explica o geógrafo.

A Amazônia está levando a breca porque não há política de estado no Brasil e os governantes, todos eles, só pensam em votos, em reeleição, em fazer o sucessor, ou em se perpetuar - de alguma maneira - no poder. “Falam muito do fim da Amazônia pelo aquecimento, mas se esquecem de tudo aquilo que está acontecendo hoje em dia na Amazônia” – adverte Ab’Sáber, referindo-se à devastação da grande floresta por madeireiras e fazendeiros. “Ouvi da boca de um fazendeiro: A terra é minha, e faço com ela o que quiser e quando quiser. Hoje, ele desmata para a agropecuária, mas depois, se quiser, desmata mais da floresta para plantar soja ou cana-de-açúcar.” Para Ab’Sáber, a Amazônia é um estado paralelo: “Só conheço dois estados paralelos no Brasil: os morros do Rio e a Amazônia”.

De fato. A Amazônia só se mantém em pé graças ao dinheiro despejado principalmente da Alemanha, Estados Unidos, Japão e Holanda, R$ 108,9 milhões por ano, segundo levantamento da Agência Estado. ONGs internacionais injetam R$ 31,6 milhões por ano na floresta. A filial brasileira do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), que tem sede na Suíça, manda para a amazônia, anualmente, R$ 10 milhões. Dos R$ 9,2 milhões aplicados na floresta, em 2006, o Instituto Socioambiental (ISA), ONG nacional, R$ 7,9 milhões foram captados no estrangeiro.

Em contrapartida, em 2005, os estados da Amazônia Clássica, mais Mato Grosso e Maranhão, aplicaram R$ 96,4 em meio ambiente. Em 2006, o Ministério do Meio Ambiente destinou à Amazônia R$ 58 milhões. O Central Park, de Nova York, dispõe de R$ 52,3 milhões por ano. Em 2005, o estado de São Paulo gastou R$ 824,1 milhões com o meio ambiente.

Diz o pesquisador do Instituto do Meio Ambiente e do Homem na Amazônia (Imazon), Adalberto Veríssimo: “A verba nacional para a Amazônia é irrisória. Temos de pagar juros da dívida, cobrir os recursos obrigatórios de previdência, saúde, educação... Veja a questão da segurança pública... O meio ambiente tem de competir com todas essas demandas. O que sobra é pouco”.

E as populações da floresta? Vivem sob fogo cruzado. O estado não chega a elas. Só para dar um exemplo, no Marajó, Pará, a mais fantástica região do planeta, não há lei. Ratos d’água atacam casas de ribeirinhos e estupram tudo quando é mulher; até idosas.

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