GUERRILHA DO ARAGUAIA
Ag. Carta MaiorComissão não consegue avanço na identificação dos corpos
Em quatro anos, comissão interministerial enfrentou dificuldades para conseguir informações das Forças Armadas e concluiu seu trabalho sem identificar ossadas.
Jonas Valente – Carta Maior
BRASÍLIA – Em outubro de 2003, o governo federal instituiu por meio do Decreto 4850 uma comissão interministerial com o objetivo de, em até 120 dias, trabalhar na busca de informações sobre desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, investida patrocinada pelo PC do B no início da década de 70 na região entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins. (leia matéria “Nova comissão tenta localizar corpos de desaparecidos”). A iniciativa foi uma resposta à determinação feita pela juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal, de quebrar o sigilo das informações militares relativas a todas as operações realizadas no combate e encontrar os locais de sepultamento dos guerrilheiros mortos.Quase quatro anos depois, em coletiva do ministro dos direitos humanos, Paulo Vannuchi, nesta quarta-feira (28) a comissão apresentou à imprensa o relatório final. Em vez de conclusões e avanços na identificação dos restos mortais dos guerrilheiros, o documento reafirma para as Forças Armadas a obrigação estabelecida pela sentença da Juíza Solange Salvado de apresentar “todas as informações relativas à totalidade das operações militares relacionadas à Guerrilha” em até 180 dias. A sugestão tem como motivação o fato das investidas junto ao comando do Exército durante o trabalho da comissão terem sido insuficientes.
“Elemento importante é que o relatório reafirma compromisso do governo com direito de ter restituída a versão sobre o acontecimento”, declarou Paulo Vannuchi. Segundo o ministro, o avanço está no fato de as Forças Armadas terem pela primeira vez reconhecido a existência da Guerrilha, o que até então não havia sido feito. Frente à resposta da corporação da inexistência de documentos acerca do acontecido, o relatório final da comissão recomenda que, então, ao menos os autos de destruição dos documentos sejam disponibilizados.
Caso nenhum dos expedientes sugeridos seja bem sucedido, o documento sugere que o Presidente da República “determine às três Forças Armadas que procedam à rigorosa investigação formal para construção de quadro preciso e detalhado das operações realizadas na guerrilha, intimando e ouvindo formalmente os agentes ainda vivos” em até 120 dias. Os pontos compõem um jogo de “gato e rato” no qual, de maneira gradativa, integrantes do governo vêm buscando reduzir as desculpas das Forças Armadas para não reconhecer as atividades promovidas no desmonte da guerrilha e as informações sobre a localização dos restos mortais.
Na coletiva, Vannuchi afirmou que há um desnível entre as informações e investigações veiculadas na imprensa ou reveladas em livros e a versão que a corporação dá ao fato. “A coisa não se resolve, fica informação na imprensa mais detalhada do que aquela que oficialmente o Estado oferece”, lamentou. E exemplificou: “Se não há mais corpos, por que não se reconhece a versão do Coronel Cabral sobre a operação limpeza?”, questionou o secretário. Segundo o Coronel Pedro Corrêa Cabral em depoimento dado ao Congresso Nacional em março de 2004, findado combate contra os guerrilheiros, o Exército teria queimado cerca de 40 corpos na Serra das Andorinhas, região próxima à Xambioá (cerca de 500 km de Palmas, capital do Tocantins).
Após o pouco avanço na queda-de-braço com o Exército, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos aposta no peso político do presidente Lula para tentar fazer o processo andar. “Tenho certeza que o Presidente da República vai atender às recomendações”, afirmou Vannuchi, com a experiência de quem foi durante 27 anos assessor de Lula.
Localização dos corpos
Outra recomendação feita pelo relatório é a continuidade do trabalho de busca dos restos mortais a partir das informações que hoje o governo já dispõe. Durante o trabalho, o Exército forneceu as coordenadas de áreas onde pode haver corpos. De posse destes dados, o texto defende que o governo faça mais diligências, desta vez com maior estrutura e garantindo a presença dos familiares. A expectativa é que sejam garantidas melhores condições do que as das dez expedições realizadas durante o trabalho da comissão.
O documento pede também a consolidação do banco de amostras de DNA dos familiares de mortos e desaparecidos da ditadura (leia matéria “Banco de DNA vai ajudar na identificação de mortos e desaparecidos”), para para que o governo possa dar prosseguimento à identificação das dez ossadas em posse da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e do Instituto Médico Legal. Segundo Paulo Vannuchi, o governo celebrou convênio com um laboratório para acelerar a análise dos restos.
Ao final da coletiva, o ministro afirmou ser uma responsabilidade do Estado resolver a dívida histórica para com os familiares dos desaparecidos. Quase como dando um recado, ele destacou que o reconhecimento da ação das Forças Armadas não tem qualquer clima de revanchismo nem tem como objetivo possibilitar que torturadores ou executores sejam julgados e punidos. Foi neste espírito, continuou, que o documento não apresenta qualquer proposta de revisão da Lei de Anistia. “Espírito da pacificação não pode ser obtido enquanto houver postura evasiva”, cobrou.
Acesse aqui o abaixo-assinado "Desarquivando o Brasil"
2 comentários:
Vão levar 100 anos e não vão resolver essa naba.
Se quiserem e tiverem coragem resolvem amanhã.
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