O caro "barato" das drogas

Cinema

"Não na nossa família"

O drama do rapaz de classe média que vira traficante
de cocaína em Meu Nome Não É Johnny


Jerônimo Teixeira

Divulgação

Selton Mello, como João Estrella: um traficante que nunca pisou no morro


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A mãe de um traficante que acaba de ser preso procura um advogado para o filho. O advogado pergunta há quanto tempo ela tinha conhecimento das atividades ilícitas do filho. A mãe responde que não sabia de nada, que nunca imaginou que isso pudesse acontecer. "Não na nossa família", completa. A cena, logo no início de Meu Nome Não É Johnny (Brasil, 2006), é a consumação extremada de um pesadelo dos pais da classe média brasileira (e, em particular, carioca): o filho perdido para a droga. Personagem real, João Guilherme Estrella não foi apenas mais um viciado. Para sustentar o consumo pessoal, tornou-se ele mesmo um traficante, vendendo a cocaína mais pura do Rio em festas da Zona Sul, até ser preso em 1995 e condenado a dois anos em um manicômio judicial. Baseado no livro homônimo, publicado pela editora Record, em que o jornalista Guilherme Fiuza narra a história de Estrella, o filme dá uma dimensão entre cômica e trágica ao drama do vício. O Estrella interpretado por Selton Mello parece não entender a gravidade de seus atos – tampouco tem a esperteza de tirar o melhor proveito deles. Na forma de pó branco, uma proverbial fortuna circula por suas mãos, mas ele não enriquece. Torra tudo em festas com a namorada maluquete interpretada por Cleo Pires. E em mais droga.

Sob a direção ágil de Mauro Lima – cujo filme mais conhecido até agora era o infantil Tainá 2 –, Meu Nome Não É Johnny às vezes parece tão leve e inconseqüente quanto seu personagem. Muito bem-humorado, não tem a violência dos filmes que focam o tráfico pelo lado da favela – ou dos fornecedores –, como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Filho de pais permissivos que fechavam os olhos para suas farras cada vez mais desregradas, Estrella nunca pisou em um morro. Tinha fornecedores para fazer esse caminho por ele. Começou a vender pequenas quantidades, no início dos anos 80. Quando a polícia finalmente o pegou, em 1995, ele estava com 6 quilos em seu poder.

É no presídio, enquanto aguarda julgamento, e no manicômio judicial onde depois cumpre pena que Estrella começa a se dar conta da profundidade de seu erro. Inclusive porque passa a conviver com uma turma da pesada – um de seus companheiros de manicômio é um traficante que tinha por hábito dilacerar seus inimigos com uma serra elétrica. O filme não torna explícita a conexão entre a sórdida realidade das prisões e a vida dissoluta que o traficante playboy levava até então. Mas ela fica bem evidente no silêncio perplexo que Selton Mello imprime ao personagem durante sua dolorosa redenção. Estrella percebe, então, como sua festa custava caro.

Revista Veja

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