O fluxo dos macacos

Em 1981, um ano após a descoberta do garimpo de Serra Pelada. Um contigente antes só visto no alarido sem fim do maior caminho de macacos jamais aberto nas entranhas da inespugnável floresta. Silenciou tambores.

Há muitas Luas o entardecer chorava o reencontro de um Céu de estrêlas parecido perdido.

Era difícil na maior parte do tempo os macacos daqui e acolá, mesmo a mando dos chefes alcançar o mais alto galho da mais alta castanheira olhar o que se passava no tapête de estrelas que guardava a luz da irmã fria do dia.

A tristêza era moeda corrente dos macacos que não podiam ver, desnorteados que agora estavam reduzidos a observar os acontecimento e adiar, desnorteados, a referência do tempo perdido das cerimônias, preparos e coleta de pinturas para a festa.

Do ar surgiam dia e noite pássaros alados trazendo a tormenta mais forte. Objetos que agora cercavam pelo ar, o que fora cercado pela terra e quanto mais forte o som nunca ouvido e o vento sentido, mais macacos surguiam de todos os lados.

Era uma batalha perdida.

Do Céu caíam sacolas enroladas. Algumas, na maioria encontavam o chão das esplanadas abertas à facas que pareciam um pesadêlo de eficiência, difícil para acompanhar com os olhos a extensão do estrago perpetrado como que a extensão das patas dos macacos invasores, outras, mais volumosas, quando abertas distantes do encontro inicial, faziam um barulho sêco.

Em seu interior continham, talvez, o segrêdo para o segrêdo daquela raça que não parava de chegar.

Um ano após a descoberta do garimpo de Serra Pelada, começaram os serviços de construção da Colônia Agrícola de Tucumã. Em 1982 foram assentados os primeiros colonos oriundos da região sul do País, por possuírem tradição agrícola e recursos próprios para se auto sustentarem, pelo menos no primeiro ano de assentados, contudo com a descoberta do ouro na região, muitas pessoas chegavam e inclusive sem terras de outros estados, ficando a situação tensa e sem controle por parte da iniciativa privada (Andrade Guiterrez) que começou a recuar nos investimentos, passando o problema e salvaguardar o projeto de colonização particular, sendo este invadido por mais de 3 mil famílias.

A partir daí a empresa suspendeu os investimentos, o povo se uniu e formou o conselho de
Desenvolvimento Comunitário de Tucumã, que se incumbiu de administrar o núcleo urbano até a implantação do município em 1º de janeiro de 1989.

No plano de expansão telefônica que participei em 1989. Tucumã fora aquinhoada com 400 terminais telefônicos.

A busca pelo ouro, desenfreada, já tendo recebida uma gigantesca leva de fracassados da interditada Serra Pelada, achavam o que não encontraram no maior garimpo a céu aberto do planeta.

Economias inteiras de famílias de migrantes do sul do país evaporaram pela cobiça em busca do ouro.

Como um agricultor que conhece os caminhos do ensinamento da lide na terra poderia granjear fortuna, com a loteria da busca pelo vil metal?

E o fracasso prosperou. Não para a Andrade Gutierrez que foi regiamente paga através de bem sucedidas reparações judiciais.

Identificando no fracasso que só restaria ao arruinado agricultor voltar ao trabalho na roça. Os sulistas mapearam as melhores terras, com generosas ocorrências de manchas rôxas, a dedicarem-se ao plantio de cacau e outras culturas.

O crescimento de algumas cultivares de capim era de um sesultado jamais visto.

Em pouco mais de uma década, os migrantes sulistas, derrubaram a exuberância do mogno, cedro, ipê rôxo, castanheiras e outras essências e com o dinheiro plantaram capim.

Tucumã é o maior desastre ambiental da Amazônia.

Resta-lhe apenas 2 % da cobertura original antes da chegada do projeto dos macacos verdes.

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