O carcomido PMDB de sempre e sua inocultável capacidade de ameaças

PMDB insatisfeito com Lula

Tiago Pariz e Gustavo Krieger, da equipe do Correio Braziliense

Presidente faz campanha para petistas em cidades onde aliados têm mais de um candidato a prefeito. Políticos peemedebistas garantem que irão cobrar caro a falta de ajuda na disputa municipal

Lula: decisão agora é não se meter em Porto Alegre, Rio e Salvador

Maria do Rosário: Lula longe da disputa no primeiro turno


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descumpriu promessa feita com as lideranças dos partidos que o apóiam e tomou partido nas eleições. Pediu votos para candidatos do PT onde a base aliada tem outros candidatos e gerou insatisfações dentro do PMDB, que promete cobrar caro a falta de apoio no pleito municipal.

Antes das eleições, firmou compromisso com as legendas governistas e agradou a todos. Mas diante da voracidade de petistas para fisgar um pedaço de sua imagem, Lula cedeu e deixou de lado aliados em diversos estados. Segundo a contabilidade do PT, Lula gravou cerca de 80 pedidos de votos para candidatos a prefeito.

“Vamos ter que discutir a atitude do presidente depois da eleição. Como é que o presidente fala que estamos num governo de coalizão e só grava para o PT? Quer dizer, coalizão só serve para votar projetos de governo, e não para ajudar os aliados”, queixou-se o deputado Leonardo Quintão, candidato do PMDB à prefeitura de Belo Horizonte. Na capital mineira, Lula não gravou depoimentos, mas sua imagem vem sendo usada na campanha de Márcio Lacerda (PSB).

O caso mais gritante ocorreu em Feira de Santana (BA). O deputado Sérgio Carneiro (PT) candidato da cidade, conseguiu colocar a mensagem de Lula no horário eleitoral gratuito. Um dos adversários do petista é o também deputado Colbert Martins (PMDB). A reação negativa fez o Palácio do Planalto rever sua posição. Reconhece que cometeu erros em pelo menos 10 municípios. Na segunda maior cidade da Bahia, Lula comprometeu-se a gravar uma mensagem de apoio também para Colbert Martins. Nos outros casos, o candidato governista recebeu um pedido formal de desculpas.

Para evitar mais problemas, o presidente disse que não vai se meter nas campanhas de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. A capital baiana, onde o petista Walter Pinheiro ganhou fôlego contra o prefeito João Henrique (PMDB), foi um pedido do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), reconhece os problemas, mas tenta minimizá-los. “A figura do presidente ajuda muito, não tenha dúvida, mas houve um problema em relação à gravação de mensagens. A verdade é que todo mundo quer o apoio dele e acha que o presidente Lula pode ajudar na campanha”, disse Temer.

Problemas
Comentando a reação com um auxiliar, Lula disse o seguinte: “O que adianta gravar para um sujeito e arrumar problemas com um monte de outros?” Mas ele sabe que os problemas estão longe de ser resolvidos. O marqueteiro da campanha petista em Salvador, Fábio Lima, disse que a imagem de Lula é uma das cartas na manga. “Nós usaremos o presidente Lula no momento que for importante e oportuno”, disse Lima, evitando responder se Lula havia gravado mensagem pedindo voto para Walter Pinheiro. Esse momento poderia ser o segundo turno exatamente quando a estratégia do Palácio do Planalto será reavaliada. Em Porto Alegre, por exemplo, Lula cogita dar o apoio tanto para Maria do Rosário (PT) quanto para Manoela D’Ávila (PCdoB) numa eventual disputa com o prefeito José Fogaça (PMDB). Na avaliação do governo, o peemedebista é do rol oposicionista da legenda.

O presidente encarregou-se pessoalmente de escolher os candidatos que ajudaria. Os nomes foram compilados pelo chefe de gabinete Gilberto Carvalho e pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. Em um dos casos, Lula entrou pessoalmente nas negociações para evitar problemas. Gravou mensagem para o petista João da Costa, candidato à prefeitura do Recife, e conversou com o aliado Carlos Cadoca (PSC). O candidato do partido nanico autorizou o presidente, consciente de que a disputa na capital pernambucana está praticamente resolvida.

Quem não conseguiu uma lasca de Lula tentou achar um plano B. O Partido Progressista escalou o ministro das Cidades, Márcio Fortes, como cabo eleitoral. Nos municípios, ele pede voto em nome do governo do presidente Lula e fica tudo resolvido. Em outros casos, o Palácio do Planalto já identificou candidatos que usam imitadores de Lula para gravar mensagens pedindo voto no rádio.

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