The Wall Street Journal
As negociações reservadas sobre o preço do ferro entre as maiores mineradoras e siderúrgicas do mundo caminham a favor das siderúrgicas, que provavelmente conseguirão descontos substanciais em comparação com os preços do ano passado.
"Acabou a era dos lucros gigantescos no minério de ferro importado", diz o secretário geral da Associação de Ferro & Aço da China, Shan Shanghua.
Esta semana, a coreana Posco, uma das maiores siderúrgicas do mundo, informou que, por causa da situação econômica e da fraca demanda, o preço do minério de ferro deve ficar em torno da metade dos níveis de 2008, o que representaria uma cotação entre US$ 40 e US$ 45 por tonelada este ano.
A Posco prevê que as negociações — que haviam sido paralisadas enquanto produtores e siderúrgicas esperavam que a situação da economia ficasse mais estável — sejam encerradas este mês. Algumas mineradoras menores, como a australiana Fortescue Metals Group Ltd., já informaram que se preparam para um corte de pelo menos 30% no preço do ferro.
Ontem, a agência Dow Jones Newswires informou que, segundo um ex-executivo, a Companhia Vale do Rio Doce, maior produtora de minério de ferro do mundo, estava oferecendo agressivamente descontos "disfarçados" para compradores chineses no mercado à vista, por meio de tarifas de frete mais baixas. Uma assessora de imprensa da Vale se negou a comentar à agência a estratégia de vendas da empresa.
Até o início do ano, as mineradoras esperavam manter os preços de 2009 no nível do ano passado. Mas em fevereiro já tinham esperança de arcar com um corte de apenas 20%. Agora parece cada vez mais provável que o corte seja de pelo menos 30%, dizem analistas.A BHP Billiton e a Rio Tinto não querem fazer comentários até que as negociações estejam completas. "A BHP Billiton não fala sobre suas negociações com clientes", disse um porta-voz da empresa.
Mas Sam Walsh, que chefia a divisão de minério de ferro da Rio Tinto, disse que uma redução de 50% seria exagerada. Ele não quis citar o preço que acha que as negociações eventualmente alcançarão.
Mineradoras de ferro como a Rio Tinto, a BHP Billiton e a Vale tinham esperança de que os vários pacotes de estímulo anunciados no mundo impulsionassem a construção civil e a demanda das siderúrgicas.
Mas isso não aconteceu. Esta semana, a Rio Tinto informou que sua produção de minério de ferro caiu 15% no primeiro trimestre em comparação a um ano antes. É improvável que a demanda mundial por aço melhore antes de meados do ano. Isso significa que as mineradoras não têm poder de barganha nas negociações deste ano, porque os preços são fechados para o período de abril a abril.
A BHP Billiton andou pressionando pela eliminação das negociações por contrato e pela venda do minério no mercado à vista, por acreditar que pode lucrar mais desse modo. O preço à vista do minério de ferro tem oscilado em torno de US$ 50 por tonelada. Chegou a US$ 36 no fim do ano passado, depois de ter alcançado um recorde de US$ 120. A Vale e a Rio Tinto preferem os contratos, que permitem mais estabilidade.
Algumas siderúrgicas e mineradoras menores já fecharam acordos independentes das negociações entre as grandes empresas. A Cotton & Western Mining Inc., uma pequena mineradora de ferro sediada em Houston, Estados Unidos, anunciou acordo para vender o minério para seus clientes chineses a US$ 45 por tonelada em 2009.
Alguns analistas preveem que a China, maior importador mundial de ferro e, portanto, o grande árbitro dos preços do minério, precisará este ano de 100 milhões de toneladas a menos da commodity do que em 2008. Quase 80% do ferro produzido no mundo é vendido às siderúrgicas chinesas.
Zou Jian, consultor da Associação Chinesa de Minas Metalúrgicas, disse que o consumo de minério de ferro deve chegar a 350 milhões de toneladas, ante 443 milhões em 2008. O declínio na demanda é causado, entre outros fatores, pelo desenvolvimento de fontes domésticas do minério.
"As mineradoras querem redução de no máximo 20%, e essa diferença de preço já é substancial, mas acreditamos que pode cair pelo menos 50% em relação ao nível de 2008 e 2009", afirmou em comunicado Kwon Young-tae, diretor de compras de matérias-primas da Posco.
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