Entre guerrilheiros e ''apoios'', rede movimentou 256 pessoas

Leonencio Nossa, XAMBIOÁ

Levantamento do ?Estado? aponta 78 militantes das cidades e 20 recrutados, além de 158 simpatizantes

Levantamento feito pelo Estado revela que a rede guerrilheira no Araguaia foi composta por 256 pessoas, entre comandantes, combatentes, "apoios fortes" e "apoios simples". De 1966, ano da chegada à Amazônia dos primeiros integrantes do futuro grupo de 78 guerrilheiros das grandes cidades, a 1972, início dos combates travados pelas Forças Armadas, o PC do B conseguiu recrutar mais 20 pessoas na região e o apoio e simpatia de outros 158 moradores (veja lista ao lado).
A identificação e o envolvimento de cada guerrilheiro, além do tipo de apoio, foram obtidos por meio de depoimentos de militares, camponeses e sobreviventes da guerrilha nos últimos anos. O levantamento só foi concluído na semana passada, após confronto dos dados com as informações do arquivo agora revelado.
Mapas e relatórios feitos no período de abril a setembro de 1973 pelo oficial do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, então coordenador adjunto da Operação de Inteligência Sucuri, permitiram a reclassificação de dezenas de personagens da guerrilha.
Pela classificação de Curió, a colaboração dos camponeses incluiu 17 apoios "fortes": eles recebiam guerrilheiros em suas casas com frequência, eram responsáveis pela alimentação do grupo, avisavam sobre a presença de militares, faziam trabalhos de espionagem e davam recados.
Já os chamados apoios "simples" alimentavam os guerrilheiros esporadicamente, avisavam sobre a presença de tropas, se recusavam a prestar informações e os defendiam em reuniões em locais públicos.
O barqueiro Lourival Paulino de Moura, preso em 21 de maio de 1972, em Xambioá, foi único apoio morto durante os combates entre guerrilheiros e militares. Pela versão oficial, Lourival se enforcou na prisão da cidade, às margens do Araguaia. Na verdade, ele foi o primeiro executado pela repressão. O barqueiro era um apoio "forte" do guerrilheiro Osvaldo Orlando Costa, o Osvaldão.
OTIMISMO
Pelos relatos dos agentes que participaram da operação Sucuri, os guerrilheiros mostravam otimismo nas conversas com os agentes infiltrados do Exército. No segundo semestre de 1973, fazia um ano que as Forças Armadas não davam um único tiro. As tropas tinham voltado aos quartéis. Os únicos militares na área eram os 32 agentes infiltrados.
O agente Juscelino escreveu o que ouviu de um grupo de guerrilheiros, como relata um dos manuscritos de Curió: "Falaram que o EB (Exército Brasileiro) já lhes deu o ?ano? que precisavam para reorganizar-se e que, se alguém entrar agora morre, pois tem tanta gente que não se conhecem todos".
Os guerrilheiros, que contavam com poucos armamentos, propagavam, segundo Juscelino, que tinham capacidade de produzir uma metralhadora por dia. "Disseram que tentarão calçar todos os elementos com botas de borracha, que munição e armas eles não precisam comprar, pois tem um que faz uma ?metralhadora? por dia e muita munição", escreveu. O guerrilheiro que produzia armas - mais apropriadas para caçar passarinhos - era o capixaba Marcos José de Lima, o Ari Armeiro.
Naquele momento, os guerrilheiros tentavam arregimentar camponeses e ganhar simpatia. O relatório manuscrito da Sucuri conta que um grupo liderado por Peri e Dina passou horas conversando com moradores.
"Explicaram o porquê da existência deles, levaram panfletos", registra o informe deixado por um agente. Os guerrilheiros diziam, ainda de acordo com o relatório, que tinham pessoal suficiente para vencer os militares.
"Disseram possuir gente no Pará, Maranhão, Bahia, Brasília, Goiás e Mato Grosso e que o movimento que está ?dando luz? é o do Pará e do Mato Grosso", destaca o relatório.
Há informes curiosos registrados no manuscrito. A enfermeira e guerrilheira Luiza Augusta Garlipe, a Tuca, foi vista por um agente infiltrado com uma máquina de datilografia.
"Calçada com botina de couro, vestia calça preta e camisa preta de mangas curtas e usava cabelos curtos. Disse que trabalhava no Hospital das Clínicas em São Paulo. Carregava uma máquina de datilografia", registra o documento. Tuca foi vista pelo agente com uma espingarda de cano curto, um revólver calibre 38 e uma bússola.

Fonte: O Estado de S. Paulo.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Brasil sabe que membros atuais do "alto" escalão e "parasitas" do governo fizeram parte da guerrilha. Não precisa muito para saber-se o que realmente eles pretendiam.

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