O vacilante Mercadante
Um político que se apequenou
O vai e vem de Mercadante no caso sarney o faz menor do que os seus dez milhões de votos
Mário Simas Filho
DEFLAÇÃO Prestígio em queda custou a Mercadante candidatura ao governo
Nos corredores do Senado, o nome de Aloizio Mercadante (PT-SP) é considerado por muitos sinônimo de arrogância. A frase "bom-dia, Mercadante" é invariavelmente usada em forma de brincadeira para alertar o senador que passa distraído por algum colega e não o cumprimenta. Nos últimos 30 dias, no entanto, o líder da bancada petista protagonizou três piruetas que mudam drasticamente a sua imagem.
Em 1º de julho, quando a oposição intensificou os ataques contra a permanência de José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na África e fez chegar a Sarney a mensagem de que ele deveria resistir, pois contaria com seu irrestrito apoio. No mesmo dia, Mercadante fez a primeira pirueta. Na condição de líder da bancada, sugeriu a Sarney que se afastasse da presidência. Lula ficou furioso. Desembarcou no Brasil à noite e telefonou imediatamente para o celular do líder do PT. A reprimenda foi dura: "Mercadante, eu não quero saber de recuo do PT. O que está em jogo é a sucessão", disse Lula, segundo assessores que estavam ao lado do presidente.
A segunda pirueta de Mercadante foi dada na tarde da quinta-feira 2 de julho. O senador praticamente tornou pública a reprimenda privada. Da tribuna, discursou em defesa de Sarney e explicou a mudança de posição com uma frase que despertou o riso naqueles que costumam brincar com o bom-dia, Mercadante: "Minha combatividade está a serviço do presidente Lula." Na sextafeira 24, amparado por uma pesquisa encomendada pelo Planalto mostrando que o apoio de Lula a Sarney não é bem-visto pelo eleitor, Mercadante resolveu se preocupar com as urnas e fez a terceira pirueta.
Em nome da bancada petista, divulgou uma nota voltando a recomendar a saída de Sarney. A nota caiu como uma bomba na reunião do Conselho Político do governo na manhã da segunda-feira 27. Lula pediu que o ministro José Múcio, das Relações Institucionais, desautorizasse publicamente o senador. Em entrevista, Múcio atribuiu a nota a um "movimento isolado" de Mercadante. "Alguém acha possível não haver sintonia entre Lula e o PT? Quem está em descompasso é o Mercadante", disse à ISTOÉ um ministro palaciano muito próximo ao presidente. "A bancada está totalmente fechada com Lula.
O Mercadante emitiu uma opinião pessoal. Não é certamente a posição partidária nem mesmo da bancada", afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP). Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu disse que a eventual saída temporária de Sarney da presidência do Senado não é consenso na bancada do partido na Casa, mas "sentimento pessoal" do líder petista no Senado. "A atitude de Mercadante foi infantil", disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).
As três piruetas de Mercadante imprimem ao senador uma imagem que se assemelha àquela exercida pelos bobos da corte nas antigas monarquias. Também chamados de bufões, eles ocupavam cargos de confiança dos reis. Inteligentes e sagazes, tinham acesso privilegiado ao poder e eram muito bem remunerados para animar o governante e seus convivas. O problema é que se tratava de um cargo com alta rotatividade nos palácios, isso porque geralmente a terceira pirueta já não tinha mais a mesma graça e um bufão que não despertava o riso não estava mais apto para a função.
Em 2002, Mercadante foi o senador mais votado da história do País, com 10,5 milhões de votos. Graças ao extraordinário desempenho, superou seu desgaste com o presidente Lula que vinha desde 1994, quando, na condição de conselheiro econômico, sugeriu que o então candidato ao Planalto atacasse o Plano Real. Assim que Lula chegou ao poder, Mercadante foi lembrado para assumir vários ministérios: Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento Social e até Saúde. Em 2006, Lula defendeu ostensivamente o nome de Mercadante contra a candidatura de Marta Suplicy ao governo de São Paulo. Hoje, a estatura política de Mercadante é outra.
Nas pesquisas que encomenda sobre a sucessão paulista, o PT inclui Marta, o ex-ministro e deputado Antônio Palocci e Emídio de Souza, prefeito de Osasco, cidade que tem apenas 713 mil habitantes, menos de 10% dos eleitores que votaram em Mercadante há sete anos. O senador foi descartado. Na última semana, o líder da bancada petista no Senado optou pelo silêncio. Disse que só vai se manifestar depois da reunião dos parlamentares petistas prevista para a terça-feira 4. Como em política as coisas mudam rapidamente, é até possível que a reunião devolva algum fôlego para Mercadante, mas seu tamanho não é mais o mesmo.
Fonte: Isto É.
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