Para a Conab, queda será de 2,5%; para o IBGE, de 3,8%; ministro da Agricultura diz que produção pode cair até 5% antes do fim da colheita
A falta de crédito ao produtor e a redução na demanda causada pela crise financeira mundial começam a frear a produção agrícola brasileira após dois anos de colheita recorde. Ontem, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgaram projeções de quedas de 2,5% e 3,8%, respectivamente, na próxima safra.
De acordo com a Conab, a safra 2008/2009 atingirá 140,3 milhões de toneladas de grãos, contra 143,9 milhões de toneladas na safra anterior. A área plantada crescerá 0,2%, passando de 47,4 milhões de hectares para 47,5 milhões.
Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a produção agrícola pode recuar até 5% antes do término da colheita. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima queda de 5% a 8%.
"Até aqui, os instrumentos que temos à disposição serão usados e possivelmente serão suficientes para amenizar o impacto da crise. Não dá para resolver, mas amenizar."
O primeiro sintoma de contágio da crise internacional no campo foi a restrição de crédito para a colheita atual. O governo tentou injetar mais liquidez no mercado, liberando depósitos compulsórios, mas a medida não significou crédito mais barato aos agricultores.
Ontem, Stephanes afirmou que o governo destinará R$ 2 bilhões a cooperativas para estimular os empréstimos. "Os bancos poderiam ser parte da solução da crise, mas como não baixam os juros, aceleram a crise", reclamou o ministro.
O novo sintoma da crise, agora, é a redução na demanda internacional provocada pela desaceleração econômica. O diagnóstico é compartilhado por IBGE, Conab e CNA.
"Os fundamentos não são da mesma magnitude que a especulação. Os estoques mundiais estão em baixa, a gente acredita que muito da queda das commodities seja a volatilidade do mercado", avaliou José Mario Schreiner, presidente da Comissão de Grãos, Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA.
Quedas
As maiores quedas de produção serão observadas no algodão (20,8%) e milho (7,4%), segundo a Conab. A produção de soja deve recuar apenas 2%, passando de 60,02 milhões de toneladas para 58,82 milhões.
Segundo Stephanes, as enchentes em Santa Catarina são "irrelevantes estatisticamente" e não influenciam na queda da produção nacional.
O levantamento de safra da Conab traz, ao menos, uma boa notícia, segundo o ministro. Os preços dos alimentos, que pressionaram a inflação neste ano, devem recuar em 2009. "Se houver um vilão da inflação, com certeza não será a agricultura. Dificilmente os preços dos alimentos vão impactar."
Diante da incerteza sobre a economia no ano que vem, Stephanes defendeu políticas que assegurem o plantio. "A agricultura precisa plantar, não é como a indústria, que pode dar férias coletivas", assinalou.
Mercado externo
A redução no plantio levará a exportações menores. A projeção de vendas de arroz para o exterior mostra redução de 42,86%; no caso do algodão, de 13,46%. Mesmo a alta do dólar, segundo Stephanes, vem sendo neutralizada pela queda nas cotações internacionais.
O dólar caro apenas prejudica, já que eleva os preços dos fertilizantes e outros insumos. O problema afeta praticamente toda a América do Sul. "Estamos todos numa situação muito difícil", disse o ministro.