De uma escarpa a outra, 35 quilômetros de água salgada. Vento frio e céu encoberto durante a maior parte do ano. Este é o palco — e pista de provas — de momentos históricos ao longo dos séculos, no mar, no ar, na terra e debaixo dela, o corredor marítimo que divide França e a Inglaterra. Hoje, 26 de Setembro 2006, quatorze anos depois da inauguração do Eurotúnel, sessenta e quatro anos após o desembarque das tropas aliadas na Normandia e quase há um século do primeiro vôo internacional, pilotado pelo aviador francês Louis Blériot, mais uma página do percurso glorioso da raça humana foi escrita no Canal da Mancha. Um homem voou como pássaro, lembrando a legenda grega de Ícaro.
Para realizar a façanha, o suíço Yves Rossy, de 49 anos de idade, usou os movimentos da cabeça como leme, o corpo serviu de fuselagem e nas costas, uma asa de fibra de carbono de 2,5 metros de envergadura com quatro miniturbinas a jato. Às 14h10, horário local, ele saltou do monomotor Pilatus, nos céus de Calais, na França. Treze minutos depois desceu de pára-quedas aos pés do farol da baía de Saint Mary, próximo à cidade de Dover, na Inglaterra,. O lugar estava repleto de jornalistas, fotógrafos, câmeras e microfones a espera do homem a jato. "Eu me senti em um outro mundo," disse Rossy depois de pousar. Na semana que vem, ele retornará para o seu mundo. Volta a pilotar um enfadonho Airbus A320 da companhia Swiss International Air Lines cuja única vantagem, segundo Rossy, é ter champagne à bordo.
Leia mais sobre Yves Rossy e sua engenhoca voadora na nota abaixo.
"Pequeno passo para o homem, grande salto para humanidade"
O que é, o que é? Tem asas e turbinas. Um avião? Não. Tem cabeça, coração e voa. Um pássaro? Não. Então é o Ícaro, da mitologia grega. Está esquentando. O Super-homem? Quase. Trata-se de Yves Rossy, piloto suíço de 49 anos, que ganha vida levando e trazendo passageiros entre Londres e Zurique, em um jato Airbus A320 da companhia Swiss International Air Lines. Amanhã, 26 de setembro, ele lembrará personagens do filme Those Magnificent Men in Their Flying Machines, (Estes Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras), realizado pelo diretor britânico Ken Annakin, em 1965. Na verdade, Rossy com seu traje de astronauta estará mais parecido com o intrépido boneco Buzz Lightyear do desenho animado Toy Story. Isso acontecerá se as condições meteorológicas não retardarem, uma vez mais, a tentativa de atravessar os 35 quilômetros do Canal da Mancha, levando nas costas a engenhoca de 55 quilos quando os quatro tanques — 8 litros de querosene cada — estão cheios: uma asa de fibra de carbono cuja envergadura tem 2,50 metros e quatro mini turbinas revestidas de Kevlar com propulsão de 20 quilos, capazes de voar a 190 km/h.
Rossy espera percorrer o mesmo trajeto escolhido pelo pioneiro da aviação, o francês Louis Blériot, em 1909. Mas desta vez, em apenas 13 minutos — o bigodudo Blérliot entrou para história, 99 anos atrás, sobrevoando pela primeira o canal em 37 minutos, sem instrumentos de navegação a bordo de um monomotor. Uma dificuldade suplementar: os vôos de Calais a Dover acontecem, normalmente, contra o vento. Se o vento estiver muito forte, Rossy corre o risco de não ter combustível bastante para realizar o percurso. Caso Rossy consiga — faz se necessário um céu com visibilidade até 4.000 metros de altura e de preferência, sem chuva — será um feito de primeira grandeza. A raça humana, embora já pode voar dentro de maquinas, nunca esteve tão próxima do mito de Ícaro, do Super-homem ou dos pássaros. Dentro do seu capacete equipado com um altímetro ultra sônico, Rossy diz que se conduz segundo conselhos de "abelhinhas". "Quando estou com medo não vôo."
Amanhã, 26 de setembro, apartir das 9 horas (Brasilia), você poderá assistir, ao vivo a tentativa, de Rossy clicando aqui.
Legendas do gráfico:
1. Yves Rossy salta do monomotor à 4.000 metros de altura, nos arredores de Cap Blanc Nez, próximo a Calais, na França.
2. As asas da engenhoca voadora são abertas.
3. Rossy cruza o Canal da Mancha, em 13 minutos com uma velocidade de 190 km/h impulsionado por quatro miniturbinas de 20 quilos de potência.
4. Rossy abre o pára-quedas quando estiver 760 metros de altura para pousar nas cercanias de Dover, na Inglaterra.