Líbano lamenta explosão em Beirut
O Líbano vive um dia de lamentos um dia depois da polícia constatar um morte de pelo menos outras três outras pessoas que foram mortas em uma explosão de uma bomba em Beirut, no setor leste.
As forças de segurança asseguraram um dia comemorativo para o Capitão Wissam Eid, e seu guarda costas assassinados em uma delegacia de polícia fora de Beirut no sábado.
"Hoje nós ofertamos despedida e nós garantirmos que como forças de segurança interna continuaremos a confrontar aqueles que quiseram aterrorisar esta nação," disse o Brigadeiro General Ashraf Rifi, chefe de Forças de Segurança do Líbano, em seu gabinete de trabalho.
Mais aqui (em inglês).
Brown propõe reformar instituições globais
As sugestões de Brown cobrem as instituições nascidas ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), a saber: o Fundo Monetário Internacional, responsável pelas finanças; seu gêmeo para o financiamento ao desenvolvimento, o Banco Mundial; as Nações Unidas; e, indiretamente, a de mais recente criação, a Organização Mundial do Comércio.
Brown não a citou, mas disse que o desafio "é fazer as negociações comerciais avançarem", uma alusão à Rodada Doha de liberalização comercial, a empreitada em que a OMC está empenhada desde 2001, sem grandes avanços até agora.
A lógica do premiê britânico é esta: "As instituições criadas nos anos 40 do século passado, em um ambiente de economias fechadas, não podem lidar com as novas situações", entre as quais citou desde o terrorismo até o poder da internet.
Para o FMI, defendeu um sistema melhor de "early warning" sobre crises (aviso prévio, em tradução livre), um tema recorrente desde a crise asiática de 1997.
Brown ataca a hipótese de uma "regulamentação pesada" dos mercados financeiros e diz preferir a transparência. Acha que há "muito pouca avaliação sobre riscos", mas a sua crítica à "regulamentação pesada" ressuscita o debate que precedeu a reunião do ano passado do G8.
A anfitriã Alemanha queria, no mínimo, um código de conduta voluntário para os chamados "hedge funds", os mecanismos financeiros de proteção contra apostas arriscadas.
Os Estados Unidos vetaram até essa modesta pretensão de pôr alguma ordem no mercado financeiro.
Para as Nações Unidas, o líder britânico sugere a criação de uma "agência de resposta rápida" para atuar em países em crise aguda (citou os casos da Bósnia, nos anos 90, e de Ruanda). Não se trataria apenas de intervenção militar, mas de atuar também na reconstrução e no desenvolvimento do país.
O chanceler brasileiro Celso Amorim aceita a idéia, mas com uma ressalva: "Desde que [a força de intervenção rápida] seja devidamente autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU". Justifica: "A pressa, sem a devida autorização, pode provocar mais problemas", no que parece uma alusão à ocupação do Iraque pelos Estados Unidos e um pequeno grupo de aliados, sem a autorização do Conselho de Segurança.
Para o Banco Mundial, Brown quer um papel que vá além do financiamento ao desenvolvimento, para tornar-se também um banco para o meio ambiente.
Celso Amorim concorda de novo. Mas diz que o Banco Mundial já "é um pouco assim", tanto que todos os projetos que financia têm, antes, que passar por uma avaliação de impacto ambiental.
O chanceler brasileiro pede também que o Banco Mundial "não deixe de combater a pobreza e a fome, que são os maiores inimigos do ambiente".
Brown vai além: "A questão da pobreza deveria ser encarada como uma emergência".
O premiê britânico diz que, se houver as reformas, "as instituições globais se tornarão irrelevantes". (CLÓVIS ROSSI)
FMI exige supervisionar economia dos EUA
CRISE NOS MERCADOS / FÓRUM DE DAVOS
Nº 1 do Fundo, Dominique Strauss-Kahn diz que "países desenvolvidos precisam aceitar ser escrutinados" pela instituição
EUA, donos da maior fatia de capital do FMI, sempre impuseram que o órgão vigiasse os países em desenvolvimento
Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, para quem os EUA estão sub-representados no Fundo Monetário Internacional
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Davos foi palco ontem de uma cena explícita de ironia: o novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, o francês Dominique Strauss-Kahn, disse que "os países desenvolvidos precisam aceitar ser escrutinados pelo Fundo".
Na verdade, ele está se referindo aos EUA, até porque, pouco antes, havia dito que Washington recusara a hipótese de algum tipo de fiscalização.
A ironia está dada pelo fato de que os Estados Unidos, donos da maior fatia de capital do FMI, sempre impuseram ao Fundo que vigiasse os países em desenvolvimento, com o mesmo tipo de "escrutínio" agora defendido para o mundo rico.
A lógica por trás da afirmação de DSK, como é conhecido o novo diretor-gerente, é simples mas realista: "Nós estivemos focando, durante décadas, o que parecia ser o único problema, crises cambiais e de conta corrente nos países em desenvolvimento" (conta corrente é o resultado de todas as transações de um país com o mundo).
Agora, a crise tem seu epicentro em um país rico ou, mais exatamente, no mais rico de todos eles, os Estados Unidos.
Não foi, aliás, a única ironia do dia sobre o mesmo assunto. Pouco antes de Strauss-Kahn falar, em almoço no Waldhotel, no alto da montanha, lá em baixo, na Promenade, a única real avenida da pequena Davos, o chanceler brasileiro Celso Amorim dizia basicamente a mesma coisa, ao comentar a proposta do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, para que o FMI criasse um mecanismo de "early warning" (aviso prévio) sobre crises.
"Concordo, desde que valha para todos", afirmou Amorim. E disparou sua ironia: "O FMI deve deixar de ser xerife do Terceiro Mundo para se transformar em órgão de supervisão geral". Mais: "Os Estados Unidos tiveram excessiva tolerância com os financiamentos "subprime'".
O almoço com Strauss-Kahn no Waldhotel foi uma espécie de ato de contrição, até porque a crise coloca "um desafio para a legitimidade do FMI e para a sua relevância", como disse Axel Weber, presidente do Bundesbank, o outrora todo-poderoso banco central alemão, agora apenas um braço nacional do BCE, o Banco Central Europeu.
Reforçou Mehmet Simsek, ministro turco de Economia: "As regras do jogo estão mudando. O mundo é muito mais complicado".
Weber também criticou o fato de que, "se hoje a questão do gerenciamento da crise é um tema importante, é apenas porque não se pôs ênfase na prevenção da crise".
Adiantaria tratar de preveni-la ou supervisionar os EUA? Strauss-Kahn tem dúvidas: "Não dá para dizer se a supervisão evitaria a presente crise".
Fórmula mágica
Já Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o "irmão" do FMI, incumbido de financiar o desenvolvimento, advertiu contra a tentação de acreditar que uma redistribuição das cotas do capital do Fundo seria a fórmula mágica. Segundo as contas de Zoellick, "por qualquer critério métrico que se adotar, os Estados Unidos estão, na verdade, sub-representados" (ou seja, deveriam ter mais cotas do que têm).
DSK foi um pouco na mesma linha, ao se referir ao Brasil, que disse ser "muito vocal" na reivindicação do aumento de cotas para os países emergentes (o que é verdade). "Para quanto aumentaria a cota do Brasil? De 1,41% para 1,6% ou 1,7%? Não mudaria o mundo."
Mas não deixou de reconhecer que "a legitimidade da instituição está em jogo".
Fonte: Folha de S. Paulo
Moratória amazônica
Antes, é bom qualificar as coisas. Assim como há muita estupidez relacionando a "destruição da Amazônia" com a mudança climática, um processo ainda aberto a muitas interpretações, é tolice falar em apocalipse florestal. Se o aumento no desmatamento assusta, a derrubada é menor que no passado.
Isso apesar da estrutura ridícula do Estado na Amazônia. Veja o caso do Mato Grosso: o efetivo do Ibama é insuficiente, há um pesadelo fundiário que ninguém tem coragem de enfrentar. Para completar, a corrupção grassa.
O problema é a curva do desmatamento, que foi invertida, e por isso o alarmismo oficial -pega mal ganhar um carimbo de governo pouco preocupado com o ambiente.
O problema é que, para atacar a questão, o Planalto terá de fazer algumas escolhas difíceis. É possível ou desejável barrar o agronegócio em favor da conservação?
Os fundamentalistas aliados à criacionista Marina Silva dizem que parar a motosserra e o "correntão" dos plantadores de soja e criadores de gado é um imperativo. Já os gananciosos amigos da brasileiríssima mistura de empresário e político Blairo Maggi dizem que tem muito mato para derrubar, que as críticas atrasam a economia.
A resposta certa é difícil, combinando exploração com conservação e adicionando elementos como entrar a fundo no mercado mundial de créditos de carbono e ganhar dinheiro com a floresta em pé. Mas não será com um pedido de moratória, impraticável, beirando o ridículo, que o governo irá resolver o problema.
Farra na Amazônia
Jorge Araújo/Folha Imagem
Sobrevôo feito ontem em Mato Grosso revela que plano do governo para frear desmate pode ter chegado tarde demais
Além dos novos caminhos abertos para o gado na Amazônia, pátios das madeireiras estão cheios de toras prontas para a entrega
Máquinas trabalham para arrastar árvores amazônicas já derrubadas e fazer a limpeza do local para o gado poder pastar em uma fazenda no município de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso
RODRIGO VARGAS
JORGE ARAÚJO
ENVIADOS ESPECIAIS A ALTA FLORESTA (MT)
Um dia depois de o governo federal anunciar a suspensão de licença de desmate em 36 municípios que concentram 50% do desmatamento na Amazônia, os tratores de esteira não interromperam o trabalho de abrir caminho para a agricultura e a pecuária em áreas nativas de Alta Floresta e Paranaíta, no extremo norte de Mato Grosso (830 km de Cuiabá). Os municípios constam da lista de maiores devastações divulgada anteontem.
A reportagem da Folha sobrevoou por uma hora, em um avião monomotor, trechos de floresta dos dois municípios. Próximo a Paranaíta, um trator e um caminhão, com cerca de quatro pessoas, derrubavam as árvores. O sobrevôo foi feito nas mais recentes derrubadas na região, ocorridas entre os meses de novembro e dezembro. O roteiro foi traçado com base nas coordenadas obtidas pelo sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Além de confirmar a precisão do levantamento feito por satélite -ainda não haviam sido retirados ou queimados os restos florestais-, a reportagem constatou que o ritmo da devastação não parece ter sido alterado pelo anúncio das recentes medidas de controle. E que, ao menos naquela região, as medidas adotadas podem ter chegado tarde demais.
O método da devastação começa com madeireiros derrubando com motosserra árvores selecionadas, que depois vão se transformar em madeiras nobres. Em seguida, vêm os tratores, que derrubam as árvores remanescentes e que, depois, serão queimadas, para limpar a área que será usada pelo gado.
A reportagem também fez sobrevôo sobre algumas madeireiras. Nos pátios, grandes depósitos de toras e centenas de cargas de madeira serrada já prontas para o transporte. No rumo norte, em direção ao limite da fronteira agrícola, na divisa com o Estado do Pará, um mosaico irregular era formado por pastagens, manchas esparsas de gado, cursos d'água degradados ou interrompidos por represas particulares. Tudo isso em meio a ilhas, cada vez menores, de mata.
Foram vistas estradas recém-abertas em meio à floresta, um indicativo seguro de onde serão os novos desmates. Em um desses trechos, ainda em Paranaíta, um trator de esteira trabalhava em uma nova derrubada. Perto dali, um igarapé (rio pequeno) repleto de buritis (espécie de palmeira) cortado ao meio e aterrado para a passagem de uma estrada.
O ambientalista Laurent Micol, que atua na região pela organização não-governamental ICV (Instituto Centro de Vida), afirmou que é evidente a retomada da devastação. "Mesmo que os números estejam abaixo do registrado em anos críticos, é nítida a atual tendência."
Segundo ele, a recuperação financeira do agronegócio é a hipótese mais provável para explicar o avanço sobre novas áreas. "Desmatamento é investimento por parte do produtor rural. E ele só pode fazer isso se estiver capitalizado."
Essa hipótese ganha mais força quando leva-se em conta a crise que atingiu o agronegócio entre 2005 e 2006. "Existe uma ligação entre preços de commodities e desmatamento. Os preços de um ano influenciam os números do ano seguinte. Neste momento, os preços estão muito altos."
Em Alta Floresta, antes de realizar o sobrevôo nas áreas devastadas, a reportagem ouviu o gerente do sindicato dos produtores rurais, que inclui agricultores e pecuaristas, Rogério Rizo. Ele disse considerar "um equívoco" a presença do município na lista dos maiores devastadores da floresta.
Outro lado
Após o sobrevôo, a reportagem procurou o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. As assessorias dos dois órgãos não encontraram ninguém para comentar o caso até as 19h40. Em Alta Floresta, na sede do Ibama, também ninguém atendeu o telefone.
Eletronorte será de Jader Barbalho
Jader próximo a ocupar a Eletronorte
A estatal Eletronorte, com orçamento de aproximadamente R$ 5,5 bilhões, será provavelmente entregue pelo governo Lula ao grupo do dep. Jader Barbalho (PMDB-PA). Observadores da política energética estão preocupados pela indicação a presidente de um homem de confiança de Jader e tido como símbolo de corrupção em governos de diferentes cores políticas. Trata-se de Lívio Rodrigues de Assis, atual diretor do DETRAN no Pará.
Lívio Rodrigues de Assis teve um papel importante no governo federal na presidência de Itamar Franco, quando foi chamado pelo então ministro Eliseu Padilha a dirigir as concessões das operações rodoviárias. Em sua gestão explodiu o escândalo do então DNER - hoje DNIT- e teve de ser demitido pelo ministro, numa tentativa deste de ser poupado das denúncias. Mas conseguiu se manter em cargos públicos até hoje. De acordo com fontes do site amazonia, a operação já tem a chancela da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.
Jader há tempo reclamava por não ter recebido cargos de peso suficiente em troca do decisivo apoio para a governadora Ana Júlia (PT) nas eleições de 2006. Ele poderá ter acesso à Eletronorte graças ao fato que o sen. José Sarney (PMDP-AP), que tradicionalmente controla a estatal, receberá a holding do grupo elétrico, a Eletrobras, que tem orçamento de quase R$ 15 bilhões. O ex presidente já está deslocando sua antiga equipe da Eletronorte para a Eletrobras, incluindo o diretor financeiro Astrogildo Quental.
Sealoprando no Mangaba
Sua Excelência foi tema de ampla repercussão negativa na imprensa.
Abaixo a íntegra do esboço de suas idéias.
PROJETO AMAZONIA -- ESBOÇO DE UMA PROPOSTA
Roberto Mangabeira Unger
A tarefa
. Essa é uma proposta para fazer do soerguimento da Amazônia prioridade brasileira na primeira metade do século 21. Transformando a Amazônia, o Brasil se transformará.
Aqui esboço, a título provisório e para provocar discussäo, possíveis diretrizes dessa proposta. Apresento visäo dos problemas e das oportunidades com que se defronta o país hoje na Amazônia. E sugiro, a partir dessa análise, algumas grandes linhas de estratégias específicas para as diferentes partes da Amazônia.
A premissa da proposta é que na Amazônia o Brasil se pode revelar ao Brasil. O bioma amazônico representa pelo menos um terço de nosso território nacional. Atrai a atençäo do mundo todo, por ser de longe a maior selva úmida do planeta; por estar ligada, como vítima e como soluçäo, ao debate mundial a respeito de mudança de clima; por ser a maior reserva de biodiversiade do planeta e por conter cerca de 20% da água doce da Terra.
Hoje a discussão do destino da Amazônia serve como alavanca de pressão do mundo sobre o Brasil. Pode, porém, servir para abrir espaço para nós no mundo. Para isso, temos de mostrar como, ao reafirmar nossa soberania na Amazônia, podemos fazê-lo a serviço não só do Brasil mas também da humanidade.
Uma iniciativa nacional a respeito da Amazônia é capaz de esclarecer e de comover o país. Presta-se a uma narrativa de libertaçäo nacional. No século 19, completamos a ocupaçäo do litoral. No século 20, avançamos para o centro-oeste. No secúlo 21, reconstruiremos o Brasil ao reinventar a Amazônia.
O espírito da empreitada deve ser o de definir a Amazônia como vanguarda, näo como retaguarda. As soluçöes para os problemas da regiäo teräo de ser inovadoras; näo seräo fáceis de extrair do repertório de políticas públicas convencionais nem de situar no espectro das posiçöes ideológicas conhecidas. E podem servir para abrir caminho para toda a naçäo.
O problema
O ponto de partida é enfrentar problema central. Há hoje desnível perigoso entre o fervor do ambientalismo, que toma a Amazônia como tema predileto, e o relativo primitivismo das idéias econômicas disponíveis a respeito da ocupaçäo da Amazônia. No espaço deixado por esse descompasso, profliferam no país duas idéias inadequadas a respeito do futuro da Amazônia.
De acordo com a primeira idéia, a Amazônia deve virar parque para o benefício e o deleite da humanidade. As únicas atividades produtivas a tolerar nela seriam as iniciativas extrativas rudimentares. Dessa regra estaria eximido apenas tudo o que puder ser produzir em cidades rigidamente separadas da selva circundante.
De acordo com a segunda idéia, a Amazônia deve ser dividida entre grandes reservas florestais, fechadas a quase toda a atividade econômica, e áreas, também grandes, em que a floresta cede lugar a atividades produtivas. Atividades que implicam desmatamento, como a pecuária extensiva e o plantio de soja. Näo há como ou por que resistir às forças do mercado.
Se o Brasil for obrigado a escolher, na Amazônia, como em qualquer outra de suas grandes regiöes, entre desenvolvimento e preservaçäo da natureza, escolherá desenvolvimento. É, porém, escolha inaceitável e desnecessária. Temos condiçöes de construir na Amazônia o que nos países ricos de hoje tanto se fala e quase nunca se pratica: um modelo de desenvolvimento que ao mesmo tempo utilize e preserva a natureza. Para isso, porém, é preciso imaginar e ousar.
O eixo
O eixo da soluçäo necessária é um projeto de zoneamento econômico e ecológico que possibilite a formulaçäo de estratégias econômicas distintas para as diferentes partes da Amazonia. (Desconsideremos, para essa finalidade, as diferenças conceituais entre "zona"s e outras divisöes geográficas.)
Há muito que se reconhece a importância de tal zoneamento. Em grande parte da Amazônia, ainda näo e traduziu o princípio em realidade. É que zoneamento econômico e ecológico näo representa exercíco de cartografia. Significa traduçäo espacial de um pensamento econômico. É esse pensamento que tem faltado -- na forma e no grau requeridas -- à Amazônia e ao Brasil.
Zoneamento econômico e ecológico é simplesmente uma maneira de decidir o que pode -- e deve -- ser produzido onde. Näo se confunde com a pretensäo de planejar atividades produtivas determinadas e de designá-las como adequadas ou inadequadas para certas regiöes. Estabelece os limites do que pode e näo pode ocorrer em cada área zoneada. Daí ser a contrapartida ao zoneamento econômico e ecológico um conjunto de estratégias economicas -- e de idéias institucionais que as acompanhem -- para cada um dos territórios classificados pelo zoneamento.
O pressuposto prático mais importante do zoneamento econômico e ecológico é a soluçäo dos problemas fundiários em toda a Amazônia. Há muito pouco que se pode fazer enquanto a titularidade da terra -- ou a legitimidade de sua posse -- continuarem em dúvida.
A partir do eixo representado pelo zoneamento econômico e ecológico, é possível começar a formular um projeto econômico para a Amazônia em duas grandes vertentes: para a Amazônia já desmatada e as grandes cidades (onde se concentra, ainda mais do que em outras regiöes do país, a maior parte da populaçäo) e para a Amazônia onde a mata permanece em pé.
A Amazônia sem mata: novo modelo econômico
Na Amazônia já desmatada -- grande parte dela na fronteira oriental e meridional da selva -- a melhor soluçäo näo é tentar reverter o desmatamento e restringir às cidades toda a atividade näo florestal. Mas também näo é coonestar a entrega dessas áreas a atividades econômicas ao mesmo tempo depredadoras e ineficientes, como a pecuária extensiva -- a maior inimiga da mata na Amazônia.
A soluçäo é aproveitar esse espaço para inovar, construindo na agricultura, na pequena indústria e nos serviços um modelo econômico que näo repita os erros do passado brasileiro. Três características devem pautar tal modelo.
O primeiro traço é coordenaçäo estratégica entre os governos e a iniciativa privada, sobretudo a iniciativa dos pequenos produtores, livre de qualquer constrangimento de preconceito ideológico. Uma das áreas mais importantes para efetivar essa orientaçäo é a agricultura familiar. Deve ela integrar-se, quando conveniente, com a pecuária intensiva, e apoiar-se num sistema de seguro de renda e de garantia de preço -- indispensável à estabilidade da agricultura familiar. É sistema que ainda näo conseguimos generalizar no país.
O segundo atributo é o estímulo pelo governo às práticas de "concorrência cooperativa" entre os pequenos produtores: práticas por meio das quais possam esses produtores competir e cooperar ao mesmo tempo e ganhar, por meio da cooperaçäo, acesso a economias de escala. É princípio que se pode aplicar em todos os setores da economia, inclusive a empreendimentos tecnologicamente avançados, como demonstra a experiência de algumas das economias regionais mais vanguardistas da Europa.
O terceiro distintivo é o esforço para estabelecer vínculos diretos entre as vanguardas e as retaguardas da produçäo. Indústrias de ponta, "pós-Fordistas", podem produzir, de maneira näo padronizada, máquinas e insumos que a retaguarda de empreendimentos menores e mais atrasados consigam usar. O objetivo é pular a etapa do modelo industrial paulista, organizado em meados do século 20 em torno de um "Fordismo" já tardio: a produçäo em grande escala de bens padronizados, por meio de maquinária e processos produtivos rígidas, hierarquias e especializaçöes definidas e mäo de obra semi-qualificada.
A idéia é simples e fundamental: aproveitar o espaço da Amazônia já desmatada para fazer diferente do que se fêz até agora na organizaçäo da economia brasileira.
A Amazônia sem mata: a Zona Franca de Manaus
As duas principais atividades econômicas na Amazônia hoje säo a mineraçäo no Pará e a Zona Franca em Manaus.
A Zona Franca apresenta uma realidade desconhecida, e portanto também um potencial desconhecida, pelos brasileiros: potencial em si mesma e potencial como exemplo para iniciativas análogas em outras partes da regiäo.
Ao contrário do que se supöe, a Zona Franca näo se compöe em sua maior parte de meras maquiladoras: indústrias que apenas montem passivamente bens cujos componentes säo
fabricados no estrangeiro. Pelo contrário, a Zona Franca serve de palco para espectro amplo de experimentos industriais, que combinam, em graus variados, fabricaçäo vertical, montagem e inovaçäo. Lá se encontra muito de industrialmente primitivo ao lado de bastante de industrial avançado.
Todas as características do modelo econômico alternativo enumerados anteriormente lá teriam a melhor oportunidade para desenvolver-se. Os governos da Uniäo e do Amazonas já estäo engajados, por meio do próprio estabelecimento da Zona Franca, dos incentivos que a possibilitam e de políticas que incentivam a substituiçäo das atividades de montagem por atividades de transformaçäo. As práticas de "concorrência cooperativa" se desenvolveriam com naturalidade e com proveito no ambiente de um parque industrial. Falta ainda construir e estreitar vínculos diretos, na Zona Franca, entre empresas mais e menos avançadas dentro das mesmas cadeias produtivas.
A questäo central é se a Zona Franca deve ser entendida apenas como entreposto dependente do favor fiscal e montador de produtos padronizados ou se deve ser compreendida, também e sobretudo, como laboratório de práticas e de empreendimentos inovadores. Cono laboratório, estaria livre de alguns dos entraves que a produçäo enfrenta Brasil afora. E poderia acalentar empreendimentos de significado exemplar.
Parece razoável supor que a Zona Frana näo é instrinsecamente nem a primeira nem a segunda dessas realidades. O interesse da Amazônia e do Brasil, porém, é assegurar que a segunda realidade prevaleça sobre a primeira. E formar os quadros que ela exige. Se prevalecer a segunda realidade, o enclave representado pela Zona Franca em Manaus deve ser reproduzido, em moldes semelhantes ainda que em escala menor, em outras cidades da Amazônia.
A Amazônia com mata: o manejo controlado e sustentável da floresta
Na maior parte da Amazônia -- a Amazônia com mata -- o objetivo deve ser organizar o manejo controlado e sustentável da floresta. Manejo que use a floresta mas que também a preserve, por meio de uso esclanado ou rotativo e por replantio constante das árvores.
Há imenso potencial. É baixa a eficiência de nossa indústria florestal quando comparada com a das grandes naçöes de florestas temperadas. As causas dessa situaçäo näo estäo na natureza; estäo em nossas limitaçöes tecnológicas, econômicas e institucionais.
O manejo controlado e sustentável da floresta tem pressuposto nacional e pressuposto internacional.
O pressuposto nacional é que os regimes tributário e regulatório façam a floresta em pé valer mais do que a floresta derrubada. Enquanto valer mais derrubada, derrubada será. Tanto o regime tributário quanto o marco regulatório devem tratar com dois pesos e com duas medidas as atividades econômicas que depredam a floresta e as que a preservam.
O pressuposto internacional é que saibamos aproveitar ou construir os instrumentos para assegurar que o mundo arque com parte dos custos de benefícios que aproveitaräo toda a humanidade mas que, na falta de tais instrumentos, só nós teríamos de custear. Trata-se de fazer compartilhar aquilo que os economistas chamam "externalidades positivas".
Já existe ao menos um mecanismo -- o do dos "créditos de carbono" -- estabelecido pelo Tratado de Kyoto. Faltam, de nossa parte, as medidas necessárias para credenciar nossa selva úmida aos benefícios ali previstos. Näo há, porém, por que nos atermos a essa única fórmula. Há outras maneiras -- inclusive por acertos bilaterais -- para conseguir participaçäo estrangeiro no financiamento, mesmo a fundo perdido, de iniciativas preservacionistas nossas. Iniciativas que säo reivindicadas hoje por muitos governos estrangeiros e organismos internacionais.
Atendidos esses presuppostos -- o nacional e internacional --, há três grandes problemas a resolver para que se possa organizar na Amazônia brasileira o manejo controlado e sustentável da floresta: o primeiro, tecnológico; o segundo, técnico; o terceiro, institucional.
O problema tecnológico é a falta de instrumental adequado para o aproveitamento de florestal com as características da nossa. A tecnologia à disposiçäo no mundo para o aproveitamento florestal evoluiu para trabalhar com as florestas temperadas -- muito menos ricas e muito mais homogêneas do a nossa. Disponível no mundo está uma tecnologia que se adequa às florestas da Finlândia muito mais do que às florestas do Brasil.
Näo convém aguardar que o mercado mundial providencie, em algum momento longínquo do futuro, a necessária resposta tecnológica. Tratemos nós de fazer fabricar o de que precisamos. Pode ser por acerto do governo, via BNDES, com grandes empresas privadas brasileiras do setor de bens de capital. Ou pode ser por açäo direta do governo. Pode o governo fundar e capitalizar, no regime de mercado, sem monopólio ou oligopólio e com gestäo profissional independente, empreendimento destinado a inventar e a fabricar a tecnologia melhor para nós. Poderia logo que possível ser vendido a investidores privados, mas sempre por preço de mercado ou em troca de participaçäo acionária nos empreendimentos privados subsequentes, como faria um "venture capitalist".
O problema técnico é a necessidade de organizar a prestaçäo de serviços ambientais. Tais serviços incluem todo o monitoramento do manejo da floresta. Näo se limitam, porém, a vigiar as florestas, dentro e fora das reservas ecológicas; implicam, também e sobretudo, orientar todas as atividades econômicas ligadas à selva, desde o simples extrativismo até as inciativas mais avançadas (ver adiante) que se desenvolveram ao redor da produçäo florestal controlada e sustentável.
Trata-se, portanto, de verdadeiro extensionismo tecnológico. Como tal, precisa ser organizado como resposabilidade do serviço público federal, a partir do Serviço Florestal, em colaboraçäo com os governos do estados e dos municípios da Amazônia. Teremos de formular critérios para distinguir os serviços florestais que os agentes privados devem remunerar dos serviços florestais que se devem prestar gratuitamente.
A verdadeira dificuldade na soluçäo desse problema técnico nada tem de técnico. Reside em dificuldade de âmbito maior, que guarda relaçäo com outros aspectos desse projeto Amazônia, sobretudo com o lançamento das atividades produtivas experimentais e vangardistas, aventadas adiante nesse texto. Para que se possam disponiblizar, na dimensäo necessária, serviços ambientais, é preciso que quadros altamente qualificados se disponham a morar fora de grandes cidades. Em todo o mundo, pessoas de qualificaçäo elevada querem morar em centros urbanos. Uma das razöes mais importantes é que só em cidades, sobretudo em grandes cidades, é que se prestam serviços de alta qualidade. Ninguém no mundo descobriu como prestar serviços de alta qualidade a populaçäo rarefeita distribuída ao largo de vasto território. Esse é, entretanto, apenas um dos muitos resultados a conseguir para que se possa inaugurar na Amazônia o manejo controlado e sustentável da floresta.
O problema institucional (e jurídico) é a organizaçäo de alternativas aos regimes jurídicos tradicionais de controle público e de propriedade privada. O ponto de partida é entender o que já acontece em outras grandes naçöes florestais. Em muitas delas desponta, como regime jurídico incipiente para o manejo controlado e sustentável das florestas, a gestäo comunitária. O Estado continua a deter a titularidade de última instância. Transfere, porém, a posse e o usufruto para comunidades organizadas.
Seria esse um modelo de produçäo marcado pelos mesmos traços do modelo econômico que antes advogei para a Amazônia sem mata: coordenaçäo estratégica entre o poder público e a iniciativa privada, concorrência cooperativa entre os pequenos produtores e vínculo direto entre as vanguardas e as retaguardas da produçäo -- aquelas a produzir máquinas e insumos que estas consigam usar. A gestäo comunitária coexisteria com a atuaçäo de grandes empresas madereiras, tipicamente trabalhando por meio de concessöes duradouras de florestas que continuariam sob o domínio do Estado.
Ocorre que a gestäo comunitária continua, em todo o mundo, a ser realidade nascente sem ordenamento jurídico. Ainda näo se cristalizou em regime jurídico de propriedade social, distinta das formas tradicionais de propriedade privada e de propriedade pública. Essa falta de articulaçäo jurídica näo representa apenas problema; constitui também oportunidade. A democratizaçäo da economia de mercado exige a multiplicaçäo de formas alternativas de propriedade privada e social, que passariam a coexistir experimentalmente dentro da mesma economia de mercado. A organizaçäo jurídica da gestäo comunitária das florestas na Amazônia pode servir como primeiro passo.
Näo se viabilizará sem ajuda do Estado -- técnica e
financeira. Daí, mais uma vez, a necessidade de organizar coordenaçäo estratégica descentralizada entre o poder público e a iniciativa privada, estimular as práticas de concorrência cooperativa entre os pequenos produtores (agentes presuntivos da gestäo comunitária das florestas) e provocar a vinculaçäo direta das vanguardas e retaguardas da indústria floresta: empresas que produzam a tecnologia nova, apropriada ao cultivo das florestas tropicais. E que as disponibilizem aos empreendimentos emergentes da gestäo comunitária.
A Amazônia com mata: o caminho futuro
Ao mesmo tempo que organizarmos para já o manejo controlado e sustentável da floresta, precisamos abrir caminho para o futuro. Na maneira de coordenar as iniciativas de agora com as possibilidades do futuro, devemos fazer o que faria qualquer grande empresa interessada em inovar. Construir ao lado do negócio estabelecido uma periferia de empreendimentos experimentais. Com isso, revelam-se, experimentalmente, novas oportunidades produtivas sem que se tenha de pôr em risco o negócio constituído.
Há duas atividades que se apresentam, da perspectiva de hoje, como candidatas prioritárias a esse papel vanguardista.
A primeira atividade é a aproveitamento tecnológico -- sobretudo farmacológico -- da biodiversidade. A selva úmida constitui laboratório natural: vasta cadeia de variantes e de analogias químicas, cujo potencial quer para aproveitar-se diretamente, quer para pautar a invençaäo de equivalentes sintéticas, permanece quase inteiramente desconhecido. A mobilizaçäo desse potencial exige em alto grau aquilo que nossa indústria principiante de fármacos e de medicamentos ainda näo se preparou para fazer: pesquisa radical. Por isso mesmo, é provável que essa atividade näo avançará em qualquer futuro próximo sem presença forte do Estado.
A segunda atividade é a mobilizaçäo do potencial energético latente nas árvores -- na celulose e na lignina. Está ainda longe de ser economicamente eficiente a mobilizaçäo, por hidrólise, desse potencial. A tese de alguns é que, em algum momento do futuro próximo, será eficiente, ao menos se investirmos no desenvolvimento da tecnologia necessária. O resultado seria transformar toda a Amazônia com selva em vasto manancial de energia renovável. De acordo com a lógica do uso controlado e sustentável da floresta, a utilizaçäo rotativa das árvores seria sempre compensada por replantio equivalente.
Segundo essa tese, o lugar da madeira na história da humanidade é conto em quatro capítulos; o quarto ainda näo näo foi escrito. O primeiro capítulo foi a madeira como fonte de energia -- fogo. O segundo capítulo foi a madeira como material de construçäo -- prédios, navios e móveis. O terceiro capítulo é a madeira como fibra -- papel e celulose. O quarto capítulo -- ainda näo escrito -- é o da volta ao papel da madeira como fonte de energia.
Diante das possibilidades oferecidas por essas duas atividades de vanguarda, ou por outras igualmente desbravadoras, devemos precaver-nos contra qualquer dogmatismo, seja otimista ou pessimista. Näo somos nós que podemos escolher "os setores portadores de futuro". Quem os escolhe é o futuro. O objetivo prioritário näo deve ser fazer com que o governo federal e os governos locais apostem em algumas possibilidades contra outras. Deve ser organizar processos, práticas e instituiçöes que encarnem o impulso experimentalista. O importante é que tais arranjos näo se deixem atrelar a curto-prazismo mercantil incompatível com a natureza inovadora de tais empreitadas.
Há ponte natural entre o manejo controlado e sustentável da florestas e atividades produtivas de vanguarda como as consideradas aqui: a prestaçäo dos serviços ambientais, que tanto aquele como estas exigem. E que demandam a soluçäo anterior de problemas como o dos atrativos que se possam oferecer a quadros qualificados dispostos a morar e a trabalhar longe de grandes cidades.
Um conjunto de problemas correlatos
Definidas as duas grandes vertentes de um projeto
Amazônia, ganha novas cores uma série de problemas correlatos: a rede de transporte, a matriz energética, o uso das águas para irrigar áreas secas do país, o futuro da mineraçäo e o destino dos indígenas e de suas reservas. Trato sumariamente de cada um desses temas para marcar-lhe o lugar dentro da iniciativa maior.
Transporte
Na Amazônia precisamos inovar no modelo brasileiro
de transporte. Aqui, como em outras partes desse projeto, a inovaçäo local poderá ter valor exemplar para a naçäo.
Nossa tradiçäo de transporte confia tudo à rodovia, a menos eficiente das vias logísticas e pouco ou nada à ferrovia ou à hidrovia. (Regra geral no mundo -- altamente variável de acordo com circunstâncias geográficas, demográficas e econômicas) é ser hidrovia duas vez mais eficiente do que ferrovia e ferrovia duas vezes mais eficiente do que rodovia.)
Hoje a primeira prioridade da agricultura brasileira é o escoamento dos gräos do centro-oeste, especialmente seu escoamento pelo norte para o porto de Itaquí no Maranhäo. Exportar a soja do Mato Grosso de Itaguaí, em vez de exportá-la de Santos, significa, por exemplo, economizar cinco dias de caminho para Rotterdam -- ou, pelo canal de Panamá, para Shanghai. Em princípio, a melhor soluçäo é combinaçäo de rodovia, hidrovia (Rio Madeiro e afluentes) e ferrovia. E o que se aplica ao traslado do produto do centro-oeste aplica-se também à soluçäo dos problemas logísticos internos da Amazônia. O novo modelo de transporte multimodal na Amazônia serviria de cunha para começar a mudar o paradigma de transporte em todo o país.
A instabilidade das águas da Amazônia limita a viabilidade das hidrovias, mas näo a elimina. (A ferrovia, além de näo sofrer dessa instabilidade, é superior à rodovia näo só em eficiência de custo mas também em limitaçäo de impacto ambiental, sobretudo quando cercada de margens de reserva.) Essa instabilidade das bacias hidrográficas é mais uma razäo para insistir em rede de vias complementares, com de duplicaçäo de formas de acesso, para efeitos de segurança. E a necessidade de ampliar as formas de acesso ao Pacífico e ao Caribe abre oportunidade para aprofundar a dimensäo sul-americana de nossa proposta para a Amazônia.
Matriz energética
A base da matriz energética da Amazônia -- pelo menos até que se consolidem outras alternativas, como a mobilizaçäo da energia latente nas árvores -- é a combinaçäo de hidreletricidade, como elemento principal, e gás natural, importado de Estados fronteiriços (sobretudo a Bolívia) como elemento acessório.
Seria contrasenso que uma das regiöes de maior potencial hidrelétrico do mundo se privasse de desenvolvê-lo. Nem a dificuldade técnica apresentada pelo pouco declive dos rios, nem o risco real de prejuízo ao meio-ambiente säo razöes para parar. Säo, sim, razöes para inovar em tecnologias e técnicas que enfrentem aquela dificuldade e que mitigem este risco. Näo existe energia mais limpa ou mais renovável do que hidreletricidade.
É verdade que os dois problemas se agravam reciprocamente. O baixo declive dos rios fortalece a razäo para aumentar as áreas de inundaçäo, o que, por sua vez, agrava o prejuízo ambiental. Parte da soluçäo está em construir barragens (com eclusas) menores e mais numerosas, com as novas tecnologias que facilitam esse estilo de construçäo. E outra parte da soluçäo está em entender que as barragens podem atuar como palcos para experimentar novas formas de associaçäo produtiva entre o Estado e os pequenos produtores dentro de uma estratégia de desenvolvimento local. Näo säo apenas obras de engenharia; säo projetos sociais. Foi assim que funcionaram em meados do século 20 (nos Estados Unidos, por exemplo). E é assim que devem funcionar agora entre nós.
Agua da Amazônia para o semi-árido
O bioma Amazônica está ao lado do semi-árido nordestino. Numa regiäo, sobra água, inutilmente. Na outra regiäo, falta água, calamitosamente. O ingênuo indagará: por que näo transportar de onde tem para onde falta? E o técnico responderá: porque näo há como transportar a preço que alguém se disponha a pagar. A razäo, porém, acabará por assistir ao ingênuo, näo ao técnico. O custo do transporte de água é relativo às tecnologias disponíveis para transportá-la.
Representa problema análogo à falta de tecnologia apropriada ao aproveitamento das nossas florestas heterogêneas. As tecnologias de irrigaçäo desenvolvidas no mundo nunca tiveram de cumprir tarefa de dimensäo semelhante; novas maneiras de conceber e de construir aquedutos seriam necessárias para executá-la. Näo há porque tomar como dado e invariável o horizonte das tecnologias existentes. Temos de estender esse horizonte: novamente, num primeiro momento, por iniciativas públicas no financiamento e na organizaçäo das inovaçöes tecnológicas necessárias.
A água transportada deve ter näo só custo mas também preço. E o preço deve ser pago näo só aos investidores públicos e privados mas também aos Estados dententores do ativo físico.
Mineraçäo
A mineraçäo que se faz hoje na Amazônia, sobretudo no sul do Pará, é uma das principais atividades econômicas da regiäo. Pouco proveito traz, porém, à populaçäo amazônica. Tem valor substancial a seguinte simplificaçäo: leva-se o metal para fora e deixa-se o buraco da terra. Empregos, poucos. Dinheiro, longe.
A resposta a essa situaçäo inaceitável e desnecessária é dupla. A primeira parte da resposta é tributar a lavra. E destinar a receita aos Estados para financiar diferentes aspectos desse projeto Amazonia. Há várias fórmulas a considerar. Uma fórmula
é imposto geral, como seria o IVA, porém calculado para incidir com sobretaxa de alíquota sobre a lavra que näo seja seguida por agregaçäo local de valor.
Outra fórmula seria imposto sobre a exportaçäo de minerais (novamente com alíquota mais alto quando os metais lavrados näo sejam transformados dentro da Amazônia). Tal imposto ganharia mais legitimidade se fizer parte, como propöem alguns, de imposto geral de exportaçäo sobre "commodities". Com alíquota modesta, o impacto sobre a competitividade de nosso produto mineral seria modesto. A justificativa econômica é que näo só temos razöes para estimular a agregaçäo de valor e a formaçäo local de cadeias produtivas como também temos razöes para resistir a nossa dependência crescente da exportaçäo de "commodities" ("doença holandesa").
Finalmente, podemos admitir a possibilidade de um imposto que incida diretamente sobre a lavra. E que encontre sua justificativa maior no imperativo de tratar o custo de financiar atividades econômicos alternativas como parte legítimo do "cost of doing business". Ao menos quando se trata de um recurso ao mesmo tempo muito valioso e näo renovável como säo os minerais.
A segunda parte da resposta é inovar na associaçäo do poder público com a iniciativa privada para mobilizar nossas riquezas minerais. Em nosso sistema atual, o Estado faz pesquisa mineralógica e oferece os resultados gratuitamente às empresas privadas. O aproveitamento da riqueza mineral latente na terra fica refém da lógica mercantil, frequentemente curto-prazista, das grandes empresas. Näo há por que deixá-lo refém.
Como no que diz respeito à tecnologia de aproveitamento da floresta, o Estado pode atuar näo suprimir o mercado mas para radicalizar a lógica do mercado; näo para substituir concorrência por monopólio ou oligopólio mas para aguçar a concorrência; näo para contrabalançar mercado com políticas regulatórias e compensatórias mas para dar mais acesso a mais mercados para mais gente de mais maneiras. Pode, por exemplo, fundar e capitalizar empreendimentos de lavra (o custo seria irrisório em comparaçäo com o custo de isençöes fiscais e de créditos subsidiados) dentro do regime de mercado e com gestäo profissional independente. E pode vender o empreendimento logo que possível a agentes privados, ao preço que o mercado suportar, ou manter participaçäo acionária nos empreendimentos privados resultantes.
A situaçäo em que hoje talvez mais se justifique essa iniciativa talvez esteja fora do bioma Amazônico ainda que dentro da Amazônia legal. Em Roraima, imensa riqueza mineral dorme sem proveito em terras de indígenas, que näo têm, economica ou legalmente, como tirar proveito dela. O empreendedor -- público ou privado -- teria de estabelecer relaçäo contratual com os indígenas para lavrar o minério. E o direito brasileiro teria de mudar para permiti-lo.
Indígenas
Grande parte da Amazônia está reservada aos indígenas. Destinatários de terras, os indígenas estäo, entretanto, desfalcados de instrumentos e de oportunidades. Negam-se-lhes os meios para fazer algo com as terras que lhe säo reservadas. Sem condiçöes para progredir ou sequer para sustentar-se, ameaçam afundar na desagregaçäo social e moral -- no ócio involuntário, no extrativismo desequipado, no alcoolismo e no suicídio. Estranha combinaçäo de generosidade e de crueldade, essa com que os tratamos.
A transformaçäo da Amazônia deve vir acompanhada pela libertaçäo dos indígenas. Libertá-los näo é apenas dar-lhes terras e proibi-los de usá-las. Libertar-los é assegurar-lhes os meios para educar-se (em mais de uma língua e mais de uma cultura), para empreender e para associar-se com os governos e os empresários que lhes possam servir de sócios. O soerguimento dos povos indígenas será um dos indícios mais importantes de êxito na transformaçäo da Amazônia.
A quem pertence o projeto Amazônia?
O projeto Amazônia tem de ser em primeiro lugar projeto brasileiro de construçäo nacional. Ao assumi-lo como nosso, podemos em seguida levá-lo a um plano de maior autoridade e eficácia quando o tornarmos fulcro de projeto sul-americano. Projeto a ser desenvolvido em parceria com as repúblicas com que compartilhamos a Amazônia.
Essa dimensäo maior näo resultará de boas intençöes. Näo nascerá indutiva e espontaneamente como o mínimo denominador comum de uma série de estratégias nacionais fracas e pontuais. Por todas as razöes, somos nós que temos a primeira responsabilidade para provocar a discussäo com nossos vizinhos. Só a provocaremos se tivermos, em primeiro lugar, o que propor para nós mesmos. A partir daí é que se pode iniciar dinâmica sul-americana que tenha por conteúdo näo apenas os problemas comuns evidentes -- de transporte, energia e defesa -- mas também e sobretudo o conteúdo de nossas idéias a respeito da ocupaçäo da Amazônia, com e sem mata.
O projeto Amazônia näo deve ser apenas a reivindicaçäo dos estados e da sociedade da Amazônia junto ao governo federal e ao país. Se fôr, será visto, ainda que injustamente, como mais um pedido de mais um "lobby". E o Brasil quer se ver livre dos "lobbies". O país näo está dividido apenas entre classes e ideologias. Está dividido, também, entre uma minoria organizada e uma maioria -- de classe média e de pobres. Rebela-se a maioria contra a confederaçäo de corporativismos que vê dominar o país. É vital que a causa da Amazônia seja, e que pareça, parte da rebeliäo nacional contra o condomínio corporativista, näo como mais um exemplo de sua persistência.
Daí ser essencial que a campanha pela Amazônia conte com militantes e líderes de fora da Amazônia. E que se apresente aos olhos do país, como causa genuinamente nacional: oportunidade para reinventar o Brasil.
Nesse percurso, há dificuldade a enfrentar com clareza. A opiniäo predominante no Sudeste -- da juventude, da classe média ilustrada, da grande mídia impressionada com a temática cara aos países ricos -- prefirirá versäo "light" do projeto: versäo que enfatize os compromissos ecológicos e socias ao tentar também aproveitar e preservar a selva. Mas mostrará desconforto e perplexidade com tudo que soar como prenúncio de reconstruçäo institucional -- na Amazônia e, a partir da Amazônia, no país. Para essa opiniäo do Sudoeste, as idéias e as iniciativas que caminharem na direçäo das mudanças de modelo econômico pareceräo irrealistas ou perigosas: agenda "heavy", a ser afastada antes de contaminar a causa. Já outros näo acreditaräo que a causa possa avançar sem tal mudança de modelo: a reconstruçäo, näo a substituiçäo, da economia de mercado do que sua substituiçäo.
A causa da Amazônia precisa de ambos essas correntes de opiniäo: a "light" e a "heavy". Nenhuma das duas se deve sentir manipulada pela outra. As propostas práticas seräo, em muitos casos convergentes; as mesmas soluçöes podem ter justificativas e interpretaçöes diferentes. E quando as propostas e as estratégias divergirem, caberá à opiniäo nacional e à própria dinâmica do movimento arbitrar a divergência.
Desarmemos os espíritos. E entreguemo-nos a uma causa que, mais do que qualquer outra no Brasil de nossos dias, é capaz de engrandecer o país.
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Acompanhe a repercussão:
20-01
Folha de S.Paulo - O ideoduto de Mangabeira
O Estado de S.Paulo - 'Não precisamos de grandes projetos para Amazônia'
O Estado de S.Paulo - 'Quero um projeto nacional a longo prazo e não há prazo para isso'
O Estado de S.Paulo - Mangabeira vende extravagâncias
Jornal do Brasil - A selva engole outro ministro
19-01
Folha de S.Paulo - Mangabeira afirma preferir "ser imprudente a ser evasivo"
18-01
O Estado de S.Paulo - Baboseiras amazônicas
Jornal do Brasil - Mangabeira nega projeto de aqueduto
O Estado de S.Paulo - Amazônia real atropela idéias de Mangabeira
17-01
Folha de S.Paulo - Mangabeira Unger quer levar água da Amazônia para o NEO Globo - Idéias de Mangabeira para Amazônia provocam críticas de ambientalistas
O Estado de S.Paulo - Amazônia irrigaria NE, propõe Mangabeira
O Globo -'Falta uma injeção de realismo'
Fonte Brasil - Mangabeira quer levar água da Amazônia para o NE
O Liberal - Amazônia provocante: Ministro diz que propostas são apenas para estimular debates
16-01
O Globo - Ministro leva comitiva à Amazônia para apresentar suas propostas de longo prazo
O Globo - Marina Silva evita participar da comitiva
O Globo - Conheça o "Projeto Amazônia"
Agência Pará - Ministro defende modelo de desenvolvimento para a Amazônia
O Liberal - Amazônia como prioridade nacional
O Eco - Comitiva na Amazônia
Agência Estado - Unger: Amazônia deve ser prioridade do desenvolvimento
Radiobrás - Plano prevê estratégias para diferentes regiões da Amazônia, diz Mangabeira Unger
Volta triunfal
Gustavo Faleiros
DESMATAMENTO
23.01.2008
As derrubadas vinham crescendo devagar em agosto de 2007 e, em setembro, deram sinais de que tinham ganhado fôlego. Já em novembro e dezembro, provaram que chegaram para estourar a boca do balão. O Ministério do Meio Ambiente demorou a reconhecer, mas agora não há mais dúvida: o desmatamento na Amazônia, após três anos de queda consecutiva, voltou a crescer. Nesta quarta, a própria ministra Marina Silva e membros de sua equipe, além do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Gilberto Câmara, convocaram a imprensa em Brasília, para mostrar que apenas entre os meses de agosto e dezembro de 2007, cerca de 7000 mil km2 de floresta foram derrubados.
O número é extremamente alto, pois representa 64% de tudo o que havia sido desmatado entre o período de agosto de 2006 e julho de 2007, 11 mil km2. O INPE fecha o número anual de desflorestamento usando o sistema Prodes, que utiliza imagens com melhor resolução espacial do satélite americano Landsat. No caso dos dados sobre o segundo semestre de 2007, as imagens usadas provém do sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), que possui uma resolução menor, porém indica a tendência do desmatamento. O monitoramento do Deter, efetivamente registrou derrubadas de 3235 Km2, mas como ele representa, em média, 40% do desmatamento real, chega-se à estimativa de 7000 km2.
Além do crescimento acelerado da degradação na floresta, os números do INPE confirmaram uma triste suspeita. O estado do Mato Grosso, que já há dois anos, estava conseguindo reduções recordes em suas taxas de desmatamento, foi quem puxou os números para cima. Sua participação no desmatamento entre agosto e setembro de 2007 foi 53,7%. Logo após vêem os estados do Pará, com 17,8% de participação, e Rondônia, 16%.
O que realmente ligou o alerta geral do desmatamento no governo foram as altas taxas de desflorestamento registradas nos meses de novembro e dezembro. Nesta época chove na Amazônia e, por isso, não se captavam grandes desmatamentos. Tradicionalmente, as motos-serra e machados entram em ação a partir de maio e trabalham duro até setembro. Mas em 2007 foi diferente: novembro e dezembro juntos concentraram a perda de 2000 km2 dos 3235 km2 desmatados no segundo semestre. “Posso dizer que nunca o INPE havia registrado desmatamentos como esse nestes meses”, disse o diretor do órgão, Gilberto Câmara.
Uma das possibilidades aventadas pelo Ministério do Meio Ambiente é de que com a estiagem se prolongando pelo segundo semestre de 2007, alguns desmatamentos programados para este ano tenham sido adiantados. A dúvida primordial, no entanto, é se além da estiagem, o preço das commodities tenha imprimido um novo ritmo ao desmatamento. Se isso se confirmar, o crescimento das taxas de desflorestamento anual entre agosto 2007 e julho e 2008 é praticamente certo. Ainda mais considerando que o período usual de derrubadas ainda está por acontecer.
“Nós não vamos pagar para ver, medidas estão sendo tomadas”, garantiu a ministra Marina Silva. Uma reunião emergencial de ministros ocorreu com o presidente Lula na manhã desta quinta-feira, dia 24, onde se definiu a estratégia de combate ao desmatamento.
Comando e controle
Entre as medidas que estão sendo tomadas para coibir a gana dos desmatadores a principal e mais imediata foi a publicação de uma portaria nesta sexta-feira com o nome de 36 municípios que estão liderando as derrubadas na Amazônia. Os três primeiros são São Felix do Xingu (PA), Cumaru do Norte (PA) e Colniza (MT), todos pólos produtores de carne e soja. Com a publicação da lista, ficarão proibidas quaisquer licenças para novos desmatamentos até que a propriedade faça um cadastro com informações georeferenciadas no INCRA. Mesmo os órgão estaduais de meio ambiente serão proibidos de conceder a licença.
A moratória, explicou o secretário-executivo do Ministério, João Paulo Capobianco, tenta coibir o mal-uso das licenças feitas pelos proprietários rurais. A falta de fiscalização permite que os desmatamentos licenciados sejam ilegalmente ampliados ou feitos em regiões proibidas. Com a publicação de um decreto presidencial no último mês de dezembro se tornará obrigatória que todos os imóveis na Amazônia façam um cadastro com imagens de satélite no governo. Além disso, está sendo liberado o embargo de propriedades. Fiscais do Ibama serão a partir de agora obrigados a embargarem empreendimentos agropecuários que tenham cometido crime ambiental. Posteriormente, um sistema de rastreamento de produtos será montado de forma que os compradores também sejam responsabilizados criminalmente.
O pesquisador do Instituto do Meio Ambiente e do Homem da Amazônia (Imazon) Adalberto Veríssimo afirma que não há dúvidas que estamos em uma fase de retomada do desmatamento. Ele acha que a alta em novembro é “surpreendente”. Em geral, o desmatamento é baixo nesse mês. “Eu acho que o ritmo veio para ficar. Os preços das commodities agrícolas, carne e soja, estão em alta e creio que vamos ter um desmatamento num patamar muito superior ao do período 2006-2007.
A ministra Marina Silva não quis apontar o dedo diretamente para o setor agrícola. Disse que o ministério “vai dar um zoom” nas regiões onde estão ocorrendo as derrubadas para determinar com precisão quais as atividades econômicas pressionando a floresta. Segundo ela, a “hipótese” mais provável é que o aumento do preço das commodities agrícolas esteja por trás do desmatamento. “É o mais provável, uma vez que Mato Grosso e Rondônia, que foram os estados que apresentaram maiores aumentos, estão montados em uma economia à base de carne e soja”.
Todas estas fortes medidas de fiscalização já haviam sido anunciadas nas últimas semanas de dezembro, em uma solenidade cheia de pompa no Palácio do Planalto, com a presença de Lula. Naquele momento, o desmatamento já vinha comendo solto há cinco meses. Institutos de pesquisa conceituados tinham alertado que o ritmo de desmatamento já subia deste agosto e principalmente no Mato Grosso. Demorou para o governo reconhecer a verdade. Pior demorou ainda mais implementar as medidas. Agora é correr atrás do prejuízo.
Sobre um brilhante expelidor de regras – e sobre vocês
José Antônio Dias Lopes, que é uma pessoa que eu amo porque é um grande jornalista e inventou o conhaque clandestino Elliot Ness, havia nos dito: “Descobri em Veneza o maior escritor brasileiro”, e nós lhe perguntamos: "o que ele já escreveu?" E ele nos respondeu: "ainda nada".
Foi daí que a Veja e depois a Globo descobriram esse luminar – Diogo Mainardi – e fizeram dele esse cagador de regras que o Brasil inteiro ouve, e às vezes tristemente aplaude, todo santo dia.
Olha só o que o cara falou, no mesmo dia em que sua própria tevê exibia um programa sobre como o futebol havia sido importante para a identidade de um país da África: ele fez um trejeito veado com as sobrancelhas e disse ao Lucas Mendes, com a non chalance dos que só pensam no que querem ser e não no que são: “Futebol é irrelevante”.
Palmas! Palmas de vocês, que também acham que futebol é irrelevante, que ganhar é sempre bom, até roubando; que acham que melhor é bombardear o Iraque, e que toda a estrada, para vocês e o repulsivo ser que todo dia lhes fala, vai dar no mar. Vocês merecem!
Merecem o Diogo Mainardi; o Fernando Henrique, que lhes roubou o pouco que tinham, ao vender por preços ínfimos empresas que eram de todo o País; os algozes meigos que lhes dizem, todo dia, nessa merda que vocês enganadamente chamam “mídia”, que o Chávez – o da Venezuela –, que felizmente decidiu eliminar o golpismo fechando aquela latrina espúria que defendia o golpe contra o povo, é um “caudilho”. Eu posso lhes dizer, como repórter: conheci a Venezuela nos anos 1960, quando todo aquele país não passava de um terreiro das petrolíferas americanas. Era o inferno. Acreditem se quiserem. Ou prefiram a Seleções do Reader’s Digest. Vocês já notaram que são livres? Pois é: exercitem essa liberdade.
Para quem escolher o american way de exercitar a liberdade, eu digo: vão se foder. E – vou lhes dizer – vocês vão mesmo. Porque o pensamento – sabiam? – ainda existe. O povo é superior a toda essa merda que vocês aprenderam nessa sua pérfida “escola de vida” dos homenzinhos de pau pequeno dos anos cinqüenta, que saíram pelo mundo tentando afirmar sua masculinidade – e que eu acho que forneceram o modelo que o Mainardi escolheu para sua vida brilhante e inútil.
Mas isso é o que é irrelevante – é pouco. O que é relevante e existe, de verdade, são o pensamento e o anseio dos povos. E nós somos muitos, percebem? Muitos. Nós somos os Garabombos de Manuel Scorza; os Macaulés de Alejo Carpentier e os Bolívares de Chávez. Vão ler e entenderão.
E muitos de nós – invencíveis, porque não temos essas medidas que a Globo, a Veja e os jornais lhes (nos) impõem – somos quem haverá de fazer o amanhã. Alinhem-se enquanto há tempo.
Roberto Manera é jornalista.
"O agronegócio não é vilão", diz Faepa
A Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) divulgou nota nesta sexta-feira (25) afirmando que a declaração da ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, de que o aumento do desmatamento na Amazônia foi provocado pela pressão para elevar a produção de soja e carne, poderá causar o engessamento das principais atividades econômicas na região. “Não é mais possível aceitar, passivamente, sem o nosso reiterado protesto, que certas autoridades continuem a considerar o agronegócio como o vilão dos problemas ambientais, desfiando raivosas invectivas contra as nossas atividades, esquecidas da real importância que temos para a economia nacional e, em especial, a do Estado do Pará”, diz a nota, assinada pelo presidente da Faepa, Carlos Xavier.
A entidade afirma que tem posicionamento contrário a qualquer desmatamento feito de forma ilegal e que tem apresentado propostas “para o desenvolvimento sustentável de nossa região, inclusive com o racional aproveitamento das áreas já alteradas”. E que defende planos que incentivem a transformação da pecuária extensiva em intensiva, com agregação de mais tecnologia.
A Faepa declara não aceitar que o governo adote medidas que impliquem na interrupção da produção de alimentos, “sem que o Governo Federal tome para si a responsabilidade de investigar as reais causas do aumento do desmatamento e de combater diretamente os responsáveis pela atividade ilegal, em lugar de escolher o caminho mais curto e fácil, que atinge atividades econômicas consolidadas em áreas que há muito tempo estão destinadas ao cultivo, sem recorrer ao desmatamento de novas áreas para continuar em funcionamento”.
“A Faepa espera que o bom senso possa dominar o debate para conter o desmatamento ilegal na Amazônia, e se propõe contribuir, como sempre o fez, com o máximo de boa vontade, para que se identifiquem os verdadeiros culpados pela ilegalidade do desmatamento, sem punir de maneira injusta quem trabalha de acordo com a lei em nosso território”, acrescenta a nota.
Mato Grosso nega pressão na floresta
'Temos áreas ociosas na agricultura e menos gado no pasto. Não há pressão na floresta por conta da produção agropecuária'. Quem garante é Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), estado indicado pelos números apontados pelo Ministério do Meio Ambiente esta semana como principal responsável pelo aumento do desmatamento na região amazônica. Junto com outras três entidades que representam o setor, a Famato encaminhou uma carta ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, agradecendo-o por ter defendido o setor.
No documento, os empresários afirmas que o setor produtivo do Mato Grosso “passa por uma grave crise econômica, em função das sucessivas quedas do dólar frente ao real, os altos custos de transporte pela falta de logística adequada e os altos preços de combustíveis, fertilizantes e defensivos, o que impede novos investimentos em aberturas de áreas, principalmente na região Norte, onde a logística de escoamento da produção é ainda pior”. Esta falta de novos investimentos, segundo a carta, pode ser comprovada facilmente através dos números da Conab, que mostram queda na área plantada com soja no estado nos últimos três anos e queda no número de cabeças do rebanho bovino.
De acordo com esses números, na safra 2004/2005, a área plantada de soja foi de 6,1 milhões de hectares, caindo para 5,7 milhões no período 2007/2008, 400 mil hectares a menos. O rebanho bovino, que era de 26,172 milhões de cabeças segundo o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), totaliza hoje 25,737 milhões, uma redução de 434.816 mil cabeças.
“Não podemos mais aceitar que os principais responsáveis pelo meio ambiente do País sentem-se lado a lado para uma coletiva sem um mínimo de embasamento sobre o que está realmente acontecendo”, diz a carta ao ministro Stephanes.
As entidades do Mato Grosso garantem que têm sido feito enormes esforços juntamente com o Governo do Estado “para que a produção agropecuária seja feita com qualidade e sustentabilidade ambiental, já que temos as leis mais rígidas, reservas legais e áreas de preservação permanente, um sistema de licenciamento ambiental que permite o acompanhamento das propriedades licenciadas pela Internet”.
E acrescentam: “Somos campeões brasileiros em reciclagem de embalagens de agrotóxicos e plantio direto e assinamos o Pacto Ambiental em agosto último, que vai dar ainda mais transparência a tudo que estamos fazendo pela conservação do meio ambiente e mitigação do aquecimento global”.
Um dia de mobilização e ação em todo o planeta
Os interessados em participar dos horários de livre manifestação, deverão ir à sede da TV ou enviar e-mail para paulomiranda@uol.com.br. Todas as atividades, manifestações políticas e artísticas serão transmitidas ao vivo, gravadas e reprisadas ao longo do ano. A sede da TV fica no Sindicato dos Jornalistas, ao lado do Correio Braziliense, e pode ser assistida pelo canal 8 na NET (tv a cabo) e pela web, no sítio www.tvcomunitariadf.com.br
Dia de Mobilização e Ação Global do Fórum Social Mundial de 2008 - 26 de janeiro de 2008
Programação
9h – Abertura: diretor da TV Comunitária e do Sindicato dos Jornalistas do DF, Paulo Miranda.
9h10 – Alto El fuego, de Santiago Feliu (Cuba). Clip crítico contra as guerras.
9h10 - O Que Os Cristãos Podem Fazer Para Tornar O Mundo Melhor?
Participantes: Bispo Paulo Sérgio - Igreja Apostólica Fonte da Vida, em Brasília, e Pastor Delvani - Assembléia de Deus Berseba, do Cruzeiro Velho. Entrevistadora - Ana Luiza Genro.
9h40 – mensagem do poeta e ecologista Nicolas Behr e uma música do Liga Tripa
9h50 – Manifestos do Conselho Federal de Psicologia: defesa da conferência nacional de comunicação, contra a redução da idade penal e em defesa da democratização da comunicação. Responsável: Leovane.
Música: samba enredo da ARUC 2008 e ensaio para o Carnaval
10h10 às 10h45 – Programa Contracorrente – A Agroenergia é Nossa, com Iraê Sassi (jornalista), Bautista Vidal (cientista), Adriano Benayon (economista) e Bomfim (agrônomo).
Música: Pé do Cerrado e Miquéias Paz
11h – Nelson Gonzalez – revolução bolivariana na Venezuela e cantora da Venezuela
11h15 às 11h40 – Cojira – comissão de jornalistas pela igualdade racial. Responsável: Sionei 3410-1938 8407-4294
Música: Móveis Coloniais de Acajú
12h às 12h15 - O Movimento Mundial de Paz e Mudança para o Calendário de 13 luas. O foco do movimento está na mudança do calendário gregoriano de 12 meses para o sincronário de 13 luas e 28 dias, conforme o modo de contagem do tempo dos Maias clássicos. Maria Lúcia - Noite Cristal Azul! psicomarialucia@yahoo.com.br
Música: Pacotão 2008 – A bezerra de Roriz
12h19 às 12h30 - OSCIP Escola Brasil, com Airton Medeiros. Ele falará sobre os benefícios que as rádios comunitárias levam aos povos das áreas rurais.
Música “Di que No” – texto e animação Hoyo Colorao (Cuba). Manifesto contra indústria bélica e o imperialismo estadounidense.
12h35 – Comissão de Justiça e Paz, com Gilberto Souza ou outro.
12h40 – Robson – coordenação do Conlutas
13h – ABRAÇO nacional e do DF: Sóter Divino (9964.8439) e Cícero Rola. As rádios comunitárias lutam hoje por um fundo de apoio e desenvolvimento, anistia para processados e condenados, devolução dos equipamentos apreendidos pela PF e por uma série de alterações na legislação do setor.
13h15 – SINPRO. O diretor Washington falará sobre estágio atual e futuro da educação pública no DF.
13h30 – livres manifestações....
14h – “Bate Papo Ecológico” (representadte da Rede Internacional Ecossocialista e moviementos sociais).
Chorinho com Clôdo (jornalista e professor da UnB)
14h30 – Economia Solidária, com representante da ABESOL
Música “Esses poderosos são demais”, de autoria de GOG (Expansão do Setor O).
15h – Ferrovia Centro-Oeste, com Gregório Rabêlo, diretor da ANTT. Sionei 3410-1938 8407-4294
15h05 - O que o sindicalismo pode fazer para melhorar o mundo, com Ana Genro (Sindicato dos Jornalistas), Chico Pereira (Sindicato dos Radialistas) e Torves (Fenaj).
15h20 – TV Pública com Fernando Paulino (âncora), Venício Lima (professor e escritor), Carlos Setti (TV Senado) e Jonas Valente (Intervozes).
Música: Choro Positivo, com Evandro, Carlinhos e Léo
16h – Espaço Sindical sobre universidade pública com representantes da ADUnB (profª. Raquel) e do ANDES (prof. Paulo Rizzo). Paulo Miranda (âncora).
17h – Direitos Humanos com Márcio Araújo (CDH da Câmara dos Deputados) e Ivônio Barros (ABRANDH)
Música: Flora Matos e Gerson de Veras.
17h30 – Mídia em Debate, com João Freire (programa alternativo da TV Comunitária)
18h – encerramento
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