Ag. Câmara
Discursando a pouco no Grande Expediente na Tribuna da Câmara dos Deputados em nome de 20 milhões de amazônidas, o Deputado Federal Asdrubal Bentes (PMDB-PA) insurgiu-se contra uma decisão de governo que proíbe o plantio da cana-de-açúcar na Amazônia.
O parlamentar lamentou a decisão governamental, que definiu como "tomada de decisão de cima para baixo e, mais uma vez, sem ouvir os amazônidas, sem discutir com aqueles que há séculos fazem a vida na Amazônia. Essa medida unilateral demonstra o que tenho dito aqui repetidas vezes, um profundo desconhecimento do que é a Amazônia", lamentou.
Para localizar o problema, Bentes imagina que no restante do Brasil e no exterior que as pessoas tem certa imagem de que a Amazônia é constituída só de florestas, que na Amazônia só residem só índios, que, lamentavelmente, a política indigenista de tantos políticos que já passaram quer preservá-los apenas como objeto de turismo para os alienígenas. "Não desejamos isso. Desejamos participar das decisões para a Amazônia. Queremos ser ouvidos", exigiu.
"Para que estamos aqui?", perguntou. "Para que dezessete Deputados Estaduais e três Senadores se não somos ouvidos nas decisões que nos dizem respeito? Não podemos nos omitir. No meu quinto mandato tenho a alegria de dizer que em nenhum momento capitulei. Sempre estive nas tribunas, nas Comissões — o Deputado José Guimarães sabe disso — lutando em defesa da Amazônia e de seu povo."
Abordando a questão da Segurança Nacional, Bentes ressaltou que: "Não podemos aceitar que, a pretexto de motes que foram da segurança nacional no passado e que hoje são do meio ambiente, pretendam nos engessar e fazer com que nos transformemos apenas em guardas florestais, até sem nos pagar nada."
Garantindo que o povo que reside na Amazônia quer preservar a região e fazer o seu desenvolvimento sustentável, quer também participar da elaboração do seus planos econômicos. "Já vi tantos. Vi a criação da Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia — SPVEA —, quando era jovem ainda, lindo de morrer no papel, na prática devastou, não desenvolveu. Impuseram-nos políticas não adequadas a nossa região. Em decorrência veio a devastação da Amazônia e de sua floresta. Hoje não temos mais a castanha do Pará, já até mudaram de nome", lembrando que a noz originária da Floresta Amazônica, agora - pro razões de marketing - é denominada de Castanha do Brasil.
Reportando-se ao Deputado Wandenkolk (PSDB-PA), Bentes recordou que a região recebeu os maiores fluxos migratórios, em conseqüência das grandes obras fundamentais para este País como a Hidrelétrica de Tucuruí, o projeto Carajás, e que assas notícias correram o mundo. Era o novo Eldorado, só que o chegantes não conheciam a nossa cultura.
Exemplificou que o visitante, o migrante olhava para a castanheira com cobiça, não para o seu fruto, mas para o seu diâmetro, "e motosserra nela", descreveu. "Depois procuravam os órgãos governamentais, à época o INCRA e o IBDF. Impotentes, incompetentes, omissos, ausentes, não lhes davam a resposta que queriam, porque esses cidadãos brasileiros que saíam do sul, do sudeste, do centro-oeste e do nordeste queriam melhorar suas condições de vida, mas não encontravam respaldo governamental", explicou.
O deputado garantiu que hoje, vive-se na região um caos fundiário, quase que insolúvel, devido ao acúmulo de erros cometidos ao longo da história.
"Então, meus companheiros Parlamentares", conclamou Asdrúbal Bentes, todos os planos de desenvolvimento voltados para a Amazônia são exógenos, não endógenos, de fora para dentro. Os seus objetivos eram atender mais o empresariado do sul e do sudeste que iam para lá investir na pecuária e em tantas outras atividades, mas sem procurar o objetivo endógeno, que era exatamente a melhoria de vida da sua população.
"Somos, portanto, a grande vítima. Mas não podemos continuar sendo vítima. Não vamos mais aceitar que venham nos dizer o que temos de fazer, sobretudo pressionados pelos países ricos do mundo, que acabaram com o que tinham, com a sua flora, com a sua fauna e até com a sua população indígena. E agora se arrogam o direito de vir aqui dizer o que temos de fazer, travestidos de ONGs, nas quais os brasileiros logo se aglomeram, recebem salários em euros e em dólares e prestam um desserviço a este País."
Aparteado por vários parlamentares que lhe granjearam apoio. Destaca-se as colocações do Deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA).
- Deputado Asdrubal Bentes, é um prazer interrompê-lo, mas eu gostaria de contribuir, se isso é possível, com tão brilhante pronunciamento, aliás V.Exa. faz um alerta à Nação. O Deputado Manato, que ora preside a Casa, édo Espírito Santo e com certeza conhece muito bem também o setor canavieiro. Segundo o estudo da ESALQ citado por V.Exa., a área do leste do Pará já foi ocupada com pastagens e tudo o mais permitido e estimulado pelo Governo. São áreas antropizadas. O Brasil tem 6,6 milhões hectares de cana plantados em todo o país e, só nesta região do leste do Pará, temos disponíveis apropriados para o plantio de cana 9 milhões de hectares. Se alguém falou em proibição, é porque desconhece a Amazônia. Não ouviram os Parlamentares, como bem coloca V.Exa., Deputado Asdrubal Bentes, ou não conhecendo, começam a falar sem conhecer. Não há no Brasil uma região de maiores oportunidades para o empresariado brasileiro do que o Estado do Pará, particularmente a região sul e sudeste. O Deputado Wandenkolk Gonçalves fez referência à pujança daquela região também. Então, éimportante chamar a atenção do Brasil para voltar os olhos para aquela região, não só para o setor para a produção de etanol e de álcool, mas agora com o distrito florestal do Carajás para reflorestamento. A vocação amazônica para a floresta é um negócio extraordinário. Serão milhares de hectares de reflorestamento que, sem dúvida, vão alimentar os fornos das siderúrgicas e das guserias. Nós temos de buscar uma política industrial, capaz de levar serrarias, montadoras e outras mais para contribuir para o desenvolvimento daquela região, gerando emprego e renda. V.Exa. fala da transição entre esperar a floresta plantada para alimentar os fornos e a madeira jáderrubada por incentivo do Governo. Presidente Manato, para tirarmos um título de terra — o Deputado Asdrubal Bentes foi Presidente do GETAT à época e sabe disso — , precisávamos ter 50% da área derrubada, porque era o que a lei exigia àquela época. Essa madeira ainda está lá em grande parte. Pode ser utilizada, mas o IBAMA não aceita. Os projetos de assentamento que derrubam mais de 30 mil hectares por ano naquela região, aquela madeira seria para o carvão, até que a floresta plantada de eucalipto pudesse vir alimentar os fornos. Mas existe uma política desgraçada na nossa região que impõe ao empresário do Pará a plantar no Tocantins ou no Maranhão, porque a legislação ambiental do Pará não permite que ele plante mais que 20% para utilizar. Olhem que coisa maluca! Agora, estamos vendo a ferrovia. Só beneficiamos 1% do ferro extraído de Carajás.
O restante vai para a China, que jáacumulou uma reserva estratégica para 50 anos. Este ano ainda os chineses deixarão de ser importadores e passarão a exportadores, sendo que a menor indústria implantada por eles este ano produzirá mais aço do que a maiorbrasileira. Com o nosso ferro, eles gerarão emprego e renda no país. Deputado, parabéns pela iniciativa de trazer essa matéria para o debate. Obrigado pela oportunidade.
Asdrubal Bentes devolveu, Deputado Giovanni Queiroz, companheiro de tantas luta nesta Casa e no nosso querido sul do Pará, quando V.Exa. chegou à região, já a percorria como advogado.
Como eu, que sou amazonense de nascimento, V.Exa. é paraense por adoção. Como todos sabem, o nascimento pode ocorrer em qualquer lugar, mas a adoção é um ato de amor. Adotamos o Pará e assumimos o compromisso de defendê-lo, como fazemos com a Amazônia como um todo.
Certamente, o aparte de V.Exa. enriqueceu o meu pronunciamento.
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Deputado Asdrubal Bentes expõe as dificuldades na Amazônia
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Um comentário:
Jornalista Val André
O comentário que vou expressar não pode ser confundido com opinião contrária ao cultivo da cana-de-açúcar e ao etanol, que hoje se transformou num "boom" do agronegócio, fazendo renascer as práticas de indolência com a produção. Sou contra a cana na Amazônia. Não precisamos dela e dos seus efeitos colaterais para desenvolver e produzir riquezas.O negócio da CANA é monopolizador. Uma Usina comanda grandes extensões de terra onde os chamados produtores, donos destas terras arrendam-as às Usinas e ficam de pernas para o ar contando os bons lucros que este arrendamento proporciona, ou migram de atividade tendo a atividade rural como mera expeculativa. Imagina um assentado, como já conhecemos, com grana no bolso e sem fazer nada...só na cana gole abaixo...Não se produz nada. Arrenda terras.
Na nossa região,o Carajás, onde está fincado o maior número de famílias assentadas do mundo, com àreas entre 5 e 20 alqueires, sem respeito, sem regularização fundiária, sem produção nenhuma, sem governo, não é cabível que nossos políticos pensem em importar uma atividade monopolista, tutorial e de excessão de oportunidades, promovendo que estas pessoas hoje assentados, virem boias frias da cana, num processo por mim muito mal visto. Esta migração de alimentos para alcool que o agronegócio brasileiro esta se metendo é uma roubada da forma em que estamos fazendo. Gostaria de ressaltar que uma boa proposta e uma boa briga seria a instalação do imediato processo produtivo nestes assentamentos, com investimentos competentes, e pode crer se isto acontecer, transformando estas terras em grande produtora de alimentos.O Carajás já nascerá como o Estado mais rico do norte. Terras férteis sem produção e nem rumo, com a aquiescência dos nossos políticos e governantes é o que temos aí. Agora a solução é entregar para os usineiros o controle desta bagunça. Temos que cobrar de nossos políticos, que nunca nos houvem, pois como os conheço, sei que só ouvem aos seus ímpetos, nem sempre de boa fé e quase nunca de bons resultados, que façam com que consigamos atingir os objetivos de que nossa terra produza alimentos como hoje estamos a produzir carne, nestas quintas de 5 a 20 alq, que juntas formarão centenas de milhares de alqueires a produzirem o que é mais seguro e menos especulativos para o Brasil junto ao ao mundo....ALIMENTO!
Depois do Bush aqui, o etanol estourou. Antes vc viajava pelo interior de SP e via a diversificação da produção com vastas àreas de culturas das mais diversas. Café, laranja, hortaliça, milho, soja, frutas, etc, e hoje quando faz a mesma viajem, só cana, cana e cana....acabou a comida.
Já existem dados da ONU que o mundo perdeu mais de 4% real na produção de alimentos o ano passado por influência da ocupação da àrea de produção do etanol e este ano com certeza só o brasil terá uma queda considerável migrando suas terras no oeste e norte que antes produziam comida para o etanol. Precisamos de um projeto macro de utilização e posicionamento zonal da produção agrícola e animal. Tem que se definir e equilibrar a produção do campo, onde se produz o que e porque, sob pena de que quando estivermos produzindo muito álcool os EUA estarão produzindo muitos grãos (muito alimento)... É assim que entendo que eles (EUA) querem e é assim que entendo que será.
O dia em que O Japão quiser, a Indonésia esta lá esperando para produzir etanol, com grande produtividade. Isto é um fato. A China tem terra que não acaba mais agriculturável e boa. Assim que caírmos bem na produção de alimentos, eles vão puxar o tapete e os EUA na condição de hoje ser o maior produtor de etanol do mundo, a partir do milho, e já com experimentos comprovados da extração do etanol de folhas de àrvores, em uma Universidade de lá,
estaremos frágeis e teremos que importar alimentos de novo e até se estabelecer uma nova plataforma de produção com a migração dos produtos, sofreremos bastante.
Conseguimos ser o 1º em Soja, depois só caimos, e o povo com fome...
Produzir etanol sim, mas onde podemos produzir alimentos, não.
Abraços do amigo
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