Trecho de um capítulo do livro que estou escrevendo, cujo título provisório é: "Macacada na Floresta".
Arbusto sagrado que nunca passou do peito do guerreiro kaiapó em altura, logo foi identificado como fonte da desmedida cobiça da macacada do barulho vindo do céu. Oriundos de florestas que eles mesmo dizimaram.
O movimento da colheita da fôlha, na época da chuva, disputava espaço no chão com as medidas de armazenamento de energia das mais bem sucedidas colônias de formigas do lugar.
Enquanto o exército de insetos no chão corriam para o insensante vai-e-vém para garantir a comida em lugar sêco do alto plano inundado pela chuva aberta pela torneira do céu.
Os macacos barulhentos não catavam um ouriço de castanha-do-pará sequer.
A nova moda era no entardecer, tão logo a irmã do sol se pusesse a crescer, e todo o trabalho começava postava-se à prumo para arrancar as folhas de Jaborandi.
Acumuladas entre as 18h00 e 6h00 da manhã, o caminho das folhas era entregue aos sacos que caiam do céu como um milagre.
Os sacos eram amontuados em grandes pilhas e realocados em intimidadoras máquinas que percorriam os caminhos das esplanadas à beira de cá do Xingu.
Alguns macacos esperavam o outro transporte que surgia, ainda na névoa sobre o fio da água da manhã impúbere e avançavam na direção da cidade, no lado de lá do Xingu. E na cidade a macada saia, logo depois, para a sessão de cachaça, drogas, mulheres e troca de tiros do faroeste cabôclo que a Legião nunca jamais imaginou acreditar acontecer.
De lá, seguiam em caminhões para os barracões dos barões da Merck.
Alfredo Homma é um pesquisador da fragilidade e ao mesmo tempo do incalculável potencial da economia extrativa amazônica. Convite rentável à biopirataria de macacos de todas as odens.
Convocado por iniciativa da ex-deputada federal Socorro Gomes (PC do B-PA) para considerações na Audiência Pública presidida pela socialista paraense no dia16 de setembro de 1997, na Câmara dos Deputados o doutor revela os que os macacos e formigas não sabiam:
As indústrias farmacêuticas dos países desenvolvidos precisam ter segurança quanto a quantidade, qualidade e certeza do material que está sendo adquirido, principalmente, para a confecção de produtos medicinais e de corantes naturais para a indústria de alimentos. É bastante provável de que com os altos preços das ervas medicinais, por exemplo, os coletores passem a misturar componentes de outras plantas, tal qual os seringueiros faziam no passado colocando outros objetos nas "bolas" de borracha (* extraídas das seringueiras amazônicas, mas que também podem ser obtidas por um outro arbusto praticamente extinto na Amazônia: o caucho).
O aspecto mais importante é a fragilidade da economia extrativa no qual se baseia a coleta da maioria das plantas medicinais, aromáticas, frutos, entre outros, na Amazônia. A economia extrativa se caracteriza por uma oferta rígida, determinada pela Natureza, que depois de atingir certa quantidade, não consegue atender ao crescimento da demanda. A escassez do produto e os altos preços, constituem um estímulo e convite para desenvolver plantios racionais desses cursos. É o que já está ocorrendo com o jaborandi, planta produtora de pilocarpina utilizado no tratamento de glaucoma, que sempre constituiu-se no monopólio da Merck. Enquanto existiam estoques de jaborandi a Merck sempre se apoiou na coleta extrativa, mas a medida em que os estoques dessa planta passaram a se esgotar, esta indústria implantou um plantio racional de 300 hectares em Barra do Corda, no Maranhão, com colheita mecanizada e utilizando irrigação com pivô central, que apesar dos problemas, atende 40% do mercado de pilocarpina. O recente crescimento do uso de jaborandi para xampus tem pressionado ainda mais para a destruição dos estoques dessa planta na Amazônia. Outras plantas que a Merck dedica um esforço pela sua domesticação encontra-se a fava danta, com provável utilização para o mal de Parkinson. Esse exemplo da Merck deveria ser imitado por outras indústrias farmacêuticas, procurando domesticar recursos da biodiversidade e desenvolver plantios na região e, se possível, a verticalização da sua produção no país.
* Nota do escritor.
Arbusto sagrado que nunca passou do peito do guerreiro kaiapó em altura, logo foi identificado como fonte da desmedida cobiça da macacada do barulho vindo do céu. Oriundos de florestas que eles mesmo dizimaram.
O movimento da colheita da fôlha, na época da chuva, disputava espaço no chão com as medidas de armazenamento de energia das mais bem sucedidas colônias de formigas do lugar.
Enquanto o exército de insetos no chão corriam para o insensante vai-e-vém para garantir a comida em lugar sêco do alto plano inundado pela chuva aberta pela torneira do céu.
Os macacos barulhentos não catavam um ouriço de castanha-do-pará sequer.
A nova moda era no entardecer, tão logo a irmã do sol se pusesse a crescer, e todo o trabalho começava postava-se à prumo para arrancar as folhas de Jaborandi.
Acumuladas entre as 18h00 e 6h00 da manhã, o caminho das folhas era entregue aos sacos que caiam do céu como um milagre.
Os sacos eram amontuados em grandes pilhas e realocados em intimidadoras máquinas que percorriam os caminhos das esplanadas à beira de cá do Xingu.
Alguns macacos esperavam o outro transporte que surgia, ainda na névoa sobre o fio da água da manhã impúbere e avançavam na direção da cidade, no lado de lá do Xingu. E na cidade a macada saia, logo depois, para a sessão de cachaça, drogas, mulheres e troca de tiros do faroeste cabôclo que a Legião nunca jamais imaginou acreditar acontecer.
De lá, seguiam em caminhões para os barracões dos barões da Merck.
Alfredo Homma é um pesquisador da fragilidade e ao mesmo tempo do incalculável potencial da economia extrativa amazônica. Convite rentável à biopirataria de macacos de todas as odens.
Convocado por iniciativa da ex-deputada federal Socorro Gomes (PC do B-PA) para considerações na Audiência Pública presidida pela socialista paraense no dia16 de setembro de 1997, na Câmara dos Deputados o doutor revela os que os macacos e formigas não sabiam:
As indústrias farmacêuticas dos países desenvolvidos precisam ter segurança quanto a quantidade, qualidade e certeza do material que está sendo adquirido, principalmente, para a confecção de produtos medicinais e de corantes naturais para a indústria de alimentos. É bastante provável de que com os altos preços das ervas medicinais, por exemplo, os coletores passem a misturar componentes de outras plantas, tal qual os seringueiros faziam no passado colocando outros objetos nas "bolas" de borracha (* extraídas das seringueiras amazônicas, mas que também podem ser obtidas por um outro arbusto praticamente extinto na Amazônia: o caucho).
O aspecto mais importante é a fragilidade da economia extrativa no qual se baseia a coleta da maioria das plantas medicinais, aromáticas, frutos, entre outros, na Amazônia. A economia extrativa se caracteriza por uma oferta rígida, determinada pela Natureza, que depois de atingir certa quantidade, não consegue atender ao crescimento da demanda. A escassez do produto e os altos preços, constituem um estímulo e convite para desenvolver plantios racionais desses cursos. É o que já está ocorrendo com o jaborandi, planta produtora de pilocarpina utilizado no tratamento de glaucoma, que sempre constituiu-se no monopólio da Merck. Enquanto existiam estoques de jaborandi a Merck sempre se apoiou na coleta extrativa, mas a medida em que os estoques dessa planta passaram a se esgotar, esta indústria implantou um plantio racional de 300 hectares em Barra do Corda, no Maranhão, com colheita mecanizada e utilizando irrigação com pivô central, que apesar dos problemas, atende 40% do mercado de pilocarpina. O recente crescimento do uso de jaborandi para xampus tem pressionado ainda mais para a destruição dos estoques dessa planta na Amazônia. Outras plantas que a Merck dedica um esforço pela sua domesticação encontra-se a fava danta, com provável utilização para o mal de Parkinson. Esse exemplo da Merck deveria ser imitado por outras indústrias farmacêuticas, procurando domesticar recursos da biodiversidade e desenvolver plantios na região e, se possível, a verticalização da sua produção no país.
* Nota do escritor.
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