Por: Eliakim Araújo *
A exposição dos candidatos à presidência nas semanas que antecedem o pleito é da maior importância para que o eleitor forme sua opinião e vote, pelo menos, com a certeza de ter feito uma escolha consciente, baseada em informações que ele vai colhendo ao longo da campanha. E a televisão, a mais poderosa das mídias, tem função primordial nessa fase decisiva do processo de escolha. Todos os canais, de uma maneira ou de outra, tentam influir no processo de escolha ao abrirem espaços para os candidatos. Mas, nem sempre, o fazem da maneira mais adequada.
O Jornal Nacional, por exemplo, a exemplo do que fez na eleição anterior, tem convocado os candidatos para uma sabatina na própria bancada do telejornal. A intenção pode ser boa, mas a execução deixa a desejar.
Em primeiro lugar, pela disposição física da bancada do telejornal. Projetada para dois apresentadores, a presença de uma terceira pessoa, sentada na ponta da mesa, deixa o entrevistado pouco à vontade e em posição de desvantagem em relação aos entrevistadores, confortavelmente instalados em seu local de trabalho diário.
Depois, o rigor do formato. Para começar o entrevistado é chamado todo tempo de “candidato” e “candidata”, como se nenhum deles tivesse o nome registrado
Esse desejo exacerbado de que a divisão do tempo seja rigorosa, parece que passa também pelo trabalho dos apresentadores. Há nitidamente entre eles uma disputa para que um não apareça mais que o outro. Mas, se isso acontecer, como são marido e mulher, as contas serão acertadas em casa.
Brincadeiras à parte, o mais grave de tudo é a questão do conteúdo. Os apresentadores se esmeram em fazer perguntas para embaraçar o candidato, sem preocupação com os temas realmente importantes para o país que pretendem governar.
Na entrevista da senadora Heloisa Helena, por exemplo, na terça-feira, a primeira pergunta já deu o tom de como seria a sabatina. Logo de cara, lhe perguntaram se não era ofensivo chamar o ministro Tarso Genro de “empregadinho do Lula”, quando a maioria do povo brasileiro é formada por empregados? A senadora gentilmente respondia e até declarava seu arrependimento pela expressão, quando foi interrompida pela apresentadora que insistiu no tom de “fofoca”: mas a senhora também usa outras expressões ofensivas como “safados, lacaios, imbecis..."
Ora, ninguém aplaude a senadora por usar expressões chulas em seus discursos, mas dar tal importância a essas provocações, comuns no calor da campanha, pouco contribui para o debate de idéias. Felizmente, os candidatos têm experiência suficiente para passar por cima dessas “armadilhas” e conseguem encaixar na conversa alguma coisa que preste em torno de idéias. Por isso, quem lê somente a fala do entrevistado no jornal do dia seguinte, nem de leve pode imaginar como se chegou àquele resultado com perguntas desse tipo.
Mais adiante, a apresentadora se atrapalhou e confundiu programa de partido com programa de governo. Teve que ouvir uma aula da senadora, com direito a um irônico “meu amor...”.
No assunto reforma agrária, mais uma prova do despreparo dos entrevistadores. A candidata falava sobre invasões e desapropriação quando a apresentadora a interrompeu para afirmar com autoridade que “reforma agrária não se faz em um dia”. Heloisa sorriu aquele sorriso condescendente, tocou o braço da entrevistadora e calmamente retrucou “meu amor, desculpe mas de reforma agrária eu entendo mais que você”.
Penso que essas entrevistas do JN da maneira como são conduzidas não ajudam o eleitor a decidir. Por que não gravar a entrevista mais cedo, num ambiente tranqüilo, com entrevistadores e entrevistado confortavelmente sentados em sofás? Certamente o resultado seria melhor para todos, principalmente para quem precisa tomar uma decisão em relação ao futuro do país.
*
2 comentários:
Fale meu amigo Juka, só não concordo com o final do brilhante comentário. Fazer edição, tratando-se de rede globo, mermão com exceção, do Lula-lelé todos os outros candidatos seriam prejudicados.
O anônimo não errou de blog? O Juka é no Quinta Emenda: http://www.quintaemenda.blogspot.com
Hehehe!
Postar um comentário