Maranhenses dizem não à Sarney

Acaba a era Sarney

Correio Braziliense

30/10/2006

Maranhão - Em eleição apertada, candidato do PDT derrota Roseana, encerrando quatro décadas de oligarquia no estado

Depois de 40 anos no comando do Maranhão, a família Sarney foi derrotada nas urnas pelo pedetista Jackson Lago, que conquistou 51,9% dos votos válidos dos quase 4 milhões de eleitores. A oligarquia Sarney é a segunda a perder poder nestas eleições: no primeiro turno, o petista Jacques Wagner ganhou o governo da Bahia, apeando o clã de Antonio Carlos Magalhães do controle do estado.

Nem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ajudou à candidata do PFL, Roseana Sarney. “A minha vitória representa a queda do último bastião do coronelismo no Brasil, representado pela família Sarney”, disse Lago. “Os segmentos sociais que lutaram contra as oligarquias e o coronelismo no Maranhão e na Bahia são os mesmos: sindicatos, intelectuais, trabalhadores e estudantes. O quadro é o mesmo na Bahia e no Maranhão”, completou.

Com a derrota no Maranhão, o ex-presidente da República e senador eleito pelo Amapá, José Sarney (PMDB), sai enfraquecido das urnas, mas ainda mantém um grande poder de fogo junto ao Palácio do Planalto. Afinal, Sarney controla quatro votos de senadores. São três de senadores pelo Maranhão (Roseana Sarney, Edison Lobão e o eleito Epitácio Cafeteira), além de Gilvam Borges (PMDB-AP).

“O Sarney sai desta eleição mais fraco. A turma do Sarney vai ter menos poder para pressionar o Lula no segundo mandato. Quanto mais força o Sarney tiver, mais chantagem o Lula vai sofrer no segundo mandato”, afirmou o presidente do PT do Maranhão, deputado federal eleito Domingos Dutra.

No segundo turno da campanha eleitoral, o presidente Lula contrariou o PT maranhense e apoiou explicitamente a candidatura de Roseana. Foi uma deferência ao senador Sarney. De olho na governabilidade em seu segundo mandato, Lula pediu votos para Roseana na expectativa de que Sarney lhe dê o apoio e votos para aprovação de projetos de interesse do governo federal no Senado. Apesar do apoio de Lula, Roseana não conseguiu se eleger com 48,15% dos votos válidos.

“A onda contra os Sarney é gigantesca”, anteviu o governador do Maranhão, José Reinaldo (PSB), que trabalhou arduamente pela derrota de Roseana Sarney. Abatida, Roseana assumiu o resultado. “Foi uma derrota digna. Tivemos quase a metade dos votos do eleitorado do Maranhão”, disse.

Respondendo a uma pergunta sobre se o resultado atinge também seu pai, o senador José Sarney (PMDB-AP), Roseana disse que a derrota foi dela. “Ele (o senador) não é candidato, não disputa uma eleição desde 1978 no Maranhão e saiu vitorioso nesta eleição ao eleger o governador do Amapá (Valdez Goes, do PDT). Quem saiu derrotada aqui fomos eu e meu grupo político”, declarou Roseana.

Ela disse ainda que não sabe de seu futuro no PFL, mas deixou claro que está magoada com o partido, que ameaça expulsá-la por ter feito aliança informal com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por não ter apoiado totalmente a candidatura dela ao governo estadual. “O partido não foi meu aliado nestas eleições”, acusou.

Irritado com o apoio do presidente da República à candidatura da pefelista, o petista Domingos Dutra argumentou que agora “Sarney não poderá dizer que Lula foi ingrato, depois de o presidente ter pedido votos para sua filha. O Lula é nosso líder mas não é proprietário do nosso voto. Por isso apoiamos o Jackson Lago”, disse Dutra. “Se o presidente Lula quisesse efetivamente a vitória de Roseana, ele teria feito uma intervenção no PT do Maranhão. Ele teria pedido para nós votarmos nela. Mas ninguém nos pediu isso”, completou o petista.

Ao contrário das expectativas, a eleição no Maranhão transcorreu em clima de tranqüilidade. O momento mais tenso foi pela manhã, na seção eleitoral em que Roseana Sarney votou: houve empurra-empurra entre os cabos eleitorais dos dois candidatos, mas sem conseqüências.

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