Leia o que diz o jornalista Paulo Markim, apresentador do programa "Roda Viva", da TV Cultura, sobre o Pará.
A cultura no Pará e a continuidade administrativa
Vale a pena conhecer ou rever Belém. Pela cidade, suas frutas, peixes, cheiros. Mais que isso, pela acolhida gentil e calorosa dos paraenses. Que nós encontramos no pessoal da Feira Pan-Amazônica do Livro, na turma da Livraria Nobel, no taxista faz-tudo Bandeira, em Anastácio Campos, que ofereceu sua casa na ilha do Marajó, como se fossemos velhos conhecidos - e hoje somos. Mas há outro motivo: ver de perto o que a persistência pode fazer por uma cidade.
Uma das maiores vantagens da democracia é a rotatividade do poder. Se um governo vai mal, a sociedade pode trocá-lo no prazo determinado. Mas como ainda estamos engatinhando nesse campo, a sucessão dde governos costuma impedir que obras e projetos sigam adiante, pois cada administração quer deixar a sua marca e para isso, interrompe o que estava sendo realizado, pouco importando se é bom ou ruim.
Uma série de governos do PT em Porto Alegre deixou marcas positivas na cidade. Um conjunto de administrações do PFL permitiu que o Pelourinho fosse restaurado e que a baía de Todos os Santos se livrasse do esgoto in natura. Em Curitiba, Jaime Lerner conseguiu implantar diversos projetos inovadores, porque teve tempo para isso.
Em Belém, vários governos do PSDB mantiveram o arquiteto Paulo Chaves Fernandes no comando da Secretaria Estadual de Cultura e isso se traduziu em obras relevantes. A Estação das Docas, o casarão das 11 janelas, o Mangal das Garças, o parque da Residência, o pólo joalheiro, a renovação do Ver-o-Peso não deixam dúvidas: há algo de bom sendo feito ali.
A cidade cujos vestígios do período de opulência da borracha estavam indo ao chão e cuja auto-estima rastejava em razão de um longo período de decadência, mudou de feição. Certamente tem ainda todos os prolemas da desigualdade e de falta de infra-estrutura, mas retoma algumas características perdidas.
Paulo Chaves conseguiu fazer com que áreas subutilizadas ou abandonadas se transformem em espaços de convívio, a partir da negociação.
Formado em arquitetura, foi para o Rio, onde estudou cinema e fez mestrado em comunicação social. Tentou ser cineasta, ganhou alguns festivais. Em 1978, voltou a Belém, passando a dar aulas de comunicação social na Universidade.
Em 1983, tornou-se assessor de urbanismo na gestão de Almir Gabriel como prefeito e desde então, atua nesse campo, com uma passagem de dois anos na superintendência do Instituto de Patrimônio Histórico Nacional.
Quando Almir Gabriel assumiu o governo do Estado, colocou Paulo Chaves na Secretaria da Cultura. Ele montou um departamento de projetos e elegeu a memória como prioridade. Os projetos são feitos, licitados e implantados pela equipe própria da Secretaria, como aconteceu em Brasília com Niemeyer.
Paulo Chaves sabe que a manutenção é tão importante ou mais do que fazer uma obra nova. E por isso, vários projetos continuam funcionando de modo correto.
Ele diz que seu trabalho não tem compromisso com nenhuma escola e que sua perspectiva é eclética, como sua história de vida.
Um ecletismo saudável.
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