Eleitores perdoam e castigam na festa da democracia
REPORTAGEM: Val-André Mutran
Brasília: 02/10/2006
Val-André Mutran – Com a mais baixa taxa de abstenção da história da República, a festa da democracia foi um espetáculo de contraditórios. O eleitorado além de exercer o seu direito de votar, digitou o seu recado aos políticos, transitando entre o amor e o ódio, entre a razão e a emoção. No Pará não poderia ser diferente, e, em alguns casos, a razão suplantou com larga margem de acerto a emoção.
No plano nacional, o candidato do PSDB Geraldo Alckmin, que “andou lento” ao longo da campanha, acabou derrotando o candidato-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 11 Estados contra 16 obtidos pelo Comandante em Chefe do PT, forçando, após o computo geral dos votos, o 2º turno e um acirramento ainda maior para a disputa presidencial.
Ao longo do dia de hoje as composições de apoios de um lado e outro foram intensas. O Mercado Financeiro, através de vários de seus mais qualificados operadores, deixaram escapar que preferem Alckmin em detrimento a Lula. Wall Street também, de acordo com o The New York Times. Segundo um alto funcionário da Bolsa de Valores, “o ex-governador de São Paulo reúne melhores condições para a aprovação da agenda de reformas que o país precisa e que andou em passo de tartaruga ao longo da administração petista”.
No Pará, o que parecia um passeio logo no 1º turno do candidato Almir Gabriel (PSDB), a caixinha de surpresa da política pregou uma peça no ex-governador que viu a chance de uma eleição tranqüila escorrer por entre os dedos da mão após a visita do presidente Lula a Belém, principal fato político da campanha, que resultou no incêndio da militância petista que parecia sonolenta e desanimada.
A decisão do alto comando petista mesmo torcendo o nariz com o apoio declarado do PMDB de Jader Barbalho, acabou por “salvar o pescoço” de mais uma derrota fragorosa da senadora Ana Júlia Carepa que quebrou a perna a vinte dias do pleito e tornou-se a grande interrogação desta eleição majoritária no Pará, dado o pífio desempenho do candidato “puro-sangue peemedebista” José Priante, que teve o mérito de retirar a sua legenda de uma seqüência vergonhosa de apresentação de “laranjas” aos principais cargos em disputa em eleições passadas.
Computado os votos, o tucano Almir Gabriel somou 1.370.272 (43,83%) de votos e Ana Julia Carepa totalizou 1.173.079 (37,52%) dos votos válidos forçando após a totalização dos demais candidatos a realização do 2º turno em nova eleição no final deste mês.
Dentre as manifestações de amor e ódio do eleitorado, o destaque foi a baixa votação do atual senador Luis Otávio (PMDB) que obteve apenas o 3º lugar somando 449.447 (16%) na única vaga em disputa para o senado, obtida com expressiva votação pelo presidente da Assembléia Legislativa do Pará, deputado estadual Mário Couto (PSDB) que obteve 1.456.587 (51,87%) seguido pelo deputado estadual Mário Cardoso (PT) que conquistou 880.687 (31,36%).
O sangue ferveu foi na disputa à Câmara dos Deputados na mais acirrada eleição da história da democracia paraense. Traições, conspiração espúrias, golpes abaixo da linha da cintura e muita dissimulação correram soltos nos redutos eleitorais.
Medalhões da política paraense, alguns que pleiteavam a reeleição, obtiveram o “bilhete azul” ou “cartão vermelho” do eleitorado.
Enquanto São Paulo elegeu o costureiro e apresentador Clodovil Hernandes, que em sua primeira declaração pública disse que: “Não tenho projetos, porque não sei nem se existe política no Brasil”; o apresentador Wagner Santos, o cantor Frank Aguiar – “cãozinho dos teclados” e o indefectível “Enéas” Carneiro, que defende a construção da “bomba atômica” brasileira; o Pará elegeu um exótico para deputado estadual, o jogador de futebol “Rob Gol”, despertando, desde já, o ódio na torcida azulina.
Confirmou-se a monumental votação do agora reeleito deputado federal Jader Barbalho que somada a do radialista Wladimir Costa (reeleito) e de sua ex-mulher e vereadora Elcione Barbalho, puxaram outros três deputados, sendo dois do sul do Pará, Asdrúbal Bentes (reeleito) e Bel Mesquita (ex-prefeita de Parauapebas).
Como a razão pode, de acordo com o entendimento de uma parcela do eleitorado suplantar a emoção, apesar de alguns candidatos que obtiveram o sucesso nas urnas respondem a processos por irregularidades cometidas no exercício como homem público. Uma parcela do eleitorado mantém a máxima: “Rouba, mas faz”, vide Maluf, mensaleiros, sanguessugas e gafanhotos da fauna política.
Paulo Rocha (PT), deputado que renunciou para evitar o processo que o acusou de “mensaleiro” volta para Brasília com mais um mandato de deputado federal. Outro petista, Beto da Fetagri, preso em operação da Polícia Federal sob a acusação de chefiar um esquema irregular de legalização de terras quando foi superintendente do Incra em Belém, igualmente obteve um mandato como deputado federal e, de quebra, a “prerrogativa” de responder o processo do qual é réu somente pelo Supremo Tribunal Federal, instância que até hoje, na história do país, só condenou dois deputados federais em toda sua existência. Um maranhense assaltante de carretas nas estradas e um ex-coronel que serrava seus desafetos ao meio com um singela moto-serra. Crime do colarinho branco, o STF nunca condenou nem os mais ardilosos ladrões do dinheiro público.
A mesma “sorte”, não agraciou um mandato ao ex-senador e ex-presidente da Companhia das Docas do Pará, Ademir Andrade (PSB) e o deputado sanguessuga Raimundo Santos (PL) que não conseguiram os votos necessários para uma vaga na Câmara dos Deputados.
Com a eleição do ex-prefeito de Santarém, Lira Maia (PFL) [102.750], do deputado federal reeleito Zequinha Marinho (PSC) [91.577], do ex-deputado federal Giovanni Queiroz (PDT) [52.860], do deputado federal reeleito Asdrúbal Bentes (PMDB) [42.738] e Bel Mesquita (PMDB) [44.037], todos com o passaporte garantido para Brasília, e ainda o jornalista João Salame (PPS) [15.300] e a ex-superintendente do Incra em Marabá, Bernadete ten Caten (PT) [36.202], eleitos deputado Estadual, com uma expressiva bolsa de quase 380 mil votos; o eleitor deu seu recado: não desistiram do sonho da criação dos Estados do Tapajós e de Carajás.
Duas perguntas aos candidatos ao governo no 2º turno: Como se posicionarão em relação à criação dos dois novos Estados (Carajás e Tapajós)?
Para obterer sucesso desses votos – que decidem qualquer eleição – os candidatos que se omitirem estarão cometendo suicídio político.
Quem será apoiado, após o resultado do 2º turno, para a liderança da bancada paraense na Câmara? Paulo Rocha? Beto da Fetagri? Jader Barbalho? Wlad? Vic? Quem leitores?
Seja qual for o resultado da política no Pará o novo(a) governador(a) tomará posse sabendo de maneira contundente, como nunca antes, que no Pará, a política não gira mais em torno do Sol, que chamarei numa licença poética, de Belém.
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