O sucesso do PAC depende do governo

Editorial

O Estado de S. Paulo
13/2/2007

No documento de apresentação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), afirma-se que se trata de um conjunto de medidas destinadas, em primeiro lugar, a incentivar o investimento privado. E, sem dúvida, o sucesso do programa vai depender da adesão e da realização de investimentos privados.

Mas o setor privado aumentará seus investimentos? A essa pergunta muitos respondem que depende da política monetária do Banco Central, que, antecipadamente, já começa a ser denunciado como responsável por eventual malogro do PAC, que, na realidade, muito dependerá da capacidade de o governo aceitar reduzir sua parte do bolo do Produto Interno Bruto (PIB), que atualmente é de 38% e nesses últimos quatro anos cresceu à taxa anual de 9,7% (excluindo os juros pagos), como lembraram os economistas Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti no jornal Valor.

No presente momento, verifica-se um forte aumento da aquisição de bens de capital pelas empresas, o que nos levaria a concluir que a batalha do PAC está ganha. Algumas empresas industriais de fato optaram por ampliar sua capacidade de produção para responder a uma demanda futura maior e, assim, melhorar sua produtividade para enfrentar um preocupante surto de importações.

Essa aposta é lastreada pela esperança de que a demanda interna aumentará muito nos próximos meses por causa do “boom” da construção civil com efeitos multiplicadores sobre os demais setores, e pela previsão de que os investimentos previstos no PAC no setor de logística (rodovias, ferrovias, portos) contribuirão para reduzir os custos de produção, enquanto investimentos no setor energético afastarão ameaças de restrições da oferta.

Se a expansão da construção civil já é uma realidade, os investimentos na infra-estrutura são apenas esperança que depende muito do governo (com efeitos colaterais sobre as finanças públicas), mas também da vontade e da disponibilidade de o setor privado colaborar com o governo. Um atraso na realização do PAC seguramente modificará a política de investimentos do setor público.

O essencial é a capacidade do governo em convencer o setor privado de que vai reduzir sua parte do bolo do PIB, isto é, seus gastos correntes. Até agora, sinalizou o contrário: resiste à introdução de qualquer redutor dos gastos e optou por mecanismos de indenização que os aumentarão.

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