Exonerado Delegado-Geral do Pará

Cai o chefe de polícia do Pará

Ullisses Campbell - Da equipe do Correio

Violência SEXUAL
Governadora exonera delegado um dia após ele ter insinuado que a jovem presa com 20 homens teria problemas mentais.Laudo atesta abuso

Um dia após ter insinuado que a jovem mantida com 20 presos em uma cela tinha debilidade mental, durante audiência no Senado, o chefe da Polícia Civil do Pará, delegado Raimundo Benassuly, foi exonerado do cargo ontem pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT). A declaração do delegado deixou os senadores indignados e a governadora bastante irritada. No lugar de Benassuly, assumiu o delegado Justiniano Alves Júnior, que divulgou ontem o laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmando que a garota sofreu abuso sexual e foi vítima de ato libidinoso (sexo oral e anal).

Apesar de o resultado dos exames atestar que ela foi vítima de lesões corporais — queimaduras nos pés e hematomas pelo corpo —, os peritos não asseguraram que ela sofreu violência sexual. Os testes para gravidez e contágio de doenças sexualmente transmissíveis deram negativos. Já o exame feito na arcada dentária atestou que ela tem idade entre 15 e 17 anos.

De acordo com o novo delegado-geral, as investigações deverão apontar em que circunstâncias foram provocadas as lesões na garota. Em depoimento ao Conselho Tutelar, a adolescente deu o nome dos presos com quem era obrigada a fazer sexo em troca de comida, na carceragem da delegacia de Abaetetuba. A menina, que foi tirada do Pará e se encontra sob a tutela do Programa Nacional de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, disse que os presos a queimavam com pontas de cigarro enquanto ela dormia.

Alves Junior não entrou em detalhes sobre o conteúdo dos laudos, informando apenas que as investigações para apuração de responsabilidades pelo que aconteceu com a menina estão bastante adiantadas. Tudo estará encerrado antes do prazo de 30 dias estabelecido por lei, resumiu o delegado.

A comissão parlamentar que está no Pará acompanhando as investigações da Corregedoria da Polícia Civil visitou ontem o município de Abaetetuba e teve acesso aos depoimentos dados por presos, pelas integrantes do Conselho Tutelar e por policias. Segundo esses depoimentos, além de uma juíza, dois integrantes do Ministério Público do Pará teriam conhecimento de que a jovem estava dividindo uma cela com homens. Segundo um dos presos, dois promotores chegaram a conversar com a menor, dando garantia de que ela seria transferida, disse a delegada interina, Daniele Bentes, que responde pela Superintendência Regional do Baixo Tocantins.

Constrangimento
Em Abaetetuba, a comissão parlamentar passou por uma saia justa. Numa rádio popular, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que preside a comissão, falou mal do município e ressaltou que a população teria encoberto o caso, já que foi omissa. Ela falou ainda da falta de estrutura local. Até os demais integrantes da comissão — deputados Zé Geraldo (PT-PA), Cida Diogo (PT-RJ), Jusmani Oliveira, Maria do Rosário Nunes (PT-RS), Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), Lira Maia (DEM-PA), Bel Mesquita (PMDB-PA) e Elcione Barbalho (PMDB-PA), além do senador José Nery (Psol-PA) — teriam ficado constrangidos com as declarações de Erundina.

Aos parlamentares, as integrantes do Conselho Tutelar, Maria Ribeiro Imaculada, Diva Andrade e Josiane Baena, denunciaram que trabalham por conta própria porque a Prefeitura de Abaetetuba não repassa verbas. Hoje, os parlamentares terão encontro com Ana Júlia.

A secretária de Direitos Humanos do Pará, Socorro Gomes, disse ontem que oito pessoas da família da jovem, que estavam recebendo ameaças de morte, serão transferidas hoje da cidade em que moram, Barcarena, para um local seguro. Incluindo a jovem, até agora, já somam 10 o número de pessoas envolvidas no caso que estão sob a proteção dos governos federal e estadual.

Ana Júlia anunciou a desativação e demolição da delegacia de Abaetetuba onde a garota esteve presa e a criação no município de um Centro de Triagem com espaços separados para homens e mulheres. Em Belém, o governo reformará as dependências do Centro de Recuperação Feminino, em Ananindeua, onde serão criados berçários para receber filhos das detentas.

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