Água: o desperdício pode ser evitado, sem jogar recursos pelo ralo
Hoje no Semirário Direito de Propriedade e Desenvolvimento Econômico, patrocinado pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, da Câmara dos Deputados, ficou ressaltado a importância da preservação e utilização racional dos recursos naturais do país sob pena do Brasil entrar numa curva de declínio em sua produção de alimentos.
"A água será uma comodity tão valorizada como é atualmente o petróleo. A falta da água terá consequências catrastóficas para as regiões onde esse recurso é a garantia para a produção de alimentos na agricultura", destacaram os conferencistas.
Vejam que a questão não está assim tão longe de preocupações imediatas. Leia artigo abaixo.
No início deste mês de novembro, foi noticiada pela imprensa a megacampanha que o governador do Estado de São Paulo, José Serra, quer lançar para evitar o risco de racionamento de água. Essa intenção, se levada à prática, vai promover na realidade um grande desperdício de recursos. E por quê o governo estadual paulista estará na verdade "jogando dinheiro pelo ralo"? A explicação está na série de equívocos conceituais que caracterizam a proposta. Em entrevista recente a uma rádio paulistana, o superintendente de Comunicação da Sabesp, Raul Cristiano, sugeriu aos ouvintes que "colocassem um tijolo dentro da caixa em sistemas de caixa acoplada". Nada mais ilustrativo da falta de rumo e de propostas mais sérias e de efeito permanente em relação à economia de água pelos responsáveis por essa área na concessionária paulista de saneamento.
O desperdício de água em São Paulo ultrapassa os 40% do volume tratado, de acordo com especialistas - parte desse montante, ou cerca de 10% dele, trata-se de perda de receita por desvios ilegais (os famosos "gatos", ou seja, roubo de água pura e simplesmente), mas a maioria é por problemas nas redes de distribuição da Sabesp. Estas estão, especialmente nas áreas mais antigas, como a capital paulista, por exemplo, deterioradas, com canos enferrujados, gerando vazamento e desperdício considerável. Somente para comparar: metrópoles como Tóquio, no Japão, reduziram as perdas físicas a cerca de 3% do total de água tratado. Essa é uma boa área para começar a investir recursos, com ganhos para todos: contribuintes, governo e o meio ambiente, prejudicado pela sempre crescente necessidade de novos reservatórios de água, que acabam promovendo o desmatamento de florestas.
Além dessa ação, é necessário implementar, em todos os níveis de governo (municipais, estaduais e federal), programas de uso racional da água, que geram economia permanente no consumo do líquido cada vez mais escasso.
Lição de casa
Para Paulo Costa, consultor e especialista em programas de uso racional da água, as prefeituras e os governos estaduais e federal deveriam dar o exemplo. "Se os prédios públicos, as escolas, hospitais adotassem medidas racionalizadoras, seria - além de um belo exemplo para a sociedade- uma economia gigantesca no gasto da água. Além disso, com o dinheiro economizado, essas autarquias poderiam investir em campanhas de conscientização através de ações educativas junto à comunidade, esclarecendo sobre as maneiras de evitar o desperdício, as formas de economizar e as fontes alternativas para a captação de água, bem como a diferenciação dos usos da mesma, ou seja: para algumas atividades não há necessidade de utilização de água tratada".
Medidores individuais
Outra forma é a criação de uma lei que obrigue as novos edifícios a instalarem medidores individualizados. Na maior parte dos condomínios brasileiros a cobrança da conta de água é feita em conjunto, e não condômino por condômino. Isso significa que o custo é rateado por todos os moradores, e aqueles que gastam menos acabam pagando o mesmo que aqueles que gastam mais. "Sabemos que o brasileiro gasta , em média, cinco vezes mais água do que o volume indicado como suficiente pela Organização Mundial da Saúde e somente com a medição individualizada é que as pessoas mudarão seus hábitos". Alguns exemplos bem-sucedidos também podem ser copiados. Veja os exemplos:
México - Em 1991, o governo mexicano criou o " reposition cost", substituindo três milhões e meio de válvulas por vasos sanitários com caixa acoplada, de 6 litros de descarga, obtendo uma redução de consumo de 5 mil litros de água por segundo." Reposition cost" era o preço que cada proprietário de edificação, dos mais variados usos, havia pago pala reposição das bacias, trocadas em locais autorizados para tanto, e que era devolvida pelo governo.
Nova York - Conseguiu instalar mais de um milhão de bacias sanitárias economizadoras, entre 1994 e 1996. A prefeitura reembolsava as despesas dos moradores e empresários locais com a troca de bacias. A iniciativa poupou 216 milhões de litros de água por dia e o investimento se pagou em quatro meses.
Los Angeles - O governo da Califórnia ofereceu redução de impostos para toda a troca de bacias com consumo superior a 6 litros. Também utilizou uma intensiva campanha publicitária nos meios de comunicação, mostrando as vantagens e a economia provenientes da troca de bacias.
Japão - Lá foram mudadas as regras da construção civil e os condomínios, hotéis e hospitais passaram a ser construídos com sistemas particulares de reaproveitamento de águas servidas. Nos mesmos, a água sai pelo ralo do box ou da banheira, segue por canos independentes até um pequeno reservatório que abastece os vasos sanitários da edificação. Só então vira esgoto que, em algumas cidades é tratado e reutilizado em processos industriais.
É importante lembrar que, das águas da Terra, apenas 2,5% são doces e, destas, mais de dois terços estão inacessíveis para consumo humano. O Brasil detém cerca de 12% da água doce disponível no mundo, mas mais da metade (54%) desse total localiza-se na Amazônia e na bacia do rio Tocantins, onde está a menor população por quilômetro quadrado do país.
Essa situação faz com que metrópoles dos estados do Sul/Sudeste e Nordeste brasileiros sejam obrigadas a buscar água em mananciais cada vez mais distantes, devido à poluição das águas por dejetos humanos e industriais e ao assoreamento de rios, lagos e represas, a um custo que aumenta exponencialmente e com danos ao meio ambiente. Cada nova represa e reservatório de água provoca desmatamento e, assim, contribui para diminuir o ciclo das chuvas e a quantidade de água doce disponível nessas regiões. É dever do poder público implantar medidas que racionalizem o uso dos recursos naturais, visando à boa gestão de recursos públicos, preservando o meio ambiente.
Paulo Costa
Consultor e especialista em programas de racionalização de consumo de água.
http://www.h2c.com.br/
"A água será uma comodity tão valorizada como é atualmente o petróleo. A falta da água terá consequências catrastóficas para as regiões onde esse recurso é a garantia para a produção de alimentos na agricultura", destacaram os conferencistas.
Vejam que a questão não está assim tão longe de preocupações imediatas. Leia artigo abaixo.
No início deste mês de novembro, foi noticiada pela imprensa a megacampanha que o governador do Estado de São Paulo, José Serra, quer lançar para evitar o risco de racionamento de água. Essa intenção, se levada à prática, vai promover na realidade um grande desperdício de recursos. E por quê o governo estadual paulista estará na verdade "jogando dinheiro pelo ralo"? A explicação está na série de equívocos conceituais que caracterizam a proposta. Em entrevista recente a uma rádio paulistana, o superintendente de Comunicação da Sabesp, Raul Cristiano, sugeriu aos ouvintes que "colocassem um tijolo dentro da caixa em sistemas de caixa acoplada". Nada mais ilustrativo da falta de rumo e de propostas mais sérias e de efeito permanente em relação à economia de água pelos responsáveis por essa área na concessionária paulista de saneamento.
O desperdício de água em São Paulo ultrapassa os 40% do volume tratado, de acordo com especialistas - parte desse montante, ou cerca de 10% dele, trata-se de perda de receita por desvios ilegais (os famosos "gatos", ou seja, roubo de água pura e simplesmente), mas a maioria é por problemas nas redes de distribuição da Sabesp. Estas estão, especialmente nas áreas mais antigas, como a capital paulista, por exemplo, deterioradas, com canos enferrujados, gerando vazamento e desperdício considerável. Somente para comparar: metrópoles como Tóquio, no Japão, reduziram as perdas físicas a cerca de 3% do total de água tratado. Essa é uma boa área para começar a investir recursos, com ganhos para todos: contribuintes, governo e o meio ambiente, prejudicado pela sempre crescente necessidade de novos reservatórios de água, que acabam promovendo o desmatamento de florestas.
Além dessa ação, é necessário implementar, em todos os níveis de governo (municipais, estaduais e federal), programas de uso racional da água, que geram economia permanente no consumo do líquido cada vez mais escasso.
Lição de casa
Para Paulo Costa, consultor e especialista em programas de uso racional da água, as prefeituras e os governos estaduais e federal deveriam dar o exemplo. "Se os prédios públicos, as escolas, hospitais adotassem medidas racionalizadoras, seria - além de um belo exemplo para a sociedade- uma economia gigantesca no gasto da água. Além disso, com o dinheiro economizado, essas autarquias poderiam investir em campanhas de conscientização através de ações educativas junto à comunidade, esclarecendo sobre as maneiras de evitar o desperdício, as formas de economizar e as fontes alternativas para a captação de água, bem como a diferenciação dos usos da mesma, ou seja: para algumas atividades não há necessidade de utilização de água tratada".
Medidores individuais
Outra forma é a criação de uma lei que obrigue as novos edifícios a instalarem medidores individualizados. Na maior parte dos condomínios brasileiros a cobrança da conta de água é feita em conjunto, e não condômino por condômino. Isso significa que o custo é rateado por todos os moradores, e aqueles que gastam menos acabam pagando o mesmo que aqueles que gastam mais. "Sabemos que o brasileiro gasta , em média, cinco vezes mais água do que o volume indicado como suficiente pela Organização Mundial da Saúde e somente com a medição individualizada é que as pessoas mudarão seus hábitos". Alguns exemplos bem-sucedidos também podem ser copiados. Veja os exemplos:
México - Em 1991, o governo mexicano criou o " reposition cost", substituindo três milhões e meio de válvulas por vasos sanitários com caixa acoplada, de 6 litros de descarga, obtendo uma redução de consumo de 5 mil litros de água por segundo." Reposition cost" era o preço que cada proprietário de edificação, dos mais variados usos, havia pago pala reposição das bacias, trocadas em locais autorizados para tanto, e que era devolvida pelo governo.
Nova York - Conseguiu instalar mais de um milhão de bacias sanitárias economizadoras, entre 1994 e 1996. A prefeitura reembolsava as despesas dos moradores e empresários locais com a troca de bacias. A iniciativa poupou 216 milhões de litros de água por dia e o investimento se pagou em quatro meses.
Los Angeles - O governo da Califórnia ofereceu redução de impostos para toda a troca de bacias com consumo superior a 6 litros. Também utilizou uma intensiva campanha publicitária nos meios de comunicação, mostrando as vantagens e a economia provenientes da troca de bacias.
Japão - Lá foram mudadas as regras da construção civil e os condomínios, hotéis e hospitais passaram a ser construídos com sistemas particulares de reaproveitamento de águas servidas. Nos mesmos, a água sai pelo ralo do box ou da banheira, segue por canos independentes até um pequeno reservatório que abastece os vasos sanitários da edificação. Só então vira esgoto que, em algumas cidades é tratado e reutilizado em processos industriais.
É importante lembrar que, das águas da Terra, apenas 2,5% são doces e, destas, mais de dois terços estão inacessíveis para consumo humano. O Brasil detém cerca de 12% da água doce disponível no mundo, mas mais da metade (54%) desse total localiza-se na Amazônia e na bacia do rio Tocantins, onde está a menor população por quilômetro quadrado do país.
Essa situação faz com que metrópoles dos estados do Sul/Sudeste e Nordeste brasileiros sejam obrigadas a buscar água em mananciais cada vez mais distantes, devido à poluição das águas por dejetos humanos e industriais e ao assoreamento de rios, lagos e represas, a um custo que aumenta exponencialmente e com danos ao meio ambiente. Cada nova represa e reservatório de água provoca desmatamento e, assim, contribui para diminuir o ciclo das chuvas e a quantidade de água doce disponível nessas regiões. É dever do poder público implantar medidas que racionalizem o uso dos recursos naturais, visando à boa gestão de recursos públicos, preservando o meio ambiente.
Paulo Costa
Consultor e especialista em programas de racionalização de consumo de água.
http://www.h2c.com.br/
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