Curió distribuiu terras do PC do B

Vasconcelo Quadros

Brasília - Nomeado pelo regime militar interventor de Serra Pelada, em 1978, o Major Curió administrou com mãos de ferro o garimpo. Mas não abriria mão da mesma estratégia que quatro anos antes o ajudaria a aniquilar o movimento implantado pelo PC do B nas margens do Rio Araguaia: cerca de 100 pistoleiros e guias que haviam trabalhado para o Exército nas buscas aos guerrilheiros foram recrutados e misturados entre os garimpeiros para levantar informações e alertá-lo sobre eventuais conspirações que pudessem por em risco o regime de disciplina militar que implantou na área do garimpo. Desde que se envolveu com o esquema de repressão à guerrilha, a partir de 1971, Curió nunca mais deixaria a região e faria com os jagunços - também chamados de bate-paus pela guerrilha - uma troca que garantiria às Forças Armadas o controle da região.

Um dos segredos que o transformaria num personagem temido, mas respeitado, seria um acordo tácito com jagunços e alguns moradores que, por opção ou medo da repressão, o ajudaram a esquadrinhar as matas do Araguaia em busca dos refúgios construídos pelos guerrilheiros. Como a área em que a guerrilha se instalou era formada por terras devolutas, Curió, que usava o codinome de Doutor Luchini e também exercia de fato a função de coordenador do Incra na região, sediado em Marabá, foi generoso na distribuição de terras públicas.

O mais curioso, e que só agora vem à tona, é que fez continência com chapéu alheio: boa parte das terras que ele distribuiu pertencia a camponeses e aos militantes do PC do B que, para entrar na região do Araguaia e se misturar aos camponeses, tentaram demonstrar que eram agricultores.

Fazendeiro - Um deles, o economista gaúcho Paulo Mendes Rodrigues, quadro preparado do partido, era dono de uma fazenda com cerca de 400 hectares em São Geraldo do Araguaia. O ex-guerrilheiroDanilo Carneiro, o primeiro a ser preso, estima que os militantes tinham entre sete e oito posses, a maioria delas formada por pequenas frações com tamanho entre 20 a 30 hectares. As maiores pertenciam a Paulo Rodrigues, que era considerado pelos moradores um fazendeiro próspero para os padrões da região, e a Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão.

Quando o conflito estourou, cada um deles assumiu o comando de dois dos três destacamentos da guerrilha (o B e o C) e se viram obrigados a abandonar as posses. Paulo Rodrigues também exercia liderança política entre os moradores e, durante os quase dez anos que viveu na região, por ironia do destino, seguidas vezes foi procurado para emprestar apoio a candidatos a prefeito ou vereador que se apresentavam em nome do partido que servia ao regime militar, a extinta Arena.

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