O ano de 2008 vai ser agitado para o setor financeiro brasileiro. Além da esperada disputa entre o Santander (agora dono do Banco Real) e o Itaú pela segunda posição entre os bancos privados, o ano vai ser marcado por duas sucessões importantes. A principal delas, sem dúvida, será a do Bradesco, que trocará de comando em março de 2009. O presidente da instituição, Márcio Cypriano, atingirá a idade limite prevista no estatuto do banco - 65 anos - e não poderá ser reempossado na reunião do conselho que ocorrerá em março de 2009. O nome do substituto deverá ser conhecido em 2008 e o balcão de apostas já foi aberto. Entre os candidatos estão o atual presidente da seguradora, Luiz Carlos Trabuco Cappi, e dos vice-presidentes José Luiz Acar Pedro e Milton Vargas. Nos últimos dias, surgiram rumores sobre um quarto nome, de um ex-funcionário do banco que se tornou um grande executivo de empresas - opção considerada pouco provável.
A mudança da presidência do maior banco privado do país é um assunto que chama a atenção. Há, porém, uma outra sucessão em curso, bem menos ruidosa, no Itaú. Calma. O banco controlado pelas famílias Setubal e Villela não deverá tirar Roberto Setubal da cadeira de presidente tão cedo. Os executivos mais importantes da instituição, entretanto, estão de saída pelo mesmo motivo da sucessão no Bradesco: aposentadoria.
No Itaú, o estatuto determina que não pode ser eleito diretor quem já tiver completado 62 anos na data da eleição. Até março de 2009, dois dos três vice-presidentes sêniores terão de deixar a diretoria executiva do banco por causa da regra. Em março de 2008, sai Henri Penchas. Em março de 2009, Antonio Jacinto Matias. Da cúpula do banco também sai, no ano que vem, o chefe da área jurídica, Luciano Amaro, funcionário da instituição desde 1976. São três nomes importantes, considerando apenas o primeiríssimo escalão do banco. Há ainda outra dezena de aposentadorias previstas entre os 64 diretores-gerentes, o segundo escalão.
-------------------------------------------------------------------------------- Itaú perderá três de seus principais executivos --------------------------------------------------------------------------------
Analistas e executivos ouvidos pelo Valor dizem que, no Itaú, a sucessão que mais chama a atenção é a de Henri Penchas, braço-direito de Setubal e único vice-presidente sênior da Itaú Holding Financeira (holding que controla, além do Itaú, o Itaú BBA). Responsável por toda a área de riscos operacionais e contabilidade do banco, além da área de relações com investidores da Itausa, Penchas é considerado no mercado como o expert que dá forma aos balanços do Itaú. Ele foi um dos responsáveis, por exemplo, por transformar as fortes perdas da tesouraria do banco no terceiro trimestre em algo com pouco impacto no resultado da instituição, que fechou o terceiro trimestre com lucro líquido acumulado de R$ 6,44 bilhões. Ao estabelecer que boa parte dos títulos da tesouraria era para ser mantida até o vencimento ("hold to maturity"), e não para negociação ("trading"), a instituição não teve de marcar os papéis a mercado e reconhecer as perdas daquele momento. Outra sacada foi a decisão de avisar o mercado, antes da divulgação do balanço, de que seriam registradas perdas expressivas (de um resultado positivo de R$ 457 milhões no segundo trimestre, a tesouraria do banco passou para uma perda de R$ 144 milhões no terceiro trimestre). A transparência levou a uma alta das ações naquele dia e ofuscou o relatório de um analista que antecipava o mau desempenho da área.
Viúvo, Penchas dedicou sua vida ao Itaú. Basta fazer uma pesquisa no "Google" para ver que não há menções ao seu nome que não estejam relacionadas à instituição financeira. Não à toa, ele foi o único membro fora das famílias Villela e Setubal que participou das negociações de aquisição do BBA, por exemplo. Há alguém preparado para substitui-lo? Aparentemente, não. Conversas informais indicam que a área de operação de Penchas será desmembrada em duas. Uma ficaria a cargo de Sílvio de Carvalho. A outra, com Alfredo Setubal, irmão de Roberto. A divisão de áreas já foi a solução adotada pelo Itaú com a aposentadoria de Renato Cuoco, da área de tecnologia, em março deste ano. O executivo tinha 48 anos de banco. No caso de Luciano Amaro, chefe do jurídico, a saída seria a passagem do bastão para sua esposa e subordinada, Maria Elisabete Lopes Amaro. Ela, porém, já deu sinais de que pode pedir uma aposentadoria antecipada, segundo apurou o Valor.
Em conversa com analistas, o Itaú trata a questão da aposentadoria dos executivos como algo cotidiano. De fato, é algo que acontece na vida de qualquer empresa. No caso do banco dos Setubal e Villela, porém, há dois fatores que merecem ser acompanhados. O primeiro é a preparação de executivos para a sucessão. Quando comprou o BankBoston, em maio do ano passado, Setubal deu grande ênfase à incorporação dos funcionários do banco americano. Mas, desde então, vários executivos-chave do Boston deixaram a instituição. O segundo ponto a se observar - e mais importante - é se executivos como Penchas farão falta em um momento tão importante para o Itaú.
Em 2008, o Itaú disputará palmo a palmo o mercado com o Santander/Real, no primeiro embate de verdade de bancos brasileiros de varejo com estrangeiros. Outro desafio é o avanço na área de crédito. Setubal admitiu, na semana passada, que o banco não se deu conta do potencial do consignado na arrancada do mercado e agora está "correndo atrás" e que "tem uma lição de casa a fazer" no crédito a pequenas e médias empresas.
Para suprir essa deficiência, o Itaú chegou a negociar o mineiro BMG e a fazer uma oferta agressiva. A publicação dos termos da negociação, porém, teria provocado um racha no conselho de administração. Os Villela teriam se declarado contrários ao negócio com o BMG, instituição envolvida no escândalo político do mensalão. O acordo não saiu e o direito de preferência do Itaú na aquisição da instituição mineira expirou no último fim-de-semana. O Itaú também chegou a sondar o banco IBI, da rede de varejo C&A. Os holandeses, proprietários da varejista, não quiseram negociar. Na área de financiamento ao consumo, a financeira Taií, embora tenha atingido seu ponto de equilíbrio, não cresce como previsto.
Como se vê, 2008 promete ser agitado nos bancos brasileiros.
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