O Pará não pode ser o bode expiatório do desmatamento

A governadora do Pará, Ana Julia Carepa (PT), diz que seu estado não pode pagar sozinho o preço do combate ao desmatamento no Pará, que chega, segundo ela, a R$ 2 bilhões ao ano, o equivalente a 7% do PIB estadual. Carepa pretende pedir ajuda ao governo federal e espera se reunir com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para apresentar a ela quanto custa proteger a floresta. Segundo a governadora, só em ações de fiscalização e retirada de madeira, iguais a que está ocorrendo em Tailândia, são gastos R$ 50 milhões por ano. “Não queremos destruir a economia do estado. Por isso, alguém tem que pagar a conta”, diz.

Outra preocupação do governo paraense é a criação de alternativas econômicas para a população das cidades que hoje vivem da extração da madeira. Carepa diz que pretende levar a esses municípios ações sociais de capacitação profissional, incentivo à agricultura familiar e cursos de formação de fiscais ambientais. A idéia é apresentar às pessoas uma alternativa à ilegalidade.

Carepa sabe que a estratégia é fundamental para que o combate ao desmatamento seja bem sucedido. Dependente do trabalho da extração, a população pode ser facilmente manipulada. “A reação das pessoas em Tailândia (terça-feira passada) foi incentivada por madeireiros inescrupulosos. Foi distribuída cachaça na cidade. Tratou-se de uma tentativa de intimidar o Estado, mas não vamos nos deixar intimidar. É questão de honra”, avisa. (Correio Braziliense)

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'Não é justo que só nós paguemos'

Governadora do Pará diz que conta do combate ao desmatamento ilegal precisa ser dividida

A senhora pretende pedir ajuda do governo federal no combate ao desmatamento?

ANA JULIA CAREPA: Terei reunião com a ministra Marina (Silva) para apresentar o custo do combate ao desmatamento, porque a atividade madeireira ilegal representa R$2 bilhões ao ano, 7% do PIB do Pará. A conta não é pequena. O Brasil precisa conhecer o tamanho da conta. Temos que fazer valer a floresta em pé mais do que vale a floresta derrubada. Propostas de incentivo fiscal federal, o ICMS verde, precisam ser levadas a sério com urgência. A conta não pode ficar só com o povo do Pará porque o benefício é para o Brasil e o mundo. Não é justo que só nós paguemos a conta.

Quanto custa?

ANA JULIA: Só as ações de fiscalização e retirada de madeira, iguais a esta que estamos fazendo em Tailândia, são uns R$50 milhões por ano. Além disso, há custo para a economia. Não posso perder R$2 bilhões (o orçamento do estado para 2008 é de R$9 bilhões). Não queremos destruir a economia do estado. Sou a governadora. Imagine se quero destruir a economia do meu estado! Alguém tem que pagar a conta. Assim como o Brasil cobra do mundo (na questão da emissão de gases), o país tem que entender que é preciso ajudar a pagar a conta do combate ao desmatamento ilegal.

A senhora vai pedir ajuda da Força Nacional de Segurança?

ANA JULIA: Todo mundo sabe que o governo federal está preparando uma ação. Se necessário, vamos pedir ajuda. Há quatro meses solicitei ao ministro Tarso Genro que estudasse a possibilidade de a Força Nacional ajudar a combater o desmatamento ilegal. Ele disse que iria estudar. Por enquanto, avaliamos que este reforço que virá nas operações do governo federal é suficiente.

Como atenuar o impacto para a população?

ANA JULIA: Não queremos causar impacto econômico. Vamos entrar lá com ações sociais, com mecanismos como a criação de fiscais ambientais que poderão receber até R$250, fazer cursos de capacitação profissional e incentivar a agricultura familiar. Não queremos custo para a população, mas sabemos que deve haver uma transição.

Como será esta transição?

ANA JULIA:A transição é para pessoas que querem vir para a legalidade. Tem uma uma parte que quer isso e outra que não quer. As que não querem se legalizar não vão sobreviver. Estamos dando chance para quem quer vir para a legalidade.

É suficiente para aliviar o impacto de perder R$2 bilhões?

ANA JULIA: Precisamos valorizar as atividades legais, fazer com que tenham valor econômico no mundo todo. Precisa haver outra atividade econômica, senão as pessoas vão fazer o que é mais fácil. Existe o instinto de sobrevivência. A maioria das pessoas são trabalhadores que querem viver com dignidade.

Os madeireiros criticam a demora na liberação dos planos de manejo da floresta.

ANA JULIA: A partir de segunda-feira, entram mais funcionários. Estamos avaliando os projetos de forma criteriosa. Mas mesmo com este mutirão não há como (aliviar a situação em curto prazo). Esbarramos na questão fundiária, pois boa parte das terras é pública, e só no final do ano poderemos fazer licitações para a exploração delas.

A senhora esperava a reação da população em Tailândia?

ANA JULIA: Esta reação foi incentivada pelos madeireiros inescrupulosos. Foi distribuída cachaça em Tailândia. Foi uma tentativa de intimidar o Estado, mas não vamos nos deixar intimidar. É questão de honra. Vou tirar aquela madeira nem que demore 20, 30, 50 dias. (O Globo)

Comentários

O governo do Estado do Pará precisa, no mínimo, com urgência urgentíssima, de um economista e de um engenheiro químico especializado em celulose nos seus quadros.

A Governadora afirma que o desmatamento ilegal do Pará custa para os cofres públicos cerca de R$ 2 bilhões, equivalentes a 7% do PIB do Estado.

Aqui no Amapá tem um empresa americana explorando uma pequena capoeira de eucaliptos e pinus em apenas 10.000 hectares por ano ou 100 Km², se comparada às áreas paraenses, e consegue exportar cada ano santo 2 milhões de toneladas de cavacos, com a empresa auferindo uma receita de fabricação de celulose superior a R$ 4 bilhões/ano, o equivale ao PIB inteiro do Amapá por um longo ano.

Claro que o Estado não vê a cor desse dinheiro pago em cavacos (10% do valor da celulose), ficando aqui apenas alguns milhões de reais em salários já que a exportação é isenta de impostos. Já a receita de exportação que chega a alguns milhões de dólares vai para a reserva do Mantega e pouco serve para região, mas, os brasileiros mesmo passando fome recebem o título de Investment Grade.

Supondo que os municípios do Pará contribuíram com apenas 1/3 dos 18.000 Km² queimados e desmatados em 2007, seriam 6000 Km² de floresta ou 600.000 hectares, o que significam uma besteirinha de apenas 120 milhões de toneladas métricas de cavacos por ano, ou 60 vezes o que o Amapá exporta anualmente.

Enfatizamos que a floresta magricela de eucaliptos produz apenas 200 toneladas de cavacos por hectare ou 1/3 da produção da floresta amazônica nativa com os seus troncos portentosos, o que aumentaria o prejuízo para 360 milhões de toneladas de cavacos.

Cada tonelada de madeira produziria o correspondente em energia a dois (02) barris de petróleo ou R$ 200,00 a preços de hoje ou ainda 500 quilos de celulose por baixo – também cerca de USS 200,00.

Com base nessa receita por tonelada, 360 milhões de toneladas de madeira que desaparecem anualmente, produziriam a bagatela de 720 milhões de barris do mais puro combustível ou a ínfima quantia de U$$ 72 bilhões em qualquer das duas “comodities”.

Assim, nos parece que as contas da Governadora e dos próceres federais carecem de um pequeno ajuste entre a realidade econômica e a ficção. Como US$ 72 bilhões anuais de exportação correspondem a R$ 122 bilhões ao câmbio de R$1,70 por dólar, esse pequeno ajuste seria de apenas de R$ 120 bilhões ou cerca de 03 anos do PIB Paraense. Se extrapolarmos esses pequenos valores para os 18.000 Km² de florestas desmatadas em Rondônia, Mato Grosso e Pará, os três Estados juntos perderam somente em 2007 cerca de R$ 366 bilhões, que correspondem a quatro sofridos anos do PIB somados das três unidades federativas (cerca de R$ 88 bilhões em números de 2005).Daria para construir a Cuiabá-Santarém em estilo “Highway” de 08 pistas até a Lua.

Na Índia ou na China, os orientais produziriam gás metano para abastecer a Argentina, o Brasil e toda a América Latina por um século, mas, nas contas da clarividência não temos como fornecer uma merreca de gás para os hermanos. Faz me rir, Brazucas.

Brasileiros são muito espertos! E, principalmente, muito filantropos.

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