Carlos Minc ― "Ecochato" ou "liberal"?

Deu no Estadão.

Minc, ganhador de prêmio da ONU, ficou conhecido por performances

Político profissional, antes de chegar à Secretaria do Ambiente do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB), em janeiro de 2007, se preparava para iniciar o sexto mandato consecutivo na Assembléia Legislativa fluminense, para a qual foi eleito pela primeira vez em 1986. Como parlamentar, sempre se destacou por performances com assessores fantasiados, alegorias espalhafatosas e muita imprensa, para denunciar danos à natureza. No poder, manteve o estilo, mas mudou o conteúdo. De “ecochato”, passou a ser classificado de “liberal demais” por alguns ambientalistas, por conta da rapidez com que licenças ambientais passaram a ser concedidas por órgãos sob seu comando.

Em passado não tão distante, no figurino de ativista ecológico, Minc chegou a martelar batatas, como rolhas, em canos de descarga de ônibus que poluíam a capital fluminense. Quando, nos anos 90, se juntou a homossexuais para incentivar o uso de camisinha, colocou um megapreservativo no obelisco, monumento de 18 metros no fim da Avenida Rio Branco, no centro do Rio.

Em 19 anos na Assembléia, foi autor de pelo menos 150 leis, uma das quais pune estabelecimentos que discriminem gays, lésbicas e travestis. Também lutou contra o uso de amianto no Estado e em 2004 conseguiu aprovar uma lei responsabilizando as empresas pelo tratamento de funcionários contaminados pela substância.

Como secretário de Ambiente, porém, foi criticado por autorizar o plantio de eucalipto, pela Aracruz Celulose, o que antes condenava. A compensação com reflorestamento caiu de 30 hectares para 10 hectares de mata nativa para cada cem de eucaliptos. Atitudes como essa, contudo, também lhe rendem elogios. Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na solenidade de lançamento do Arco Metropolitano do Rio, em Itaguaí, saudou sua atuação.

Defensor do “socialismo libertário”, Minc começou na política pelo movimento secundarista ainda adolescente, nos anos 60, na resistência à ditadura. Atribui-se a ele participação em uma das mais espetaculares ações da luta armada: o roubo do cofre de Adhemar de Barros em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, com US$ 2,5 milhões em dinheiro ilegal, por um comando da VAR-Palmares, o que não assume oficialmente. Preso em 1969, sofreu torturas e deixou o País como um dos 40 presos políticos libertados em troca do embaixador da então Alemanha Ocidental, Ehrenfried von Holleben, seqüestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e pela Ação Libertadora Nacional (ALN), em 1970. Exilado, voltou ao País em 1979, com a anistia.

Na redemocratização, Minc teve trajetória política sinuosa. Embora engajado, nos anos 80, no projeto de criação do PV, com o jornalista Fernando Gabeira, entrou para o PT em 1986. Eleito, depois que o PV se viabilizou como partido, trocou o petismo pelos verdes, então de perfil ecológico e alternativo. Em 1990, porém, voltou para o PT.

Em 1989, Minc recebeu o Prêmio Global 500, concedido pela ONU a pessoas que se destacam na luta pela defesa do meio ambiente. Foi o segundo brasileiro a ganhar esse prêmio - o primeiro foi Chico Mendes.

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