Protagonismo na Amazônia ― Amazonas x Pará x São Paulo

Voltando ao protagonismo perdido pelo Pará em relação ao Amazonas, eis que entra outro ente federativo na questão: São Paulo.

Não há sinais aparentes, pelo menos sob o ponto de vista prático, de que o Amazonas ou Pará tenham chances, a contar da atual geopolítica nacional, de executar a plenitude de seu desenvolvimento sem a quebra das amarras de sua relação com São Paulo. Relação em que, de uma lado o colonialismo exploratório é a grita, e de outro a subserviência institucional e mercantil, a prática.

Amarras seria um termo leve para definir a condição em que se processa os interesses paulistas na Zona Franca de Manaus, assim como, na frágil industrialização paraense. Tudo é de seu e para o seu interesse.

Mas afinal qual o Amazonas e o Pará que seus habitantes querem?

Definitivamente isto não está claro nem para as suas elites que tão somente imprimem esforços para a manutenção de seu status quo, este, sobejamente ameaçado pela concorrência de seus produtos sem valôr agregado e preços aviltados, e isolamento logístico. Sem falar, na quase inexistência de produtos com tecnologia eminentemente amazônida, com escala econômica.

Partindo do pressuposto que a base industrial manauara opera no sistema CKD, salvo raras exceções. Esse modelo além de atender os interesses internacionais, relega aquele pólo industrial à morte eminente.

Importa-se as peças, monsta-se na linha de produção da Zona Franca e os produtos percorrem rios, estradas e navios até os centros comerciais.

Para se ter uma idéia da insanidade. A TV de plasma ou LCD que o morador de Manaus ou de Belém compra na loja é fabricada em Manaus, vai para São Paulo e volta para os centros de consumo do norte e nordeste. A quem interessa esse modelo, mesmo com as pesasdas isenções ficais a qual o Governo Federal praticamente é obrigado a se submeter?

É a política do cyber café sem leite da política nacional. O Brasil, agora, só sabe eleger paulista, ou nordestino adotado por eles.

O que se dirá que o principal potencial industrial paraense é um mero coadjuvante na atual política de desenvolvimento do Pará, visto que os ventos da verticalização mineral no estado detentor da maior riqueza de minário do país e talvez do mundo, é foco dos maiores esforços da baderna de movimentos sociais pouco claros em relação às suas reais intenções.

Dificilmente, caso essas posições não sejam revistas, o Pará ou o Amazonas, conseguirão, um dia, sentar numa mesa de igual para igual, para redefinir condições favoráveis para negociar com o protagonismo paulista.

Estão implícitas neste debate as condições reais da criação de novos Estados como política de governo, ―e, sobretudo, de Estado. Entretanto, rigorosamente nada se faz porque São Paulo não quer que se faça.

Não se trata aqui de desmerecer os méritos das tentativas em curso, condenar antecipadamente o fracasso deste ou daquele governante. Trata-se de encarar a realidade que nos rodeia. A triste sombra que perturba a tomada do destino da Amazônia nas próprias mãos dos amazônidas.

A mais importante declaração da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva na entrevista coletiva em que tentou explicar as razões pelas quais se retirou do comando da pasta era exatamente a falta de protagonismo a que se viu emparedada na relação entre a preservação ambiental e a necessidade da produção.

Não há problema discutir como deve ser essa produção, mas daí deitar o estado policialesco em cima de cidadãos que acietaram o desafio de produzir numa das áreas mais inóspitas do planeta, abrindo mão dos confortos da cidade grande, é querer gozar de uma santidade que ninguém tem.
Prestando-se bem atenção, a saída espontânea e estratégica da ministra não foi um ato de desistência, mas também não foi uma decisão pragmática.

A ministra sabe que o tripé da política a qual pautou a agenda ambiental de sua equipe:
1. preservação ambiental
2. inclusão social
3. desenvolvimento econômico. Foi a razão implícita.

Veja aqui o legado da ministra.

Nos dois últimos, perdoe-me a senadora, muito pouco foi feito e nas áreas onde suas ações foram priorizadas o que se vê é uma terra arrasada pelo desemprego, quebra de empresas e o povo com fome sem ter a quem recorrer.

Aliás, esse tripé é o item base das cartilhas ambientalistas. Representa um protagonismo em que o Brasil é signatário em vários tratados internacionais. Fica, portanto, outra pergunta:

― Onde fica o nosso protagonismo?

Não se consegue perceber, mesmo estando deixado do topete dos governantes que a manutenção do modelo geopolítico da Amazônia é um convite à quebra da soberania brasileira sobre a região.

Se não se quer reestruturar novos unidades federativas no Brasil, no que se releva um pensamento consolidado no meio político da própria região amazônica, o grande beneficiário desta decisão é São Paulo e seu poder de fogo político-econômico.

Acredito no entanto, que muitos paulistas que resolveram encarar o desafio de morar e constituir família no Norte, sabem muito bem do que estou falando, o que parece-me que nem tudo está perdido.

Porém, até quando?

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