Dúvidas sobre a solução da crise

Em meio a protestos, democratas acusam republicanos de travar acordo sobre pacote bilionário

Parecia que tudo ia bem. Democratas e republicanos chegaram mesmo a anunciar terem firmado um acordo preliminar para aprovar hoje, último dia de trabalho no Congresso antes do recesso eleitoral, o pacote de socorro de US$ 700 bilhões ao sistema financeiro. Mas a coisa desandou. No fim da tarde, um comunicado da Casa Branca deixou claro que os dois lados não se entenderam e que não são tão grandes quanto se pensava as chances de aprovar com urgência o plano para acabar com a crise mundial.

O fracasso das primeiras negociações foi creditado pelos democratas ao presidenciável republicano John McCain. Líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid declarou, em entrevista coletiva, que “McCain não fez nada para ajudar, apenas atrapalhou o processo”. Segundo ele, os congressistas passariam a noite trabalhando para viabilizar o acordo. Reid, contudo, não mencionou quais exatamente os pontos a que o candidato se opôs.

A proposta original apresentada pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, previa a compra de títulos podres em poder dos bancos no total de US$ 700 bilhões, mas o acerto preliminar costurado entre os congressistas determina que os recursos sejam liberados a conta-gotas: uma primeira parcela de US$ 250 bilhões seria disponibilizada imediatamente, com um desembolso adicional de US$ 100 bilhões na seqüência, se necessário.

Para não passar um cheque em branco ao governo George Bush, o Parlamento dos EUA também exige a fixação de mecanismos que possibilitem o bloqueio da última prestação, por meio de votação, caso não sejam alcançados os resultados do programa. Questões de fundo como a limitação dos salários dos executivos que estão à frente das instituições financeiras beneficiadas foram incluídas no pré-acordo, mas não está definido, porém, se o pacote mexerá na lei de falências. Até a noite de ontem, muitos desses pontos eram negociados diretamente com Paulson. O secretário do Tesouro é contrário a alterações que possam desfigurar o pacote.

Como trabalharam com as primeiras informações do dia, os mercados fecharam em clima positivo. Após três sessões sombrias, a bolsa de Nova York fechou em alta, com o índice Dow Jones a 1,82%. A bolsa eletrônica Nasdaq pegou carona e avançou 1,43%. Na Europa, os investidores fizeram eco. A bolsa de Frankfurt encerrou o dia com 1,99% de valorização, enquanto em Paris, o índice avançou 2,73%. A bolsa do Japão registrou queda de 0,90% puxada pelos números de emprego e desemprego.

No Brasil, o otimismo marcou os negócios e a Bovespa subiu 3,98%. O bom desempenho se deu graças à valorização de ações da Petrobras e da Vale. Na maior alta da semana, o Ibovespa fechou aos 51.828,46 pontos. Durante toda a sessão, o pregão oscilou apenas no terreno positivo, entre a mínima de 49.848 pontos e a máxima de 51.867 pontos. No mês, a bolsa de São Paulo acumula perdas de 6,92% e, no ano, de 18,87%. O giro financeiro totalizou R$ 5,235 bilhões. Já o dólar fechou em queda de 1,57%, a R$ 1,821.

Pacto em jogo
Envolvido diretamente nas negociações, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, deu declarações no início da noite que davam a entender que o jogo político ainda estava em aberto. Segundo ele, o socorro aos bancos em dificuldades virá “eventualmente”, mas que são necessárias novas reuniões para se chegar a um consenso. Obama, conversou por telefone com o presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Christopher Dodd, de quem obteve detalhes do plano. Mais tarde, esteve com Bush e seu adversário republicano à corrida pela Casa Branca, John McCain, em uma reunião considerada histórica, mas que acabou improdutiva, devido ao fracasso das negociações.

Em meio às idas e vindas, o democrata Dodd chegou a afirmar que os legisladores planejam “agir rapidamente” para votar as novas regras. Em Wall Street, no entanto, houve protestos contra as medidas propostas pelo governo Bush. Americanos inconformados com a intervenção do Estado saíram às ruas com cartazes que traziam mensagens de protesto, muitas delas exigindo a aplicação dos recursos em áreas sociais.

Na quarta-feira, o presidente americano fez um apelo para que o Congresso aprove o quanto antes o plano de resgate da economia. Em tom de preocupação, Bush admitiu que o problema é grave e que, caso o plano de ajuda de US$ 700 bilhões não seja ratificado, a economia real poderá ser atingida em cheio.

FALÊNCIA HISTÓRICA
Na maior falência de um banco na história do país, o Washington Mutual foi fechado ontem à noite pelo governo dos EUA. Seus ativos bancários foram vendidos por US$ 1,9 bilhão ao JP Morgan Chase. O resgate marca um passo histórico na limpeza do sistema financeiro dos EUA, afetado com dívidas hipotecárias podres. O Washington Mutual foi fechado pelo Escritório de Supervisão Econômica (OTS, sigla em inglês) e entregue ao controle da Agência Federal de Seguradoras de Depósitos (FDIC). A medida ocorreu depois que a instituição sofreu saques de 16,7 bilhões de dólares desde 15 de setembro. A aquisição não terá impacto sobre os depositários e clientes do Washington Mutual. O banco tem 188,3 bilhões em depósitos e foi descrito como uma instituição de 307 bilhões de dólares pelo OTS.

Fonte: Correio Braziliense.

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