Uma mulher pode comandar a CNA

Kátia Abreu monta palanque de oposição na CNA para 2010

Primeira produtora rural a assumir um sindicato de seu setor (em Gurupi, Tocantins) e uma Federação de Agricultura de Estado (Tocantins), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) prepara-se para ser a primeira mulher a assumir o comando da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a partir de 2010.

Na semana passada, num intervalo de sua maratona pelo interior do Tocantins - onde dedica-se a campanhas eleitorais de aliados -, ela fechou acordo com o atual presidente da CNA, Fábio de Salles Meirelles, que lhe possibilitará ser eleita em chapa única em 12 de novembro.

Pelo acordo, costurado "em nome do consenso do setor", Meirelles deixa de disputar a permanência no cargo e ganhará a presidência de um conselho de agronegócios, a ser criado. Seu filho Fábio Meirelles Filho vai ocupar uma das cinco diretorias, a ser definida. Presidente da Federação de Agricultura de São Paulo desde 1975, Meirelles era vice-presidente de Ernesto Antônio de Salvo na CNA. Assumiu, com a morte de Salvo, em 2007, de câncer de pulmão. Meirelles tinha apoio de cinco das 27 federações e contava com a simpatia de integrantes do PT, como o senador Aloizio Mercadante (SP), para ser reeleito.

À frente da CNA, Kátia deverá endurecer a relação da entidade com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. "O agronegócio nunca teve tanta dificuldade como agora, no governo Lula. É uma questão ideológica. Há várias ações agredindo o direito de propriedade", afirma ela. Ela admite, no entanto, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso "já era muito urbano" e que "desde Getúlio Vargas o país nunca teve um presidente com sensibilidade para agronegócio". Segundo ela, os produtores rurais têm sido "pouco propositivos" ao longo dos anos. "Temos levado muita bola nas costas", diz ela.

Até o dia 23 de setembro, último dia para o registro das chapas, Kátia vai dividir seu tempo entre Brasília - onde ficará às terças e quartas-feiras até terminar a formação da chapa - e o seu Estado, onde chega a percorrer seis municípios em um só dia, por carro ou avião. Registrada a chapa, passará a cuidar apenas das eleições municipais. Ela está licenciada do mandato no Senado por quatro meses para cuidar das duas campanhas: a sua, para presidir a CNA, e a de candidatos do DEM e partidos aliados em primeiro de outubro.

A partir de 2010, ela vai comandar uma entidade que representa 1,2 milhão de produtores rurais do país e tem um orçamento anual de R$ 25 milhões, receita proveniente da contribuição sindical do setor. Os filiados da CNA são os donos de propriedades superiores a dois módulos fiscais, medida diferente em cada Estado: o menor módulo é o do Tocantins, que representa 80 hectares, e o maior, é o do Pará e Mato Grosso, de 100 hectares.

A futura presidente da CNA quer deixar de ser produtora de grãos para plantar eucalipto. Kátia é proprietária de uma fazenda em Campos Lindos (TO) de 3,2 mil hectares, na qual planta soja. Mas não está satisfeita com a atividade, que não considera sua "vocação". Quer vender essa fazenda e comprar outra menor, para plantio de eucalipto. Considera um "negócio promissor", para produzir madeira para papel e celulose, móveis e carvão para ferro gusa.

"Estou saindo da produção de grãos e ficando com a produção de celulose e com pecuária", disse. Seus filhos têm outra propriedade, próxima de Gurupi, sua base eleitoral. São cinco mil hectares, dedicados à criação de gado. Herdaram do pai, que morreu em um acidente aéreo em 1987. Kátia tinha 25 anos, cursava o último ano de psicologia em Goiânia, tinha dois filhos (então com um e quatro anos) e estava grávida do terceiro filho (a única mulher, hoje com 20 anos). Foi a partir daí que Kátia virou produtora rural.

"Decidi que ia ser uma ótima fazendeira. Aprendi na lida e no tapa", diz ela. Seis anos depois de ficar viúva, Kátia disputou e ganhou a presidência do Sindicato Rural de Gurupi. Repetiu o feito na federação estadual, que presidiu por nove anos (três mandatos consecutivos).

Hoje calcula seu patrimônio em cerca de R$ 20 milhões. A fazenda de Campos Lindos deve valer R$ 15,5 milhões e a casa em que mora em um setor de chácaras na capital, Palmas, R$ 2,5 milhões. A propriedade tem dez hectares (dois alqueires), um bosque de árvore nativa e uma bela vista da Serra do Carmo, área de preservação ambiental.

Nela, Kátia plantou horta e cria carneiro, vaca para produção de leite, galinha e pato. Construiu uma piscina, com direito a um golfinho jogando água pela boca, e uma sauna, apesar do calor de Palmas.

Fonte: Valor

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