A sombra que assombra o campo
Por Ibiapaba Netto, Isto É Dinheiro
A discussão ambiental não pode colocar a agropecuária contra o meio ambiente
Nem bem o nome da senadora acreana Marina Silva surgiu no noticiário como virtual candidata à Presidência da República, no campo brasileiro brotaram as primeiras repercussões. Durante anos, a ex-ministra do Meio Ambiente foi vista por produtores rurais como uma espécie de inimigo número 1 do agronegócio.
Suas posições, por vezes, soaram sistematicamente contrárias a todo tipo de evolução tecnológica ou modelo de desenvolvimento empresarial, como se a boa agricultura fosse apenas aquela feita por pequenos produtores familiares. Por isso, a virtual presidenciável cunhou importantes e influentes desafetos, como a poderosa bancada ruralista no Congresso Nacional. Ao longo de sua permanência no Ministério do Meio Ambiente, a ecologista sofreu duras derrotas. Além de não conseguir evitar a aprovação de sementes transgênicas no Brasil, perdeu praticamente todas as disputas com o excolega da Esplanada dos Ministérios, Reinhold Stephanes, titular do Ministério da Agricultura.
Mas, por outro lado, conseguiu trazer o debate ambiental para um nível mais alto. Respeitada internacionalmente, conferiu certa credibilidade às políticas nacionais principalmente no que tange à Amazônia. E agora tem a possibilidade, em sua aspiração presidencial, de concluir parte do que deixou para trás: integrar o agronegócio e o meio ambiente num modelo único e sustentável. Para isso, no entanto, Marina Silva não poderá cair na tentação de trazer o foco para uma luta entre "inimigos contra amigos da natureza", conforme aconteceu durante sua gestão na pasta ambiental. Isso apenas endureceria as disputas no âmbito ideológico, quando a saída para essa complexa equação está no entendimento das diferentes forças que devem ser complementares e não concorrentes.
Não há, por outro lado, como dissociar o desmatamento da falta de renda em algumas regiões do País. Manter uma floresta em pé custa dinheiro, principalmente em grandes áreas com ação de madeireiros ilegais. É preciso mão de obra, vigilância constante e em muitos casos até certos tipos de manejo na floresta, o que é dispendioso. "Quem não tem renda não preserva", costuma dizer o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, João Sampaio.
Por essa razão, é preciso ter um pouco de cuidado quando se olha para alguns números desse setor. Afinal, na última década, cerca de 30% do saldo da balança comercial veio do mundo rural. Mas o dinheiro não brotou, simplesmente, do chão. Em alguns Estados da federação como Mato Grosso, a inadimplência entre os agricultores chega a 25%. Isso num setor altamente dependente de crédito, seja para a compra de insumos, seja para viabilizar o plantio e o seu comércio.
Munida dessas informações, é possível que a virtual candidata Marina Silva se convença de que a melhor forma de promover a preservação é justamente apoiando o desenvolvimento e a renda no campo. Tal caminho passa obrigatoriamente por uma revisão nas políticas de subvenção de juros e, principalmente, com ferramentas (verdadeiramente) eficientes para a formação de estoques, garantindo a renda e não só subsistência dos agricultores. Não é possível prever se a senadora se transformará em presidente da República.
Mas, se essa for a sua verdadeira pretensão, não poderá incorrer no mesmo erro, segundo ela, cometido pelo presidente Lula. Ao se desligar do Partido dos Trabalhadores, na semana passada, Marina comparou a sua situação à peça Rei Lear, de Shakespeare. Na obra, o rei dá preferência à filha ambiciosa em detrimento da caçula, que apenas desejava o carinho de seu progenitor.
A metáfora, dirigida ao presidente Lula e à ministra Dilma Rousseff, mostrou todo o seu descontentamento em relação ao atual governo. Mas, se quiser realmente "chegar lá", não poderá se esquecer que terá, a exemplo de Lula e do Rei Lear, muitos "filhos para cuidar", e a agricultura profissional está entre eles.
A discussão ambiental não pode colocar a agropecuária contra o meio ambiente
Nem bem o nome da senadora acreana Marina Silva surgiu no noticiário como virtual candidata à Presidência da República, no campo brasileiro brotaram as primeiras repercussões. Durante anos, a ex-ministra do Meio Ambiente foi vista por produtores rurais como uma espécie de inimigo número 1 do agronegócio.
Suas posições, por vezes, soaram sistematicamente contrárias a todo tipo de evolução tecnológica ou modelo de desenvolvimento empresarial, como se a boa agricultura fosse apenas aquela feita por pequenos produtores familiares. Por isso, a virtual presidenciável cunhou importantes e influentes desafetos, como a poderosa bancada ruralista no Congresso Nacional. Ao longo de sua permanência no Ministério do Meio Ambiente, a ecologista sofreu duras derrotas. Além de não conseguir evitar a aprovação de sementes transgênicas no Brasil, perdeu praticamente todas as disputas com o excolega da Esplanada dos Ministérios, Reinhold Stephanes, titular do Ministério da Agricultura.
Mas, por outro lado, conseguiu trazer o debate ambiental para um nível mais alto. Respeitada internacionalmente, conferiu certa credibilidade às políticas nacionais principalmente no que tange à Amazônia. E agora tem a possibilidade, em sua aspiração presidencial, de concluir parte do que deixou para trás: integrar o agronegócio e o meio ambiente num modelo único e sustentável. Para isso, no entanto, Marina Silva não poderá cair na tentação de trazer o foco para uma luta entre "inimigos contra amigos da natureza", conforme aconteceu durante sua gestão na pasta ambiental. Isso apenas endureceria as disputas no âmbito ideológico, quando a saída para essa complexa equação está no entendimento das diferentes forças que devem ser complementares e não concorrentes.
Não há, por outro lado, como dissociar o desmatamento da falta de renda em algumas regiões do País. Manter uma floresta em pé custa dinheiro, principalmente em grandes áreas com ação de madeireiros ilegais. É preciso mão de obra, vigilância constante e em muitos casos até certos tipos de manejo na floresta, o que é dispendioso. "Quem não tem renda não preserva", costuma dizer o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, João Sampaio.
Por essa razão, é preciso ter um pouco de cuidado quando se olha para alguns números desse setor. Afinal, na última década, cerca de 30% do saldo da balança comercial veio do mundo rural. Mas o dinheiro não brotou, simplesmente, do chão. Em alguns Estados da federação como Mato Grosso, a inadimplência entre os agricultores chega a 25%. Isso num setor altamente dependente de crédito, seja para a compra de insumos, seja para viabilizar o plantio e o seu comércio.
Munida dessas informações, é possível que a virtual candidata Marina Silva se convença de que a melhor forma de promover a preservação é justamente apoiando o desenvolvimento e a renda no campo. Tal caminho passa obrigatoriamente por uma revisão nas políticas de subvenção de juros e, principalmente, com ferramentas (verdadeiramente) eficientes para a formação de estoques, garantindo a renda e não só subsistência dos agricultores. Não é possível prever se a senadora se transformará em presidente da República.
Mas, se essa for a sua verdadeira pretensão, não poderá incorrer no mesmo erro, segundo ela, cometido pelo presidente Lula. Ao se desligar do Partido dos Trabalhadores, na semana passada, Marina comparou a sua situação à peça Rei Lear, de Shakespeare. Na obra, o rei dá preferência à filha ambiciosa em detrimento da caçula, que apenas desejava o carinho de seu progenitor.
A metáfora, dirigida ao presidente Lula e à ministra Dilma Rousseff, mostrou todo o seu descontentamento em relação ao atual governo. Mas, se quiser realmente "chegar lá", não poderá se esquecer que terá, a exemplo de Lula e do Rei Lear, muitos "filhos para cuidar", e a agricultura profissional está entre eles.
Comentários
"Desenvolvimento Sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, é um conjunto de processos e atitudes que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades..
O conceito foi definitivamente incorporado como um princípio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992 - Eco-92, no Rio de Janeiro. O Desenvolvimento Sustentável busca o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 21, com a qual mais de 170 países se comprometeram, por ocasião da Conferência. Trata-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado.
A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, afirma que o Desenvolvimento Sustentável é construído sobre “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores” — desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Esse paradigma reconhece a complexidade e o inter-relacionamento de questões críticas como pobreza, desperdício, degradação ambiental, decadência urbana, crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde, conflito e violência aos direitos humanos.
A “Sustentabilidade Ecológica” tem que levar em conta cinco elementos fundamentais: os interesses da sociedade; as condições do meio ambiente; os recursos disponíveis; a metodologia econômica a ser aplicada e a cultura da população.
Dentro da questão cultural não podemos deixar de levar em conta a espiritualidade como uma determinante do comportamento social da comunidade. A visão da propriedade da terra e de seu gerenciamento vai depender muito da orientação espiritual (religiosa) recebida dos líderes religiosos. Um choque com os princípios espirituais poderá pôr a perder qualquer projeto, por melhor que ele seja no sentido de sustentabilidade."
Em 24/08/2009-2ª feira - 20hs35min. Alfredopam