Crime da jovem inglesa ― solidariedade brasileira de mão única
O jovem eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, fuzilado pela polícia britânica ao confundi-lo com um suspeito de atentados em Londres, foi definido por Alex Pereira, 28 anos, primo da vítima, como um jovem 'falante, amável e amigável', não tinha nada a esconder nem temia a polícia. A morte inaceitável e o erro grosseiro da polícia inglesa sensibilizou poucos londrinos e pessoas de outras nacionalidades que por lá moram ilegalmente ou não.
Eis que o espaço das agências internacionais de notícias reservado a comentários de leitores se tornou um verdadeiro fórum de debates, com participação maciça dos brasileiros, sobre o caso da britânica assassinada em Goiânia. No site do jornal The Times, uma moradora da capital goiana presta solidariedade à família de Cara Marie Burke. Um desavisado americano de Nova York suplica à Justiça brasileira que condene o assassino da garota à pena de morte — punição inexistente na legislação brasileira. De Londres, uma internauta lembra que o Brasil já chorou por uma tragédia parecida, a de Jean Charles Menezes, morto pela polícia britânica. Na versão impressa do Times de ontem, o irmão de Cara, Michael Burke, 30 anos, nega que a garota fosse namorada do suspeito do crime. “Eles não eram um casal”, disse.
Michael explicou à reportagem do jornal que a irmã voltaria para casa duas semanas atrás, mas que um acidente envolvendo uma motocicleta, no caminho do aeroporto, fez Cara adiar a viagem. Os brasileiros se mostraram compadecidos, ao comentar as matérias nos sites estrangeiros, com a família Burke. Identificando-se como Willame, de Goiânia, uma internauta diz que as pessoas de sua cidade sentem muito e querem justiça.
Em seu recado, Geoffrey Mintz, de Nova York, nos Estados Unidos, diz aguardar punição exemplar. “Vamos esperar que a justiça criminal brasileira dê a ele a pena de morte”, afirma. Mais adiante, Rafael Souza, teclando de Vitória (ES), faz alguns esclarecimentos ao americano. “Geofrey, a pena de morte não é uma opção no Brasil. De acordo com as nossas leis, este assassino ficará no máximo 30 anos preso e poderá sair após cinco, se apresentar bom comportamento”, explicou Rafael no recado — na verdade, a lei atual prevê que a progressão para o regime semi-aberto só pode ocorrer depois de transcorrerem dois quintos da pena (no caso, 12 anos). Beth, internauta falando da Itália, lembra ainda do caso de dois inocentes estudantes franceses mortos em Londres há algumas semanas. Laura, de Londres, menciona o caso do brasileiro Jean Charles Menezes, assassinado também na capital inglesa.
Repercussão
Os principais jornais britânicos estamparam o caso de Cara Marie Burke na capa. O The Daily Telegraph informou que a tatuagem que levou ao reconhecimento da garota portava a inscrição Mum (mamãe, em inglês). O diário The Independent destacou que Cara já havia visitado o Brasil duas vezes — ela gostava do país e de futebol, tendo inclusive participado da equipe feminina do Chelsea, um dos principais times de futebol londrinos. O The Guardian reproduziu a frase de Jorge Moreira, delegado que conduz as investigações, sobre o suspeito do assassinato: “Ele é um verdadeiro sociopata. A maneira como matou Cara e desmembrou seu corpo revela uma terrível crueldade”.
O bom coração dos brasileiros ensina outros povos supostamente "mais adiantados" que o que vale é a vida e não a aparência ou nacionalidade do portador, especialmente pessoa de boa índole como era Jean Charles de Menezes.
Crime da jovem inglesa ― ato bárbaro embalado pelo uso de drogas pesadas
Crack, funk e frieza
Renato Alves
Barbárie em Goiás
Mohamed D’Ali, 20 anos, diz ter assassinado a britânica Cara Marie Burke, 17, depois de usar drogas por quatro dias. Defesa prepara alegação de insanidade. Ao ser preso, jovem tentou subornar PMs
Goiânia — Em seu primeiro depoimento formal, o goiano Mohamed D`Ali Carvalho dos Santos, 20 anos, confessou ter matado e esquartejado a britânica Cara Marie Burke, 17, no fim de semana passado. Durante três horas de interrogatório em uma sala da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios, em Goiânia, ele deu sua versão do crime, com detalhes. Alegou ter passado quatro dias fumando crack e cheirando cocaína e, na noite de sábado, sob o efeito das drogas, decidiu esfaquear a adolescente no momento em que ela pegou o telefone e ameaçou ligar para a polícia.
Mohamed depôs na presença de um delegado, um escrivão e dois advogados, das 16h45 às 19h55. Os defensores foram contratados ontem pela mãe do acusado. Ivanir Carvalho mora em Londres, onde trabalha como enfermeira e cuida de idosos. Os advogados usarão o vício em favor de Mohamed. Eles pedirão exames toxicológicos e de sanidade no cliente. “Se mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade”, adiantou o criminalista Carlos Augusto Trajano de Sousa, um dos advogados.
O acusado também negou o envolvimento de outra pessoa no crime. Contou que esfaqueou Cara na sala do apartamento onde ele morava em Goiânia. Em seguida, arrastou o corpo até o box do banheiro e saiu. Passou a noite em um show de funk. No dia seguinte, com a mesma arma do assassinato, cortou os membros da vítima, no banheiro. Fotografou o corpo em pedaços com o telefone celular. “Ele disse ter feito isso porque mandaria as imagens para um amigo goiano que mora em Londres e também queria matar Cara”, contou o delegado Ailton Costa de Ligório, que tomou o depoimento. Segundo ele, Mohamed não revelou a identidade do tal amigo. A polícia também mostrou uma gravação que mostra o jovem tentando subornar dois PMs, com a promessa de pagamento de R$ 70 mil, para que o soltassem.
Para transportar o corpo da inglesa em quatro sacolas e uma mala, Mohamed disse ter chamado um amigo, dono de um Monza vermelho. O jovem, que a polícia diz ser conhecido como Jorginho, foi ao encontro do amigo. Mas, segundo Mohamed, ele só soube o que havia nos embrulhos quando ambos estavam na BR-153, na saída para São Paulo. O amigo do acusado, segundo Mohamed, se negou a participar da desova, mas emprestou o carro. A mala com o tronco, achada segunda-feira, foi deixada na margem do Rio Meia Ponte. O restante, a cerca de 15km, perto de um ribeirão.
Membros desaparecidos
Na manhã de ontem, Mohamed foi levado a uma ponte a 3km de Bonfinópolis, município distante 25km do centro da capital goiana. Ele permaneceu no local das 10h30 às 10h45. Nesse período, desceu à margem do Ribeirão Sozinho — afluente do Meia Ponte —, conversou, riu e fez alguns gestos apontando para o matagal ao redor da água. Garantiu aos policiais que havia jogado ali, de cima da ponte, quatro sacos plásticos pretos de lixo com a cabeça, pernas e braços de Cara.
Logo após Mohamed sair escoltado no caminho de volta à Delegacia de Homicídios, os bombeiros chegaram para iniciar as buscas. Passaram o dia mergulhando e procurando sacolas de lixo pretas nas margens. Encerraram as buscas às 16h45, sem nada encontrar.
A Polícia Civil de Goiás tem peritos, mas não os equipamentos para análise das amostras de sangue recolhidas no apartamento de Mohamed. Por isso, todo o material será enviado segunda-feira para o Instituto de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília. Batista também vai enviar um relatório à PF para que os agentes federais investiguem a vida de Mohamed na Inglaterra e as duas viagens seguidas de Cara ao Brasil nos últimos quatro meses.
"Se (os exames) mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade"
Carlos Augusto Trajano de Souza, advogado de defesa de Mohamed.
Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados
Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados A imagem peregrina da padroeira dos par...
-
Segundo texto publicado pela Cooperativa dos Garimpeiros invadida por adversários da atual diretoria no último domingo, 17. No mês de Abril ...
-
Val-André Mutran (Brasília) – A privatização da Vale do Rio Doce deixou um rastro de suspeição e até hoje é discutida na justiça. O que quas...