A situação do entorno da Rodovária de Brasília é calamitosa
Drogas, o combustível do abuso
Erika klingl (texto) e Iano Andrade (fotos)
Em terceira reportagem, o Correio revela hoje que é direta a relação entre a exploração sexual de crianças e o uso de entorpecentes. Há meninas que utilizam crack e ecstasy para agüentar os programas em que ganham R$ 3. Outras, já viciadas, fazem sexo para financiar a compra de alucinógenos
O consumo de drogas é tão banalizado que ocorre durante o dia e ao lado dos passageiros
Meninos se juntam nos arredores do terminal para “matar a fome” e espantar o frio cheirando solvente e bebendo cachaça
Rafaela, de 15 anos, está constantemente drogada. Fuma crack antes de ir para o viaduto localizado ao lado do Conic. Lá, é abordada por homens interessados em sexo. O pouco dinheiro que recebe é todo usado no sustento do vício e acaba nas mãos de traficantes que fazem ponto na própria rodoviária. É o mesmo dinheiro que alimenta o vício de meninos e meninas de rua no centro da capital do país. O consumo de drogas ocorre à luz do dia. Na última segunda-feira, quando a reportagem do Correio esteve na rodoviária, adolescentes estavam reunidos do lado norte da plataforma inferior para cheirar cola. O relógio marcava 17h.
Como boa parte dos meninos de rua, assim que recebe os trocados da madrugada, Rafaela compra mais droga. Por isso, está sempre com fome e com a mesma muda de roupa. “Só vou para a pista noiada. Se não for assim, não dá para transar com ninguém”, resume a adolescente. Estar noiada é o mesmo que transtornada pelo uso da droga. Essa alucinação voluntária é fundamental para que a adolescente agüente a tortura que é a exploração sexual. “Tem menina que diz que gosta do programa às vezes. Eu nunca gostei.”
Nas duas vezes em que falou com a reportagem do Correio, uma delas no fim da manhã de segunda-feira, ela havia consumido crack. Em vários momentos, as palavras se perdiam no meio do relato, indicando falta de concentração. Mas o que mais chamava a atenção eram as marcas do uso do crack na menina. O rosto frágil estava cheio de queimaduras, principalmente ao redor dos lábios já inchados devido à quantidade de machucados provocados pelo cachimbo feito de latinha de refrigerante.
O crack é apenas uma das drogas usadas por Rafaela, que veio de Tocantins há menos de um ano e desde então mora na rodoviária e é vítima de exploração sexual. Assim como os parceiros de rua, ela consome o que aparecer. Mas faz questão de ressaltar que existem preferências. Se um abusador oferece ecstasy ou cocaína durante o programa, ela e boa parte das adolescentes nem cobram pelo sexo. “Eles dão ecstasy para a gente porque aí eles conseguem qualquer coisa e a gente nem se lembra”, resume Rafaela.
Solvente e álcool
No caso dos meninos, além do crack, o que mais faz a cabeça são o solvente e o álcool. Iuri, também de 15 anos, entra nos carros dos exploradores que oferecem cachaça. O menino bebe todos os dias e está quase sempre alcoolizado e “noiado” pelo crack. “Gosto de usar essas coisas porque não sinto frio e nem medo”, comenta. Iuri é de Santo Antônio do Descoberto (GO) e está ameaçado de morte pelos traficantes que fazem ponto no Setor Bancário Sul. O menino, que vive à margem das leis de proteção da infância, sabe que a regra das ruas é cumprida ao pé da letra. “Recebo 10 pedras dos caras. São nove para vender e uma para mim”, conta. O problema é que, em um dia sem movimento, o menino não resistiu e acabou usando a cota do traficante. “Saio com os homens para arranjar dinheiro. Ou eu pago ou eu apanho até... sei lá.”
A relação das drogas com a rua é cruel. “Já fui para a pista obrigada por traficantes que escolheram até o carro em que eu devia entrar”, diz Tatiana, de 16 anos. Nesse dia, o explorador percebeu que a garota entrou obrigada e pagou ainda menos. Em vez dos R$ 15, ela recebeu R$ 5. A adolescente tem medo de uma traficante que já foi como ela. O medo impediu, inclusive, que ela falasse o nome da mulher que, antes de vender drogas, foi abusada e explorada sexualmente. “Melhor ficar quieta porque já rolou sujeira demais.”
Tatiana é explorada sexualmente na rodoviária desde abril. Antes morava com a mãe e o padrasto em Águas Lindas (GO). Nunca tinha usado drogas e freqüentava a escola todos os dias. Depois de sofrer com a violência doméstica, fugiu e não voltou. “Minha mãe já desistiu de mim porque gosta mais do marido dela”, conta. A violência sexual na família ou nas proximidades de casa é um dos motivos para que as meninas e meninos fujam rumo à rodoviária em busca de uma falsa liberdade. Há dois dias, o Correio denuncia histórias como a de Tatiana, Iuri e Rafaela. São meninos e meninas que sofrem na mão de pedófilos no coração de Brasília por R$ 3 ou R$ 10.
Na primeira reportagem, o jornal contou a violência praticada contra crianças com menos de 10 anos. As meninas vendem balas e chicletes e acabam fazendo sexo oral em homens que trabalham no local ou usam a rodoviária diariamente. Na segunda matéria, o Correio contou o sofrimento de meninos com idades entre 14 e 17 anos que sofrem com o abuso e a exploração sexual em troca de comida, roupas ou poucos reais.
*O nome de todos os personagens foi trocado em respeito à proteção dos direitos das crianças e adolescentes
“Só vou para a pista noiada. Se for diferente, não dá para transar com ninguém
Eles dão ecstasy para a gente porque aí eles conseguem qualquer coisa e a gente nem lembra
Gosto de usar essas coisas (drogas) porque não sinto frio e nem medo
Saio com os homens para arranjar o dinheiro dos traficantes. Ou eu pago ou eu apanho muito
Melhor eu ficar quieta porque já rolou sujeira demais”
Fonte: Correio Braziliense.
Crime da jovem inglesa ― ato bárbaro embalado pelo uso de drogas pesadas
Crack, funk e frieza
Renato Alves
Barbárie em Goiás
Mohamed D’Ali, 20 anos, diz ter assassinado a britânica Cara Marie Burke, 17, depois de usar drogas por quatro dias. Defesa prepara alegação de insanidade. Ao ser preso, jovem tentou subornar PMs
Goiânia — Em seu primeiro depoimento formal, o goiano Mohamed D`Ali Carvalho dos Santos, 20 anos, confessou ter matado e esquartejado a britânica Cara Marie Burke, 17, no fim de semana passado. Durante três horas de interrogatório em uma sala da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios, em Goiânia, ele deu sua versão do crime, com detalhes. Alegou ter passado quatro dias fumando crack e cheirando cocaína e, na noite de sábado, sob o efeito das drogas, decidiu esfaquear a adolescente no momento em que ela pegou o telefone e ameaçou ligar para a polícia.
Mohamed depôs na presença de um delegado, um escrivão e dois advogados, das 16h45 às 19h55. Os defensores foram contratados ontem pela mãe do acusado. Ivanir Carvalho mora em Londres, onde trabalha como enfermeira e cuida de idosos. Os advogados usarão o vício em favor de Mohamed. Eles pedirão exames toxicológicos e de sanidade no cliente. “Se mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade”, adiantou o criminalista Carlos Augusto Trajano de Sousa, um dos advogados.
O acusado também negou o envolvimento de outra pessoa no crime. Contou que esfaqueou Cara na sala do apartamento onde ele morava em Goiânia. Em seguida, arrastou o corpo até o box do banheiro e saiu. Passou a noite em um show de funk. No dia seguinte, com a mesma arma do assassinato, cortou os membros da vítima, no banheiro. Fotografou o corpo em pedaços com o telefone celular. “Ele disse ter feito isso porque mandaria as imagens para um amigo goiano que mora em Londres e também queria matar Cara”, contou o delegado Ailton Costa de Ligório, que tomou o depoimento. Segundo ele, Mohamed não revelou a identidade do tal amigo. A polícia também mostrou uma gravação que mostra o jovem tentando subornar dois PMs, com a promessa de pagamento de R$ 70 mil, para que o soltassem.
Para transportar o corpo da inglesa em quatro sacolas e uma mala, Mohamed disse ter chamado um amigo, dono de um Monza vermelho. O jovem, que a polícia diz ser conhecido como Jorginho, foi ao encontro do amigo. Mas, segundo Mohamed, ele só soube o que havia nos embrulhos quando ambos estavam na BR-153, na saída para São Paulo. O amigo do acusado, segundo Mohamed, se negou a participar da desova, mas emprestou o carro. A mala com o tronco, achada segunda-feira, foi deixada na margem do Rio Meia Ponte. O restante, a cerca de 15km, perto de um ribeirão.
Membros desaparecidos
Na manhã de ontem, Mohamed foi levado a uma ponte a 3km de Bonfinópolis, município distante 25km do centro da capital goiana. Ele permaneceu no local das 10h30 às 10h45. Nesse período, desceu à margem do Ribeirão Sozinho — afluente do Meia Ponte —, conversou, riu e fez alguns gestos apontando para o matagal ao redor da água. Garantiu aos policiais que havia jogado ali, de cima da ponte, quatro sacos plásticos pretos de lixo com a cabeça, pernas e braços de Cara.
Logo após Mohamed sair escoltado no caminho de volta à Delegacia de Homicídios, os bombeiros chegaram para iniciar as buscas. Passaram o dia mergulhando e procurando sacolas de lixo pretas nas margens. Encerraram as buscas às 16h45, sem nada encontrar.
A Polícia Civil de Goiás tem peritos, mas não os equipamentos para análise das amostras de sangue recolhidas no apartamento de Mohamed. Por isso, todo o material será enviado segunda-feira para o Instituto de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília. Batista também vai enviar um relatório à PF para que os agentes federais investiguem a vida de Mohamed na Inglaterra e as duas viagens seguidas de Cara ao Brasil nos últimos quatro meses.
"Se (os exames) mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade"
Carlos Augusto Trajano de Souza, advogado de defesa de Mohamed.
Descoberto plantio de coca na Amazônia
O que era uma suspeita foi confirmado em operação do Exército e da Polícia Civil do Amazonas que descobriram a primeira plantação de coca no Brasil. Ela fica em Tabatinga, na fronteira do país com a Colômbia e o Peru.
Pra fazer a cabeça tem hora
Loja de roupas em De Wallen, o antigo bairro da prostituição em Amsterdã.
Abaixo, prostitutas na vitrine de um bordel remanescente
Herman Wouters/The New York Times
"Se segura malandro. Pra fazer a cabeça tem hora", trecho do samba do magistral Bezerra da Silva, pode ser ampliada para: Se segura malandro. Na Holanda tá sujo!
No blog do professor Yúdice Randol, que leciona Direito numa Faculdade em Belém do Pará. O tema da liberalidade dos holandeses está dando o que falar.
A maioria é a favor, outros contra e este blogger também deu um pitaco no assunto.
O tema foi reportagem da Veja (para assinates). Leia e opine.
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