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Novo governador do DF é especialista em marketing

Perfil Rogério Rosso - Um político de várias alianças

Eleição indireta
Novo chefe do Executivo, que é cria política de Joaquim Roriz e teve importante papel no governo Arruda, adora rock, foi diretor de empresa, secretário de Estado, presidente da Codeplan e administrador de Ceilândia. E sempre alimentou o sonho de comandar o Buriti


Ele é especialista em Marketing. Venceu as eleições indiretas com o discurso de que seria uma alternativa política para evitar a intervenção federal, cuja tese levantada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, poderia ganhar força em caso de vitória de um deputado distrital em um momento de suspeição na Câmara Legislativa. Aos 41 anos, Rogério Rosso foi escolhido candidato do PMDB como uma das raras opções não chamuscadas no partido com a crise deflagrada no Distrito Federal por causa da Operação Caixa de Pandora. Seu nome não apareceu em qualquer gravação até agora, tampouco nos depoimentos de Durval Barbosa, o delator do suposto esquema de corrupção no GDF.

Rosso virou candidato nas eleições indiretas como resposta a Joaquim Roriz, que pediu votos para Wilson Lima (PR) e incomodou quem deseja fazer oposição ao ex-governador na campanha de outubro. O novo governador-tampão pertence a um grupo que já foi aliado de Roriz, mas se afastou e hoje é visto pela base rorizista como um adversário a combater, situação que tem como principal expoente o presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli, seu aliado e idealizador de sua candidatura. Rosso surgiu por acaso na política, justamente pelas mãos do ex-governador do Distrito Federal, com quem hoje mantém relação distante. Roriz viu nele um político promissor.

A aproximação aconteceu em 2002 porque a mulher de Rosso, Karina Curi Rosso, com quem tem quatro filhos, é a melhor amiga da caçula de Roriz, Liliane. Na campanha de 2002, quando o então governador do PMDB, atolado numa crise de imagem, concorria à reeleição e precisava de munição para superar as denúncias de grilagem de terras, Rosso apareceu como um conselheiro na área de estratégia de comunicação. Até então, formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), ele era diretor de uma empresa do ramo de automóveis e nunca tinha pensado em largar a carreira corporativa para mergulhar na vida pública. Foi na campanha de Roriz, no entanto, que se inclinou pela política. Passou a trabalhar com a meta de se transformar em um futuro candidato ao Palácio do Buriti.

Nascido no Rio, veio para Brasília com um ano. De família de classe média, viveu durante a infância na Asa Sul, estudou em escola pública e privada, e começou a trabalhar cedo, aos 14 anos. Fazia bicos no comércio local, para conseguir comprar as coisas. Depois de formado, montou um escritório de advocacia, até descobrir interesse pelo setor automotivo. Trabalhou na Caterpillar, indústria americana de tratores, e depois foi para a Mercedez, antes de trabalhar na Fiat. No governo Roriz, exerceu cargos que lhe deram projeção. Foi secretário de Desenvolvimento Econômico e depois, já de olho na corrida ao eleitor, foi nomeado administrador regional da Ceilândia. Inventou o Ceilambódromo e transferiu o Carnaval para a cidade.

Casado com a filha de um dos empresários mais ricos de Brasília, Roberto Curi, dono da rede Curinga dos Pneus, Rosso alugou um pequeno apartamento em Ceilândia e divulgou que morava por lá. Karina o acompanhava em eventos públicos, visitava famílias pobres e distribuía brinquedos e comida. Na passagem pela Ceilândia, Rosso se aproximou de um morador da cidade, o ex-deputado distrital Chico Vigilante (PT), com quem fez parcerias políticas na região que abriga o maior eleitorado do DF. A vitória de Rosso ontem só foi possível justamente pelo apoio de petistas.

Projeto de poder
O projeto da família sempre foi ver Rosso governador. Em 2006, embalado pelo incentivo de Roriz, ele se candidatou a uma vaga de deputado federal. Na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o sogro é registrado como seu grande financiador. Rosso declarou ter arrecadado R$ 1,4 milhão, dos quais R$ 1,2 milhão tiveram como origem as empresas de Roberto Curi. Com 51 mil votos — 10 mil a menos que Laerte Bessa (PMDB) —, ficou como primeiro suplente. Foi uma frustração para a família, que apostou no projeto. Depois da campanha de 2006, já na fase de transição, Rosso recebeu convite de José Roberto Arruda, eleito no primeiro turno, para assumir o cargo de presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).

No governo Arruda, Rogério Rosso foi o responsável pelas políticas para as cidades do Entorno do DF e pelas parcerias público-privadas (PPPs). Foi o grande defensor do projeto de construção do complexo que abrigaria o novo centro administrativo do governo, em Taguatinga, um empreendimento que nunca teve a pedra fundamental, apesar de o contrato ter sido assinado pelo GDF com o consórcio formado pela Via Engenharia e Odebrecht. A ideia da PPP é que as empreiteiras arcassem com as obras civis e pudessem explorar por 22 anos a administração e a prestação de serviços, como vigilância, manutenção e conservação.

A expectativa de Rosso era se candidatar novamente a uma vaga de deputado federal em outubro e tentar concorrer em 2014 ao Governo do DF, projeto antecipado pelas circunstâncias provocadas pela Caixa de Pandora. No governo Roriz, seu plano mais controverso foi a construção do trem de alta velocidade que ligaria Brasília a Goiânia, um empreendimento concebido para desenvolver o Entorno do DF. A ideia foi abraçada por Roriz que, em 2005, chegou a visitar várias fábricas de trens na Europa, ao lado de Rosso, para tentar viabilizar o projeto na capital do país. Não deu certo, mas a peregrinação de Roriz pela Espanha, França e Alemanha acabou desviando na época a imagem do Executivo dos processos que Roriz respondia na Justiça Eleitoral por suposto uso da máquina — que depois acabaram sendo julgados improcedentes.

Rock pesado
No cargo de governador pelos próximos oito meses em um um momento de tamanha turbulência política, Rogério Rosso terá pouco tempo para a diversão e relaxar na chácara que mantém em Cidade Ocidental, município do Entorno onde ajudou a eleger um vereador. Também terá menos chance de se dedicar à música. Com nome artístico R. Schumann (sobrenome do meio), Rosso é baixista e tem preferência por rock pesado, influenciado por bandas como Whitesnake.

Antes de pensar em ser governador no mandato-tampão, se dedicava ao projeto de produção de um vídeo em homenagem ao aniversário de Brasília, com música heavy de sua autoria tocada por artistas da cidade. Ele também é tecladista e toca guitarra, mantém um estúdio na chácara que gosta de frequentar com os filhos. Montou a primeira banda de rock aos 16 anos. No governo, agora, Rogério Rosso terá muita pauleira pela frente para tentar tirar o Distrito Federal do inferno astral.

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Entrevista Rogério Rosso - 'Brasília é maior que a crise'

Novo governador diz querer imprimir a sua marca no governo do DF e que assumirá com o desafio de não deixar a máquina paralisar

Em oito meses de governo, Rogério Rosso pretende criar a própria marca. Até o fim da semana, o novo governador terá a própria equipe a ser formada com pessoas da sua confiança, escolhidas depois de ouvir os aliados da Câmara Legislativa. Ele não nega que vai administrar a capital do país com os eleitores que o levaram ao poder, muitos dos quais sob investigação na Operação Caixa de Pandora. Mas terá de ser um equilibrista para agradar aos deputados distritais sem alimentar a força do pedido de intervenção federal no Distrito Federal, feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para dar a sua cara à gestão, a reforma administrativa vai começar pela assessoria mais próxima. As mudanças vão longe e devem envolver todo o secretariado. Com uma ampla casa no Lago Sul, Rosso não deverá se mudar para a residência oficial de Águas Claras. Usará a estrutura para reuniões e vai montar o gabinete no anexo do Palácio do Buriti. O centro administrativo de Taguatinga (Buritinga), um dos símbolos da passagem de José Roberto Arruda pelo GDF, será desativado, segundo Rosso revelou ao Correio. Nenhum integrante do primeiro escalão que deixou o cargo em decorrência da crise retornará ao cargo. Em entrevista, Rosso admite que sempre trabalhou para ser, um dia, governador. Mas garante que não vai concorrer à reeleição.

O senhor assume o GDF num momento de turbulência. Que medidas adotar para evitar intervenção?
É um conjunto de medidas que vai desde uma auditoria no governo, divulgação dos gastos e receitas, corte de despesas. Tenho o desafio de não deixar a máquina paralisada, mantendo os serviços, as obras e os programas sociais, desde que regularmente contratados. De procurar mostrar para as instituições que o governo voltará a funcionar normalmente, como o cidadão deseja, e com austeridade.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não acredita nas eleições indiretas. O senhor vai procurá-lo?
Essas eleições foram legitimadas pelo Poder Judiciário, pelo Tribunal de Justiça do DF. Pretendo, sim, me encontrar com o procurador-geral e chefes de todas as instituições para mostrar o que vamos fazer. É importante esse diálogo, para mostrar que Brasília é maior que a crise.

O senhor tem uma formação na iniciativa privada e surgiu no mundo político no governo Roriz. Também participou da gestão Arruda. O senhor é ligado a eles?
Tenho um perfil técnico. De nenhuma forma fico constrangido em dizer que trabalhei no governo Roriz. Muito pelo contrário, a minha vida pública começou lá.

O que levou o senhor à vitória? Muita gente apostava em Wilson Lima.

Foi um conjunto de forças partidárias. Primeiro, o desejável era que houvesse mais entendimento antes dos registros das chapas. No decorrer da semana, começaram os entendimentos partidários, de parlamentares. Tinha impressão de que o resultado seria diferente. Acreditava na vitória e torcia por ela, mas em segundo turno mais combativo.

Houve um movimento do DEM de oferecer apoio ao PT para barrar a sua candidatura. A que o senhor deve isso?
Não tive essa informação. Teria dificuldade até em entender essa movimentação.

Não é uma questão política entre Alberto Fraga e Tadeu Filippelli?
Pode ser. Mas Brasília, nesse momento, sei que é difícil, precisa unir as forças para sair desse momento.

A eleição de outubro influenciou essa vitória?
O compromisso nosso, do PMDB e de outros partidos, é que o vencedor nesse momento não pode concorrer à reeleição, até para que as instituições percebam que não vai haver utilização da máquina para fins eleitorais. Da nossa parte, há uma firme convicção de que não iremos para qualquer eleição. Nem a Ivelise nem eu.

O PMDB foi muito atingido pela Caixa de Pandora. O senhor teve votos de três pessoas do seu partido que estão sob investigação. O senhor vai proteger essas pessoas?
A Justiça, durante essa semana, legitimou a participação de todos os deputados distritais. Todos eles já ofereceram as suas defesas. Essa é uma questão que, honestamente, para mim... Nós precisamos da Câmara como um todo. Fico muito tranquilo, a própria Justiça legitimou a participação de todos os deputados.

Pretende se mudar para a Residência oficial, em Águas Claras, usar o Buritinga?
Honestamente, nem parei para pensar sobre isso. Usar Águas claras? Eu tenho quatro filhos, super bagunceiros, sapecas, ia acabar com a tranquilidade do governo. Então, o seguinte: é melhor a gente ficar em casa. Usar o Buritinga? Uma coisa é o centro administrativo novo, outra coisa é Buritinga. Se não reformar já…

Vai desativá-lo?
Essa é a nossa ideia. Mas isso é uma discussão com todos do governo.

O senhor garante que não será candidato?
Garanto.

Acredita em uma aliança do PT com o PMDB em outubro?
Nacionalmente, isso está consolidado. E eu sei que essa aliança vai ser tentada nos estados. O Filippelli, como presidente do partido, está à frente dessas negociações. Vamos conversar com ele. Mas o que eu puder fazer para a gente trabalhar sem pensar muito nisso, em eleições... Esse momento, agora, é de focar no nosso trabalho.

Oito meses é pouco para tantos planos?
Muito pouco. Oito meses é priorizar. E vamos priorizar em investimento e infraestrutura em baixa renda. E vamos priorizar saúde, educação e segurança.

O senhor vai mudar equipe, botar sua cara no governo?
Vou. Acho que tem que ser colocada. Não a minha cara, eu diria, vou colocar várias caras.

Vai fazer o governo Rogério Rosso?
Vamos fazer o governo Rogério, Ivelise, o governo do servidor público, tentar maximizar a utilização do servidor público em cargos de chefia.

O senhor vai consultar a Câmara para formar esse governo?
Precisamos até de autorização da Câmara para algumas mudanças.

Quem não votou no senhor terá algum tipo de represália?
No que depender da gente, esse é um governo sem ódio, sem revanchismo, sem perseguição. Tem que ser um governo de paz. Brasília precisa de paz, não de ódio agora.

Protesto termina em confronto. Sete ficam feridos

Deco Bancillon
Yale Gontijo

O clima na frente da Câmara Legislativa do Distrito Federal começou tranquilo na tarde de ontem durante a votação dos deputados distritais. Impedidos de entrar, manifestantes do movimento Fora Arruda empunhavam cartazes e gritavam palavras de ordem que pediam a eleição direta. Por volta das 16h, um grupo de 40 pessoas que fazia o protesto tentou invadir a Casa e foi violentamente reprimido por cerca de 250 policiais militares, que usaram cassetetes. Ao fim do confronto, quatro estudantes, um segurança da Câmara e dois policiais ficaram feridos, mas sem gravidade. Três manifestantes foram encaminhados para a 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). Eles foram liberados ontem à noite.

Os policiais estavam sob o comando do coronel Silva Filho, o mesmo que coordenou a operação no Eixo Monumental contra a corrupção no DF, no começo de dezembro, que acabou com manifestantes feridos. O estudante de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Gabriel Soares, 25 anos, foi atingido na cabeça e na perna. Ele teve de ser levado para o Hospital Santa Helena, na Asa Norte, onde foi atendido e liberado em seguida. “Foi muito confuso, me jogaram no chão e fui chutado”, descreveu.

Mais três estudantes feridos foram levados para o Hospital de Base. Segundo o comando do movimento, eles passam bem. Após o confronto, os policiais apresentaram dois estilingues e pacotes de bolas de gude como prova da agressão que teriam sofrido por parte dos manifestantes. “Eu não estava com estilingue. Não vi ninguém com estilingue. Mas tinha muita gente aqui. Não dá para saber”, afirmou o estudante de antropologia. Segundo oficiais da PM, os policiais que se feriram foram socorridos e passam bem. Ao final da votação, por volta das 19h30, manifestantes cercaram a saída de carros da Câmara. Novamente, o clima voltou a ficar tenso. Um policial chegou a sacar uma arma, mas não disparou. “O trabalho foi executado pela Polícia Militar para a preservação da segurança, do patrimônio e da ordem pública”, ressaltou Silva Filho.

Os manifestantes fizeram vigília da noite de sexta para sábado em frente à Câmara. Durante a votação, eles gritavam palavras de ordem contra o pleito. Bonecos de candidatos falsos — Toni Panettone e Bezerra de Ouro —também participavam do movimento. Com irreverência, o protesto teve até a repartição de uma pizza de verdade. Além dos estudantes, houve a participação de membros do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) e cerca de 30 deficientes visuais, que protestavam contra o fechamento da sede da associação que os representa — a ABDV. O contingente destacado para fazer a segurança na Câmara foi de 700 PMs, segundo o coronel Silva Filho.

Fonte: Correio Braziliense.

A política acéfala do Distrito Federal

Galeria relâmpago

Seis governadores em três meses. Esse é o cenário próximo caso não ocorra a intervenção federal. Efeito dominó:
» Arruda — foi preso e se afastou do cargo;
» Paulo Octávio — assumiu e renunciou;
» Wilson Lima — é o novo governador em exercício, mas, se for concorrer às eleições, tem de sair em abril;
» Cabo Patrício — Diz que nem assume e passa logo para o presidente do Tribunal de Justiça do DF;
» Nivio Gonçalves — O desembargador assumiria em abril, mas já teria de repassar o cargo a outro colega;
» Otávio Augusto Barbosa — Em 22 de abril, toma posse como novo presidente do TJDFT e herdaria a cadeira de governador.


Capital do “se”

Brasília virou a capital do “se Arruda renunciar”, “se o STF soltar, prender”, “se tiver intervenção”, “se Wilson Lima cair”, “se Lula tiver que escolher o interventor”. É tanto “se” que as especulações confundem mais que esclarecem.

As notas são do jornal Correio Braziliense de hoje.

Chave de cadeia

Não é verdade que Joaquim Roriz seja responsabilizado por parte do Mensalão do DF.

Chave de cadeia é pouco para definir a sua "turma".

Paulo Octávio nas mãos do STF

Agora a bola da vez é Paulo Octávio

Nada indica que o vice-governador tenha tranquilidade para governar o Distrito Federal. Ele assume sob a bateria da oposição, com a base em frangalhos e sob ameaça de intervenção federal

Terracap

Um desce, o outro sobe. Mas o fato é que tudo indica que Paulo Octávio também não terá tranquilidade à frente do GDF

Mário Coelho

A prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), determinada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) na tarde de ontem (11), não deve diminuir o clima tenso do cenário político da capital do país. Ao assumir o cargo com a licença de Arruda, o alvo agora deverá passar a ser o vice-governador Paulo Octávio. O empresário do DEM assume o cargo com a base em frangalhos, com a oposição disparando contra, com entidades da sociedade civil prontas para o ataque e na perspectiva que o Supremo Tribunal Federal venha a aceitar o pedido da Procuradoria Geral da República de intervenção federal na capital do país.

O primeiro golpe que Paulo Octávio deve sofrer virá da seção do DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF). O presidente da entidade, Francisco Caputo, já mandou avisar que vai formular um novo pedido de impeachment contra o vice-governador. Ao assumir o cargo na vacância de poder, ele, de acordo com entendimento de juristas, é passível de processo por crime de responsabilidade. O vice-governador é citado nos depoimentos do ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa como um dos beneficiários do esquema.

A acusação é reforçada pelo fato de Marcelo Carvalho, diretor da empresa da Paulo Octávio, empresa imobiliária de propriedade do vice-governador, aparecer em um dos vídeos gravados por Durval abrindo uma pasta e conversando sobre empresas prestadoras de serviço no governo. De acordo com o inquérito da Caixa de Pandora, Carvalho era um dos responsáveis pelo pagamento das propinas que irrigavam o esquema do mensalão de Arruda. Carvalho, segundo o depoimento de Durval, foi um dos financiadores da propina paga aos deputados distritais para aprovarem o PDOT, o Plano Diretor de obras do Distrito Federal.

De acordo com nota distribuída à imprensa, a OAB/DF considera que a decisão pelo impedimento deve ser aplicada ao governador e seu vice. “Nada justifica a posse do vice Paulo Octávio. É público e notório que ele está envolvido no escândalo e não tem condições jurídicas e políticas para suceder o governador em caso de afastamento determinado pela justiça”, afirmou Caputo.

Paralela à carga da OAB, a oposição prepara-se para atacar Paulo Octávio na Câmara Legislativa. O vice-governador terá uma reunião na manhã de hoje (12) com todos os deputados distritais na Câmara Legislativa. A bancada do PT já avisou que vai defender a renúncia de todos os envolvidos na Operação Caixa de Pandora. A lista começa justamente com Paulo Octávio e se completa com os distritais que respondem na Câmara Legislativa a processos por quebra de decoro parlamentar.

Fogo amigo

Se escapar das pressões da sociedade civil e da oposição, Paulo Octávio terá, então, que administrar o fogo amigo vindo de seu próprio partido, o DEM. Caciques nacionais do partido jogam pesado no sentido de tentarem se desvencilhar da ideia de que têm relação com o escândalo dos panetones de Brasília. No centro do fogo amigo estão o deputado Ronaldo Caiado e o senador Demóstenes Torres, ambos de Goiás. Os dois defendem uma intervenção no diretório regional, e querem o partido totalmente afastado do governo do DF. Já pressionada, a cúpula nacional divulgou na noite de ontem (11) uma determinação dúbia. Resolveu que todos os filiados ao Democrata saiam do governo Arruda, mas livrou dessa condição Paulo Octávio. O que levou os secretários ligados ao DEM a uma interpretação marota: se não há mais – pelo menos no momento – um governo Arruda, então está todo mundo autorizado a continuar.

Essa dubiedade irrita Demóstenes. Ele critica duramente o presidente do DEM, Rodrigo Maia, a quem classifica como “frouxo” na administração da situação. Para Demóstenes, essa atitude faz com que o partido sangre junto com Arruda. Já Caiado promete entregar, na próxima reunião da Executiva nacional, o pedido de intervenção nacional no DEM-DF. No seu perfil no microblog Twitter, o deputado de Goiás afirmou que a “Justiça está de parabéns por promover uma assepsia na política brasileira ao punir quem compra voto e usa o poder público para enriquecer”. E ainda tratou da vacância no cargo de governador. “Não apoio Paulo Octávio para assumir o governo do DF. Não me cobrem solidariedade com corrupção”, disparou.

Intervenção

É esse conjunto de coisas que leva o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a considerar que já não há mais condições para a manutenção da ordem política natural em Brasília. Por essa razão, ele ingressou no STF com um pedido de intervenção federal. Toda a linha de sucessão do DF, entende Gurgel, está comprometida com o esquema de Arruda. Paulo Octávio é diretamente acusado. Ainda que os indícios contra ele não sejam tão fortes (não há um vídeo em que ele pessoalmente aparece, como acontecia com Arruda; mesmo no vídeo em que aparece Marcelo Carvalho não há claramente entrega de dinheiro; ele não se envolveu nos episódios posteriores que configuram obstrução de Justiça, como a tentativa de suborno do jornalista Edmilson Edson Santos, o Sombra), Paulo Octávio também está sendo investigado pela Operação Caixa de Pandora. E pode, com o poder de governador, interferir na investigação como Arruda vinha fazendo. Abaixo de Paulo Octávio na linha de sucessão, está um aliado fiel de Arruda, o presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima, é aliado fiel de Arruda.

Da mesma forma, cresce um entendimento de que a Câmara Legislativa, pelo número de deputados envolvidos com o esquema, também já não reúne condições para ser um tribunal isento de investigação e julgamento do caso, seja na CPI criada para investigar o mensalão seja no processo de impeachment. Essa tese é defendida principalmente pelo deputado Chico Leite (PT), que defende que a condução se dê unicamente na Justiça, com o STJ à frente.
Leia também:

Os detalhes de como se deu a prisão de Arruda

Tudo sobre a Operação Caixa de Pandora e o mensalão do Arruda

Fonte: Congresso em Foco.

DEMsalão: Um escândalo com nome e sobrenome


Terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DEM está dividido

LILIAN TAHAN - DANIELA LIMA - ANA MARIA CAMPOS

CAIXA DE PANDORA
Cúpula do partido adia para hoje a definição sobre Arruda porque existe um racha entre a expulsão imediata e a abertura de processo
Caciques do DEM chegam para reunião na Residência Oficial de Águas Claras com o governador Arruda: encontro durou duas horas
Maia, com o senador Heráclito Fortes: indefinição no partido
Rachado entre a ala que defende a imediata expulsão de José Roberto Arruda (DEM) do partido e um grupo reticente sobre a medida drástica, o Democratas optou formalmente por dar um tempo ao governador do Distrito Federal. Ele é apontado pela Polícia Federal como parte de um suposto esquema de corrupção envolvendo o Executivo, o Legislativo e um braço do Tribunal de Contas do DF (TCDF). Em reunião com a cúpula da legenda na tarde de ontem, Arruda cobrou apoio. Acuados com a ofensiva, os caciques do DEM resolveram adiar o desfecho sobre o futuro político do governador.
A conversa entre Arruda e os seus companheiros de partido foi classificada como “franca”. Durante duas horas, o governador recebeu os caciques do DEM acompanhado por três advogados na Residência Oficial de Águas Claras. O vice Paulo Octávio, também citado no inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ), participou da reunião. Arruda apresentou argumentos jurídicos para as denúncias divulgadas até agora. Mesmo assim, foi criticado por colegas do DEM. Endureceu o discurso. Disse que precisava do suporte do partido para se defender e provar sua inocência. Deixou a entender que, se for abandonado, não poupará a legenda de eventuais desgastes.
O encontro que começou com o DEM encurralando Arruda entre a possibilidade de afastamento ou a desfiliação terminou com um recuo. O partido decidiu submeter hoje o assunto aos 20 integrantes da Executiva Nacional da legenda, por meio de votação dos dirigentes. Parte do Democratas, personificada especialmente nas figuras do líder da sigla no Senado, Agripino Maia (RN), do líder na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), e do senador Demóstenes Torres (GO), defende a expulsão sumária do governador. Outros integrantes do DEM, representados publicamente pelo presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), acreditam que a abertura de um processo interno poderia apaziguar a situação.
Discurso moderado
“Cada um expressou a sua opinião. Eu disse a ele a minha. Sou favorável à expulsão da legenda, e vou votar assim na executiva”, afirmou Demóstenes. Em contraponto às palavras do senador, Rodrigo Maia fez um discurso moderado. “Ouvi as explicações de Arruda e vamos conduzir um processo que represente a vontade da maioria”, disse.
A crise no GDF agrava o racha público que aflige o Democratas desde outubro, quando integrantes do partido passaram a discordar dos rumos que a chapa encabeçada por PSDB e DEM deverá tomar nas eleições de 2010. E o panorama eleitoral tem um peso grande nas negociações que se desenrolarão até a decisão da executiva da legenda. O mensalão petista era a principal bandeira do Democratas contra a candidata do presidente Lula ao Palácio do Planalto, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. “O nosso partido tem a oportunidade de tomar uma decisão diferente da que foi tomada pelo PT em 2005”, argumentou Agripino Maia.
Inquérito
O inquérito do STJ serviu de subsídio para a operação Caixa de Pandora. Na última sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão em 16 endereços, entre residências e escritórios políticos de autoridades do governo
e da Câmara Legislativa.


Arruda se defende

Em um pronunciamento de 10 minutos dividido em nove itens, o governador Arruda contestou as acusações
Três dias depois de a Polícia Federal ter deflagrado a Operação Caixa de Pandora, que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo o primeiro escalão do GDF e deputados distritais, o governador José Roberto Arruda (DEM) se defendeu das acusações. Leu um comunicado dividido em nove itens, entre os quais acusa o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa de ter arquitetado um plano para desestabilizar o governo, alega que as doações em dinheiro mostradas em vídeos foram registradas e contabilizadas e levanta a dúvida para a veracidade dos dados divulgados por Barbosa.
Acompanhado de dois advogados, Flávio Cury (do partido) e José Eduardo Alckmin, o governador se ateve à nota preparada com a ajuda de sua equipe jurídica. Em seu discurso, ele afirma que seu denunciante teve interesses contrariados. Segundo Arruda, o governo resistiu em manter Durval à frente da empresa de Informática do GDF já que ele respondia a processos na Justiça. E que ele foi mantido em outro setor, “meramente burocrático, já que não havia ainda nenhuma condenação”.
Arruda afirma que, em comparação ao governo anterior de Joaquim Roriz, a atual administração reduziu em 50% os custos de informática, o que teria segundo a tese oficial provocado o desgaste com Durval Barbosa. “Isto contrariou muitos interesses políticos e empresariais que, agora fica claro, são ligados ao denunciante”. De acordo com o governo, até 2006 os gastos com esse setor somavam R$ 600 milhões e agora foram reduzidos a R$ 300 milhões.
Supostos defeitos
Em um dos trechos de sua fala, o governador diz que a avaliação preliminar de seus advogados “alerta que os supostos defeitos ou aquecimentos e resfriamento do aparelho de gravação, conforme consta dos autos, acabaram por truncar e comprometer o teor e o sentido da conversa, inclusive com a desconfiguração dos dados armazenados”. Arruda ainda relata que dias antes do encontro de 21 de outubro deste ano — gravado por Durval Barbosa —, o então secretário de Relações Institucionais propunha a realização de pesquisas, conversas para acordos políticos e doações para campanha de empresários amigos deles. “Deixamos claro que não aceitaríamos essas doações, pois só cuidaríamos de campanha no próximo ano, e sugerimos apoio às campanhas de deputados da base de apoio ao governo, na forma da lei”.
Arruda afirmou que permanecerá no cargo, que segundo disse, agora está “livre dessa herança maldita do governo anterior”. O pronunciamento de Arruda durou 10 minutos. Ele chegou ao salão verde da Residência Oficial de Águas Claras amparado por um andador, que tem usado em função de uma cirurgia que fez no pé direito há três semanas. Arruda evitou responder às perguntas de jornalistas, mas atendeu a uma sobre sua situação no DEM. “Eu fico”, afirmou. (LT)
Durval Barbosa
Fez um acordo com a Justiça e a Polícia Federal de delação premiada. Em troca de redução de eventuais punições nos 37 processos a que responde, decidiu denunciar o suposto esquema de pagamento de propina que atinge o núcleo do governo e deputados distritais.


Vice é citado em esquema

Ana maria campos - Lilian tahan

CAIXA DE PANDORA
Em conversa gravada, Durval e proprietário de empresa de informática falam sobre suposta proprina a Paulo Octávio e dois secretários do GDF

Paulo Octávio chega à Residência Oficial de helicóptero: vice-governador nega irregularidades

O vice-governador Paulo Octávio (DEM) é apontado em um novo vídeo gravado por Durval Barbosa como beneficiário de um esquema de desvios de recursos de contrato na área de informática. Na gravação, incluída no inquérito da Operação Caixa de Pandora, um dos donos da Linknet, Gilberto Lucena, reclama das supostas propinas exigidas por integrantes do Governo do Distrito Federal para a liberação de pagamentos por serviços prestados. Em um dos trechos do diálogo, o empresário afirma que Paulo Octávio receberá a sua parte no suposto esquema de corrupção (leia, acima, os diálogos).
O empresário conta que fez pagamentos para o secretário de Planejamento, Ricardo Penna, e repassaria suposto suborno também para o corregedor e secretário da Ordem Pública, Roberto Giffoni. De acordo com o diálogo, Penna teria recebido “R$ 300 mil” adiantados, ou seja, antes de autorizar um pagamento esperado pelo empresário. Giffoni seria beneficiário de 1% do contrato de informática de R$ 37 milhões, ou seja, R$ 370 mil. Durval e Lucena conversam sobre um suposto procedimento adotado no atual governo de manter o vínculo com a empresa sem contrato formal. O GDF, então, faria publicamente um reconhecimento de dívida para ser obrigado a liberar os recursos exigidos pela Linknet, sem passar por concorrência ou contrato emergencial.
Em depoimento prestado em 2 de outubro, Durval denunciou o suposto esquema ao delegado Alfredo José de Junqueira, da Polícia Federal (PF). Ele declarou que a Linknet “trabalha há aproximadamente três anos sem contrato”. O serviço é prestado e o governo, então, se vê sistematicamente forçado a indenizar a empresa. No depoimento, Durval afirma que essa é a “forma mais esculhambada de burlar a Lei de Licitações”. Em troca da liberação do pagamento, ele exigiria de volta uma parte dos recursos públicos. Lucena reclama de ter de pagar mais do que 4% ou 5% do montante liberado. De acordo com o depoimento, o GDF pagaria R$ 37 milhões à Linknet.
A empresa de informática já esteve envolvida em outros escândalos. Em 2002, a Linknet foi incluída em ação proposta pelo Ministério Público Federal contra Durval e o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) como responsável pela compra de urnas eletrônicas falsas para orientar o eleitor na campanha. O dinheiro para a aquisição do equipamento teria origem em desvios de contratos com a Codeplan, quando Durval foi presidente da empresa estatal no governo anterior.
Negativas
Paulo Octávio nega categoricamente qualquer vinculação no esquema apontado na Operação Caixa de Pandora. O vice-governador disse que não aceita o uso de seu nome em negociações envolvendo contratos do GDF e garante que não existe qualquer gravação na qual é exposto a algum tipo de irregularidade. Ricardo Penna e Giffoni afirmam serem vítimas de uma vingança organizada por Durval para denegri-los, uma vez que teriam adotado providências para retirar do ex-presidente da Codeplan a ingerência sobre os contratos de informática. O sócio-proprietário da Linknet, Gilberto Lucena, também nega as acusações.
Exoneração dificultada
Durval Barbosa deverá apresentar hoje uma licença médica para
se afastar sem prejuízo da função de secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal. O atestado foi assinado por um médico na última quinta-feira, um dia antes do início da Operação Caixa de Pandora, quando a Polícia Federal (PF) cumpriu 29 mandados de busca e apreensão nas casas e nos escritórios de várias autoridades públicas. De acordo com uma pessoa que tem mantido contato com Durval, ele acredita que, com o atestado médico de 15 dias, a exoneração do cargo no primeiro escalão do governo só poderá ocorrer quando vencer a licença. O governador José Roberto Arruda anunciou a exoneração de Durval na última sexta-feira, mas o ato ainda não foi publicado no Diário Oficial do DF devido ao feriado de ontem. (AMC)
Veja o vídeo da conversa entre Durval Barbosa e um dos proprietários da Linknet, Gilberto Lucena


OAB vai votar pedido de afastamento

Estefânia Viveiros, com o presidente nacional da OAB, Cezar Britto: 45 advogados votarão na quinta-feira

Em reunião com a presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção DF, Estefânia Viveiros, o presidente nacional da OAB, Cezar Britto, garantiu apoio à abertura do processo que examinará o pedido de afastamento do governador José Roberto Arruda (DEM) e do vice-governador Paulo Octávio (DEM). A palavra final será dada pelo Conselho Pleno da OAB-DF, formado por 45 advogados, que irão votar na próxima quinta-feira o parecer a ser preparado pelo advogado João Pedro Ferraz dos Passos, designado relator do caso. “Estamos todos decepcionados com as imagens que vimos. É preciso tomar providências enérgicas para que os políticos deixem de ver a coisa pública como se privada fosse”, afirmou Cezar Britto.
Segundo a OAB, o governador e integrantes do governo poderão ser alvo de afastamento por violação ao Artigo 74 da Lei nº 1.079/50, que trata do crime de responsabilidade, e pelo Artigo 103, II, da Lei Orgânica do DF. Esta última prevê que a competência para examinar o processo de afastamento, caso aprovado, é da Câmara Legislativa do DF. Estefânia Viveiros explicou que os deputados distritais citados na Operação Caixa de Pandora — oito dos 24 — deverão se considerar impedidos de julgar o pedido, caso este seja aprovado pela OAB-DF. Nessa hipótese, apenas 16 distritais participariam do julgamento. São necessários votos de dois terços dos deputados para afastar o governador.
O presidente nacional da OAB pediu ontem o apoio da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o processo que deverá ser deflagrado pela entidade. Não é a primeira vez que a OAB toma uma providência como essa. A entidade pediu impeachment do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, do ex-governador de Santa Catarina Paulo Afonso (PMDB) e do ex-presidente Fernando Collor.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, disse ontem ao Correio que os fatos são muito graves. “Não tenho dados para fazer uma avaliação. Porém, acho que os fatos que estão sendo revelados são extremamente graves e necessitam de investigação com todo o rigor”, observou. Para o presidente da mais alta instância do Poder Judiciário, os próximos dias ditarão os rumos dos acontecimentos. “Vamos deixar as investigações aprofundarem, pois os próximos dias serão decisivos. Os fatos (vídeos e gravações) são graves e atingem os poderes Executivo e Legislativo”, afirmou.
Em nota, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) exigiu ontem que as graves denúncias contra integrantes do governo e parlamentares do DF sejam apuradas e, uma vez confirmadas, os eventuais culpados sejam exemplarmente punidos. (AMC)


Quebra de decoro contra oito deputados distritais

Samanta Sallum - Luisa Medeiros

CAIXA DE PANDORA
Câmara abre processo contra parlamentares citados nas denúncias de pagamento de propina. Presidente da Casa reconhece caixa dois

Leonardo Prudente tenta se explicar: segundo ele, dinheiro escondido no paletó e na meia era doação de campanha não contabilizada

Leonardo Prudente
Numa tentativa desesperada de reagir diante da avalanche de denúncias que recaem sobre os deputados distritais, a Mesa Diretora da Câmara Legislativa decidiu abrir processo para apurar a quebra de decoro parlamentar. Os oito deputados citados, incluindo o próprio presidente da casa, Leonardo Prudente (DEM), e outros dois suplentes vão ser alvo de representação que pode levar à perda de mandato. Todos serão notificados hoje e terão 15 dias para apresentar defesa à Comissão de Ética, presidida pelo deputado Bispo Renato (PR), que até agora não é alvo de denúncias.
Apesar de pressionado por colegas a se afastar da presidência, Prudente afirmou ontem que não deixará o cargo. O que torna a atuação da Mesa Diretora, na qual faz parte, no mínimo amarrada. O vice-presidente da Câmara, deputado Cabo Patrício (PT), no entanto, garante que Prudente ficará fora das decisões sobre o assunto. Foi decidido que estará vedada a presença dele nas reuniões que tratarão da quebra de decoro.
Ficará a cargo de Cabo Patrício (PT) conduzir o processo. “As representações já estão ficando prontas para que o mais rápido possível os deputados envolvidos sejam notificados”, disse Patrício. “Vamos distribuir hoje cópias do inquérito aos 24 deputados distritais”, completou. O vice-presidente da Câmara defende que o recesso de fim de ano seja suspenso, para não interromper o processo de apuração. “Minha proposta é que a Lei Orçamentária Anual seja votada apenas no dia 2 de fevereiro. Assim, não vamos interromper o trabalho até lá”, sustenta.
Durante uma hora e quarenta minutos de reunião, os cinco membros de mesa diretora tentaram convencer Prudente a se afastar da presidência. Estratégia que foi rejeitada pelo próprio e também por seus assessores. Prudente aguardava ainda a posição do governador Arruda. A maior preocupação do DEM era deixar a vaga para um petista. Na avaliação de assessores, com o afastamento de Prudente, Cabo Patrício assumiria a presidência e poderia abrir CPIs contra o governo.
Chantagem
Prudente, que aparece em vídeo gravado por Durval Barbosa recebendo maços de dinheiro e os escondendo até nas meias, só conseguiu permanecer por cinco minutos na entrevista coletiva que ele mesmo convocou, na tarde de ontem. Alvejado por perguntas, foi breve. Sem conseguir disfarçar a tensão, admitiu ter recebido o dinheiro de Durval, a fonte das denúncias. As cenas foram gravadas durante a campanha eleitoral de 2006. “Estou afirmando que recebi. Quero informar que eu fui vítima de chantagem. Me foi oferecida ajuda financeira em dinheiro para a campanha política em 2006. Coloquei o dinheiro nas minhas vestimentas em função da minha segurança. Eu não uso pasta”, disse, não revelando o nome da pessoa que o estaria chantageando.
O deputado não soube dizer quanto dinheiro foi entregue a ele. “Essa doação não foi contabilizada”, declarou. Indagado sobre o crime eleitoral que supostamente teria cometido à época por aceitar doação em dinheiro vivo, o distrital afirmou que caberá à Justiça decidir o que é crime ou não. E negou a possibilidade de deixar o cargo. “A gestão da Casa não esta sendo questionada. Não há motivo para afastamento”, sustentou. Prudente disse ainda que concordou com a decisão da Mesa Diretora, a qual participou, de abrir processo contra os deputados envolvidos, incluindo ele próprio.
Entre os membros da mesa diretora que participaram da reunião estava o deputado Milton Barbosa (PSDB), irmão do autor das denúncias. Ex-secretário de assuntos institucionais do governador Arruda, Durval gravou a partilha de dinheiro. Milton evitou a imprensa. Para os colegas deputados, afirmou que não sabia de nada e que há dias não falava com o irmão.
Amanhã, às 14h, a liderança do PT promete protocolar na mesa diretora o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra o governador José Roberto Arruda devido às denúncias de que ele teria recebido e orientado o repasse de dinheiro recolhido irregularmente de empresas.
Outros caminhos
Deputados distritais do DEM que não aparecem nas acusações estão apreensivos sobre que caminho tomar. O secretário de Habitação, Paulo Roriz, aguarda a posição oficial do partido para decidir se voltará à Câmara Legislativa. Chegou ontem a redigir a carta de exoneração do presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab), José Naves, que aparece entre os acusados. Mas não levou adiante a medida por depender de posição do governador Arruda.
A deputada Eliana Pedrosa (DEM), também secretária de governo, não se manifestou. O deputado distrital Rogério Ulysses, vice-presidente regional do PSB, é citado em conversas, mas não aparece em vídeos. Ele defendeu que seu partido apure o caso, mas garantiu não temer denúncias. Ontem, o PSB abriu processo de expulsão contra ele. Joe Valle, presidente da Emater, que também é do PSB, está deixando o cargo no GDF hoje.
Estou afirmando que recebi. Me foi oferecida ajuda financeira em dinheiro para a campanha política em 2006. Coloquei o dinheiro nas minhas vestimentas em função da minha segurança. Eu não uso pasta”
Leonardo Prudente (DEM), presidente da Câmara Legislativa
O número
15 dias
Prazo que os deputados processados por quebra de decoro terão para apresentar sua defesa à Comissão de Ética da Câmara Legislativa


Os investigados

A Câmara Legislativa é representada por 24 deputados. Destes, oito estão sendo investigados. Dois suplentes também são suspeitos de participar do susposto esquema de corrupção. Confira quem são:

Deputados
Leonardo Prudente (DEM), presidente da Câmara Legislativa
Rogério Ulysses (PSB), vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa
Benício Tavares (PMDB), ex-presidente da Câmara Legislativa
Benedito Domingos (PP), ouvidor da Câmara Legislativa
Júnior Brunelli (PSC), corregedor da Câmara Legislativa
Eurides Brito (PMDB), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e vice-presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Ciência, Tecnologia, Turismo e Meio Ambiente
Rôney Nemer (PMDB), integrante das Comissões de Constituição e Justiça e de Meio Ambiente e Turismo

Licenciados
Aylton Gomes (PMN), atual administrador de Planaltina

Suplentes
Pedro do Ovo (PRP), suplente de Ayton Gomes
Berinaldo Pontes (PP), suplente de Benedito Domingos

Empresário denuncia outro suposto esquema
Luísa Medeiros

Valmir Amaral: “Tem corrupção forte dentro da Câmara”

Enquanto os jornalistas aguardavam o início da entrevista coletiva do presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente, o ex-senador e empresário do ramo de transporte Valmir Amaral denunciou à imprensa mais um suposto esquema de corrupção envolvendo parlamentares distritais. Ele acusou os deputados da Casa — citando os nomes de Eurides Brito e Leonardo Prudente — de receberem R$ 1 milhão para alterar o texto da Lei nº 1.245/09, a lei do Passe Livre. Com isso, o subsídio mensal pago pelo governo às empresas de ônibus passaria de R$ 4 milhões para R$ 8 milhões. O ex-senador afirmou ainda que os políticos receberam mais R$ 600 mil para derrubar os vetos do governador José Roberto Arruda às emendas parlamentares. A lei foi aprovada em 30 de junho deste ano.
Aparentemente transtornado, Amaral dizia aos berros na sala de reuniões da presidência, ocupada apenas por jornalistas, que existe um esquema de corrupção dentro da Câmara Legislativa. “Tem corrupção forte dentro da Câmara. Eu sou homem para falar na cara e vim aqui para fazer isso. É por isso que ele (Leonardo Prudente) ainda não apareceu até agora”, gritou, referindo-se ao fato de a coletiva do presidente ter começado com atraso de 1h40min.
Ele afirmou que empresários do setor, como Wagner Canhedo Filho e Victor Foresti, e um presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público do DF, que não revelou o nome, teriam repassado o dinheiro aos distritais, no semestre passado, em troca de emendas que ampliariam a aplicação do benefício da gratuidade no transporte público. Além de atender os estudantes da rede pública de ensino, os portadores de necessidades especiais também seriam contemplados com a alteração.
De acordo com o ex-senador, representantes do sindicato da categoria foram à Câmara conversar com os deputados sobre as mudanças que deveriam ser feitas no texto da lei. “Foi pedido R$ 1 milhão para incluir no texto o transporte dos paraplégicos”, afirmou. Ele disse que sua empresa de ônibus, que faz parte do Grupo Amaral, foi escalada para pagar R$ 170 mil aos políticos. “Eu não dei o dinheiro. Minha parte era R$ 170 mil e eu não dei.” Segundo Amaral, um presidente do sindicato entregou o dinheiro para Eurides Brito e Leonardo Prudente, entre outros políticos que não identificou.
Apesar do pronunciamento enfático Valmir Amaral não apresentou provas que confirmassem as denúncias feitas por ele. O Correio tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de Transporte, mas não teve retorno até o fechamento da edição.


Vídeos têm até oração da propina

Daniela Lima

CAIXA DE PANDORA
Imagens gravadas em gabinete do anexo do Buriti mostram Leonardo Prudente e Brunelli rezando em agradecimento a Durval Barbosa

Durval, Prudente e Brunelli: versão oficial é de que reza seria pela saúde do ex-secretário
Para os deputados distritais Leonardo Prudente (DEM) e Júnior Brunelli (PSC), a fé e a política sempre caminharam lado a lado. Filho do fundador da Casa da Bênção, não raro Brunelli adentra o plenário da Câmara Legislativa com uma Bíblia debaixo do braço. Prudente, presidente da Câmara Legislativa, é figura cativa em encontros de igrejas evangélicas. Muito ligado ao bispo Robson Rodovalho, deputado federal pelo Democratas e fundador da comunidade evangélica Sara Nossa Terra, o distrital frequenta templo da igreja em Brasília. No dia de ontem, no entanto, os dois apareceram em cenas de uma oração polêmica.
No vídeo, uma das produções de Durval Barbosa, o ex-secretário do governo do DF com participação determinante da explosão da Operação Caixa de Pandora, Brunelli e Prudente pedem a Deus pela vida do homem que detonou uma das maiores crises da capital. É que a gravação em que protagonizam a tal prece não é a única em que os dois aparecem. Brunelli e Prudente também foram filmados recebendo dinheiro — segundo eles, recursos destinados à campanha eleitoral em 2006 — no gabinete de Durval na Codeplan, em 2006.
Nessas cenas, Brunelli enfia um gordo maço no bolso e Prudente, que acabou recebendo uma quantia maior, chega a esconder notas nas meias. “Somos gratos pela vida do Durval, instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade, porque o Senhor contempla a questão no seu coração. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele. Nós precisamos da tua cobertura e dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar nesta guerra”, pede Brunelli na oração.
A combinação das imagens fez com que o secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), Dimas Lara Barbosa, se dissesse “perplexo”. “Lamento que a religião esteja tão banalizada, a tal ponto de as pessoas não a verem como serviço a Deus e ao próximo, mas como servir-se da fé e do próximo”, afirmou. Na Câmara, o vídeo causou mal-estar entre os parlamentares e agravou a crise no Legislativo. Um café da manhã que estava marcado para hoje foi cancelado. Nele, seriam distribuídos os gabinetes da nova sede, em fase final de construção à beira do Eixo Monumental. A sessão que aconteceria à tarde, também foi cancelada. Os parlamentares preferiram marcar uma reunião que contará com a presença dos 24 distritais.

Explicações
Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa de Júnior Brunelli informou que a mídia está criando um “equívoco”. “São dois momentos distintos. A oração aconteceu em outro contexto, diferente da gravação anterior (quando Brunelli sai do gabinete de Durval com dinheiro no bolso). Durval Barbosa havia dito que estava com problemas pessoais, com a família, e foi por isso que eles oraram por ele”, informou a assessoria. Sobre os valores arrecadados junto ao ex-secretário do GDF, Brunelli preferiu não se manifestar. “O deputado não recebeu oficialmente nem o inquérito, nem as gravações. Ele só falará sobre citações formais, periciadas e que estejam dentro da investigação”, ressaltou.
Já Leonardo Prudente preferiu não comentar a oração. Mas, em coletiva, falou sobre o dinheiro que pegou com Durval. Disse que tratava-se de recursos para a campanha e que colocou maços no que preferiu chamar de “vestimentas” por questões de segurança, já que não tem o costume de usar pastas ou outros acessórios do tipo.


Bênção

Em um dos vídeos gravados por Durval Barbosa, os distritais Leonardo Prudente (DEM) e Júnior Brunelli (PSC) se abraçam e oram durante o encontro. Confira alguns trechos:
“Pai, eu quero te agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. Somos gratos pela vida do Durval por ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade, porque o Senhor contempla a questão no seu coração. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele. Nós precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar nesta guerra. Todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, todas as nossas atividades, mas o Senhor nunca falha. O Senhor tem pessoas para condicionar e levar o coração para onde o Senhor quer. A sentença é o Senhor quem determina, o parecer e o despacho é o Senhor que faz acontecer. Nós precisamos de livramento na vida do Durval, dos seus filhos, familiares.”


PPS, PSB e PDT entregam cargos

LILIAN TAHAN - DANIELA LIMA

O distrital Alírio Neto deixará a Secretaria de Justiça e Cidadania

Já o deputado federal Augusto Carvalho sairá da Secretaria de Saúde

Três partidos confirmaram ontem que estão de saída da base de apoio ao governo de José Roberto Arruda (DEM). PPS, PSB e PDT entregaram os cargos que mantém no GDF. A direção nacional do PSDB recomendou a seus filiados com assento na administração local que deixem seus postos. A decisão dos partidos de desembarcar da base aliada foi tomada em reuniões dos diretórios regionais.
O PDT foi um dos que comunicaram ontem o desligamento oficialmente e já fala em lançar candidatura própria. Ontem, representantes do partido, que até a última sexta-feira tinha três assentos no segundo escalão do governo (Marcelo Aguiar na secretário de Educação Integral, Israel Baptista como secretário-adjunto de Trabalho e Edilson Barbosa como gerente de Escolas Técnicas), mobilizaram meia dúzia de manifestantes para protestar em frente à Residência Oficial de Águas Claras. E o senador da legenda Cristovam Buarque (PDT) engatou a ideia de candidatura própria.
O PPS, cujo presidente regional, Fernando Antunes, está envolvido nas denúncias apresentadas por Durval Barbosa à Polícia Federal na Operação Caixa de Pandora, também optou por deixar a base governista. “Não foi uma decisão simples entre ficar ou deixar o governo. Chegamos à conclusão, que não há mais condições de governabilidade”, afirmou Antunes, que até então era o subsecretário de Saúde. O partido resistia à ideia de deixar a base de Arruda. Argumentava que, se a legenda abandonasse o barco, seria uma espécie de admissão de culpa nas denúncias que esbarram em integrantes da agremiação. “Vamos procurar um advogado e nos defender”, afirmou o presidente regional da sigla. Outro que vai entregar o cargo é o secretário de Saúde, Augusto Carvalho. Alírio Neto também deixará a Secretaria de Justiça e Cidadania.

Emater
Outro partido que resolveu se descolar do governo é o PSB do deputado federal Rodrigo Rollemberg. Na semana passada, com a nomeação de Joe Valle à frente da Emater, o partido dava um passo para consolidar a aproximação ao governo. Mas ontem confirmou oficialmente o desvínculo. “Vamos exigir que ele entregue o cargo. Não há a menor hipótese de uma parceria diante das atuais circunstâncias”, afirmou o deputado Rollemberg. O PSB abriu um processo interno para apurar a participação do distrital Rogério Ulysses no suposto esquema de corrupção apontado pela Polícia Federal. Ulysses sempre foi considerado um distrital da base de apoio ao governo na Câmara Legislativa, mas agora corre o risco de perder o partido.
Os tucanos também aderiram à revoada de legendas que se empenham em criar aparente distância do Democratas, agora que o partido passa por uma crise no DF. Ontem, a direção do PSDB — principal parceiro do DEM no projeto nacional da sigla em 2010 — anunciou uma “recomendação” de afastamento de seus filiados que ocupam cargos no governo, como o secretário de Obras, Márcio Machado. A decisão foi tomada na tarde de ontem. “Se os membros do partido não cumprirem a recomendação, é evidente que podemos tomar outras medidas”, afirmou o vice-líder dos tucanos no Senado, Álvaro Dias (PR).
Colaboraram
Naira Trindade e Raphael Veleda


TJ de olho na investigação

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) divulgou ontem nota oficial em que sustenta estar acompanhando o desenrolar da Operação Caixa de Pandora, deflagrada na última sexta-feira pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal, com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ). De acordo com a nota, o TJDFT está “com a mente volvida para a Constituição Federal e as leis do Brasil, os acontecimentos envolvendo os poderes constituídos do Distrito Federal”.
No texto, o tribunal afirma que todas as denúncias até agora apreciadas pelo Conselho Especial do TJDFT contra o ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa foram recebidas e transformadas em processos criminais. “Nesse sentido, com serenidade e seriedade, o Poder Judiciário local cumprirá rigorosamente a Carta Magna”, acrescentou a direção do TJDFT

ICS
O chefe da Casa Civil afastado, José Geraldo Maciel, enviou ao Correio um esclarecimento a respeito de referências suas ao desembargador Cruz Macedo, do TJDFT, em conversas com Durval gravadas com autorização do STJ. Maciel disse que repudia com firmeza a “torpe tentativa” de Durval de vincular a sua conversa com o desembargador ao processo que ele responde no TJDFT por desvios de recursos dos contratos da Codeplan com empresas de informática, por meio do Instituto Candango de Solidariedade (ICS). “Jamais conversei com o desembargador Cruz Macedo sobre Durval. O desembargador é magistrado honrado e digno e não permitiria, por sua postura ética, qualquer conversa sobre o processo”, diz a nota divulgada por Maciel. (AMC)

PF cumpre mandatos de busca e apreensão na Câmara Distrital do DF

Agentes da Polícia Federal (PF) de Brasília cumprem na manhã de hoje mandados de busca e apreensão expedidos pelo ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), na Câmara Legislativa do Distrito Federal. De acordo com a corporação, os processos correm em segredo de Justiça e não há informações do total de mandados nem o motivo da operação. Não há mandados de prisão, informou a PF.

Leia mais em: PF realiza buscas na Câmara Legislativa do DF

A volta de Roriz

Deu no Correio Braziliense

O ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) inaugurou ontem seu escritório político no Setor de Indústrias, numa festa com jeito de comício, que reuniu antigos aliados. A assessoria do peemedebista montou um palanque em frente ao prédio e houve vários discursos. Com o peso das autoridades, o palco afundou. Muitos políticos se sentiram constrangidos durante o ato. Foi o caso da deputada Eurides Brito (PMDB), líder do governo na Câmara Legislativa, que recebeu uma vigorosa vaia dos rorizistas. Outros peemedebistas como o deputado Tadeu Filippelli, o presidente da Brasiliatur, Rôney Nemer, e o senador Gim Argello (PTB), que assumiu o mandato com a renúncia de Roriz em 2007, também foram vaiados.

Contra ataque demoníaco

O governador José Roberto Arruda prepara um contra ataque do DEM contra as pretenções do PMDB de Joaquim Roriz de tomar-lhe o cargo.

No aniversário de 50 Anos da fundação de Brasília, Arruda pensa grande: U2 de graça, no mesmo local ondo o Capital Inicial arrasou ano passado.

Vai ser briga de cachorro grande.

Joaquim Roriz prepara retorno à política

O ex-senador Joaquim Roriz (PMDB) vai lançar sua candidatura ao governo do Distrito Federal até outubro. Está feliz com uma pesquisa em mãos.

... e Estêvão

O retorno vai ser do barulho. Sabem quem é o candidato ao Senado da chapa de Roriz? Luiz Estêvão, o ex-senador que já foi preso pela PF.

Ai, ai, ai

Por essa a presidenciável Dilma Rousseff (PT) não esperava: ter o palanque do PMDB em Brasília com a dupla supracitada.

Fonte: Correio Braziliense.

A situação do entorno da Rodovária de Brasília é calamitosa

O centro comercial da capital do Brasil a noite é um perigo. A secretaria de Segurança Pública tem que mapear o perímetro do crack na região.

Drogas, o combustível do abuso


Erika klingl (texto) e Iano Andrade (fotos)

Em terceira reportagem, o Correio revela hoje que é direta a relação entre a exploração sexual de crianças e o uso de entorpecentes. Há meninas que utilizam crack e ecstasy para agüentar os programas em que ganham R$ 3. Outras, já viciadas, fazem sexo para financiar a compra de alucinógenos

O consumo de drogas é tão banalizado que ocorre durante o dia e ao lado dos passageiros

Meninos se juntam nos arredores do terminal para “matar a fome” e espantar o frio cheirando solvente e bebendo cachaça

Rafaela, de 15 anos, está constantemente drogada. Fuma crack antes de ir para o viaduto localizado ao lado do Conic. Lá, é abordada por homens interessados em sexo. O pouco dinheiro que recebe é todo usado no sustento do vício e acaba nas mãos de traficantes que fazem ponto na própria rodoviária. É o mesmo dinheiro que alimenta o vício de meninos e meninas de rua no centro da capital do país. O consumo de drogas ocorre à luz do dia. Na última segunda-feira, quando a reportagem do Correio esteve na rodoviária, adolescentes estavam reunidos do lado norte da plataforma inferior para cheirar cola. O relógio marcava 17h.

Como boa parte dos meninos de rua, assim que recebe os trocados da madrugada, Rafaela compra mais droga. Por isso, está sempre com fome e com a mesma muda de roupa. “Só vou para a pista noiada. Se não for assim, não dá para transar com ninguém”, resume a adolescente. Estar noiada é o mesmo que transtornada pelo uso da droga. Essa alucinação voluntária é fundamental para que a adolescente agüente a tortura que é a exploração sexual. “Tem menina que diz que gosta do programa às vezes. Eu nunca gostei.”

Nas duas vezes em que falou com a reportagem do Correio, uma delas no fim da manhã de segunda-feira, ela havia consumido crack. Em vários momentos, as palavras se perdiam no meio do relato, indicando falta de concentração. Mas o que mais chamava a atenção eram as marcas do uso do crack na menina. O rosto frágil estava cheio de queimaduras, principalmente ao redor dos lábios já inchados devido à quantidade de machucados provocados pelo cachimbo feito de latinha de refrigerante.

O crack é apenas uma das drogas usadas por Rafaela, que veio de Tocantins há menos de um ano e desde então mora na rodoviária e é vítima de exploração sexual. Assim como os parceiros de rua, ela consome o que aparecer. Mas faz questão de ressaltar que existem preferências. Se um abusador oferece ecstasy ou cocaína durante o programa, ela e boa parte das adolescentes nem cobram pelo sexo. “Eles dão ecstasy para a gente porque aí eles conseguem qualquer coisa e a gente nem se lembra”, resume Rafaela.

Solvente e álcool
No caso dos meninos, além do crack, o que mais faz a cabeça são o solvente e o álcool. Iuri, também de 15 anos, entra nos carros dos exploradores que oferecem cachaça. O menino bebe todos os dias e está quase sempre alcoolizado e “noiado” pelo crack. “Gosto de usar essas coisas porque não sinto frio e nem medo”, comenta. Iuri é de Santo Antônio do Descoberto (GO) e está ameaçado de morte pelos traficantes que fazem ponto no Setor Bancário Sul. O menino, que vive à margem das leis de proteção da infância, sabe que a regra das ruas é cumprida ao pé da letra. “Recebo 10 pedras dos caras. São nove para vender e uma para mim”, conta. O problema é que, em um dia sem movimento, o menino não resistiu e acabou usando a cota do traficante. “Saio com os homens para arranjar dinheiro. Ou eu pago ou eu apanho até... sei lá.”

A relação das drogas com a rua é cruel. “Já fui para a pista obrigada por traficantes que escolheram até o carro em que eu devia entrar”, diz Tatiana, de 16 anos. Nesse dia, o explorador percebeu que a garota entrou obrigada e pagou ainda menos. Em vez dos R$ 15, ela recebeu R$ 5. A adolescente tem medo de uma traficante que já foi como ela. O medo impediu, inclusive, que ela falasse o nome da mulher que, antes de vender drogas, foi abusada e explorada sexualmente. “Melhor ficar quieta porque já rolou sujeira demais.”

Tatiana é explorada sexualmente na rodoviária desde abril. Antes morava com a mãe e o padrasto em Águas Lindas (GO). Nunca tinha usado drogas e freqüentava a escola todos os dias. Depois de sofrer com a violência doméstica, fugiu e não voltou. “Minha mãe já desistiu de mim porque gosta mais do marido dela”, conta. A violência sexual na família ou nas proximidades de casa é um dos motivos para que as meninas e meninos fujam rumo à rodoviária em busca de uma falsa liberdade. Há dois dias, o Correio denuncia histórias como a de Tatiana, Iuri e Rafaela. São meninos e meninas que sofrem na mão de pedófilos no coração de Brasília por R$ 3 ou R$ 10.

Na primeira reportagem, o jornal contou a violência praticada contra crianças com menos de 10 anos. As meninas vendem balas e chicletes e acabam fazendo sexo oral em homens que trabalham no local ou usam a rodoviária diariamente. Na segunda matéria, o Correio contou o sofrimento de meninos com idades entre 14 e 17 anos que sofrem com o abuso e a exploração sexual em troca de comida, roupas ou poucos reais.

*O nome de todos os personagens foi trocado em respeito à proteção dos direitos das crianças e adolescentes

“Só vou para a pista noiada. Se for diferente, não dá para transar com ninguém

Eles dão ecstasy para a gente porque aí eles conseguem qualquer coisa e a gente nem lembra

Gosto de usar essas coisas (drogas) porque não sinto frio e nem medo

Saio com os homens para arranjar o dinheiro dos traficantes. Ou eu pago ou eu apanho muito

Melhor eu ficar quieta porque já rolou sujeira demais”

Fonte: Correio Braziliense.

A denúncia arranhou a imagem do único governador do DEM

Definido o pacote de ações emergenciais

Lúcio Costi (textos) e José Varella (fotos)

Após as reportagens do Correio, governo local cria subadministração com a missão de tomar conta da área central da cidade. Titular será o coronel Pedro Paulo Teixeira. Secretarias de Desenvolvimento Social e de Segurança Pública vão trabalhar integradas no prédio do Touring

Na manhã de ontem, antes da chegada dos representantes do estado, era fácil encontrar pessoas sob efeito de drogas na plataforma inferior


O Governo do DF resolveu ocupar a Rodoviária do Plano Piloto. O governador José Roberto Arruda anunciou a criação de uma subadministração com a missão específica de cuidar da área central da cidade. A nova pasta ficará sob o comando do coronel Pedro Paulo Teixeira, que deixa a coordenação do programa Cidade Limpa. Arruda extingüiu a administração da rodoviária e demitiu o até então titular, Ivaldo Diniz. Neste fim de semana, o GDF começa a veicular a Campanha de Cidadania, que terá anúncios em jornais e emissoras de rádio e TV contra a exploração sexual e o trabalho de crianças.

Além disso, as duas plataformas passarão por reformas estruturais e haverá ações integradas das secretarias de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) e de Segurança Pública. As medidas emergenciais foram anunciadas depois que o Correio começou a publicar uma série de reportagens que mostra a exploração sexual de crianças e adolescentes na rodoviária. A central de comando dessa força governamental será o prédio do Touring Club.

No mesmo local ficarão os agentes da Sedest, os fiscais da Agência de Fiscalização do DF responsáveis pela região, a 7ª Companhia de Policiamento Militar Independente e a 5ª Delegacia de Polícia, que atualmente funciona em salas alugadas no Setor Bancário Norte (SBN).

Ontem de manhã, durante evento na Novacap para a entrega de 208 medalhas a personalidades consideradas relevantes para o progresso do DF, José Roberto Arruda citou as reportagens do Correio. “O poder público tem que estar presente não só com polícia, mas atuando nas causas.” O governador também se mostrou preocupado com a presença de carros de luxo alimentando o mercado da prostituição. “A degradação não é apenas nas camadas inferiores. Há também degradação em certa camada social que tem recursos. Aquele carro flagrado em atitude suspeita pelo jornal, nós temos que ir atrás do condutor, pois não existe prostituição sem prostituidor”, sentenciou, em referência ao Mercedes prateado fotografado pelo Correio abrindo as portas a um menino de rua. A foto foi publicada na edição de ontem.

O poder público tem de estar presente não só com polícia, mas atuando nas causas

José Roberto Arruda, Governador do DF

Colaboraram Raphael Veleda e Lívia Nascimento para o Correio Braziliense.

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